Asterhttps://fediverse.blog/@/Aster@amplifi.casa/atom.xml2024-01-02T15:05:50.232908+00:00<![CDATA[Por que eu escolhi os pronomes que escolhi pra mim?]]>https://amplifi.casa/~/Asterismos/Por%2520que%2520eu%2520escolhi%2520os%2520pronomes%2520que%2520escolhi%2520pra%2520mim%253F/2024-01-02T15:05:50.232908+00:00Asterhttps://amplifi.casa/@/Aster/2024-01-02T15:05:50.232908+00:00<![CDATA[<ol dir="auto">
<li>
<p dir="auto">Eu não gosto da ideia de usarem ela ou ele pra mim. Sei que nem toda pessoa que usa tais pronomes é binária, mas sinto que muitas pessoas binárias gostam de poder ignorar a não-binaridade das pessoas por meio do uso de tais pronomes.</p>
</li>
<li>
<p dir="auto">Eu não gosto muito de pronomes com som fechado pra se referir a mim. Acho que isso pode ter a ver com eu ser lichtgênero: meu gênero é forte e brilhante, não algo a ser escondido. Então não me parece ideal se referir a mim com pronomes como ulu, ilê, yl, etc.</p>
</li>
<li>
<p dir="auto">Também não gosto da ideia de que se refiram a mim com algo que é neutro no sentido de ser o mesmo pronome que a pessoa usa para se referir a desconhecides. Novamente, meu gênero não é ambíguo ou desconhecido. Este é um dos motivos pelos quais não me sinto confortável com elu (ou suas variações) ou com ile.</p>
</li>
<li>
<p dir="auto">Dito isso, eu não me importo tanto com <strong>elx</strong> (que pronuncio como el). Talvez porque nunca tenha sido usado como neutro de forma tão abrangente, talvez pela letra X parecer ser ativamente uma marcação contra a linguagem binária de uma forma que elu não parece ser: pensem em <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/genderqueer/" rel="noopener noreferrer">genderqueer</a> versus <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/aporagenero/" rel="noopener noreferrer">aporagênero</a>. Mesmo assim, elx é um dos pronomes que aceito que menos gosto, e um dos principais motivos de eu aceitar -/elx/x como um dos meus conjuntos é praticidade (de pessoas com dificuldade em usar -/eld/e, mesmo que seja praticamente a mesma lógica), não identificação profunda.</p>
</li>
<li>
<p dir="auto"><strong>Éli</strong> também é um pronome que não gosto tanto, mas que tem gente que prefere usar pra mim porque é “mais intuitivo” em comparação aos meus outros pronomes, especialmente em relação à pronúncia. Considero também que éli talvez represente melhor meu lado <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/nonpuerella/" rel="noopener noreferrer">inavire</a>: é uma mistura dos sons de ele e ela, mas a grafia fica completamente diferente.</p>
</li>
<li>
<p dir="auto"><strong>Eld</strong> foi um pronome que inventei ao pensar em algo que seguisse o modelo E + L + outra letra, especialmente pensando em algo entre A e E no alfabeto. Na época, eu me via como <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/fisgenero/" rel="noopener noreferrer">fisgênero</a> homem/mulher. Depois disso, eld também passou a refletir minha vontade de sair da ideia de pronomes convencionais, justamente por não parecer uma palavra da língua portuguesa.</p>
</li>
<li>
<p dir="auto"><strong>Elz</strong> é um pronome parecido com elx e eld em conceito, mas que tem uma pronúncia mais intuitiva.</p>
</li>
<li>
<p dir="auto"><strong>Ael</strong> é mais recente. E eu tenho um pouco de medo de usarem como munição pra me maldenominar, pelo pronome conter a letra A. Mas também sei que poucas pessoas vão se importar em usar esse pronome pra mim, já que ele também foge das estruturas às quais pessoas que usam ela/ele/elu/ile estão acostumadas.</p>
</li>
<li>
<p dir="auto">⭐ e 🎲 não são pronomes que uso de forma muito ativa: eles foram pensados mais num contexto de quais emojis eu usaria como pronomes. Tanto estrelas quanto dados são padrões que gosto muito desde ao menos a adolescência. Também são ambos símbolos de sorte, o que tem uns significados pessoais pra mim. Finalmente, meu nome é Aster, que significa estrela.</p>
</li>
</ol>
<p dir="auto">Informações sobre o resto dos meus conjuntos de linguagem pessoal podem ser conferidas <a href="https://starrypride.neocities.org/conjuntos" rel="noopener noreferrer">aqui</a>.</p>
]]><![CDATA[Livros que li recentemente]]>https://amplifi.casa/~/Asterismos/Livros%20que%20li%20recentemente/2023-05-20T19:28:42.396622+00:00Asterhttps://amplifi.casa/@/Aster/2023-05-20T19:28:42.396622+00:00<![CDATA[<p dir="auto">Meu celular foi para o conserto recentemente, e ainda que eu tenha me recusado a pagar quase 3000 reais para que trocassem duas placas para resolver problemas relativamente inofensivos (assim como o pessoal da assistência técnica se recusou a falar se havia algum problema grave nas placas e se não havia como só trocar alguma peça mais barata), isso me deixou dias sem me ocupar no tempo fora do computador com redes sociais, chats e AO3.</p>
<p dir="auto">No lugar disso, fiquei lendo livros, a maioria pelo meu Kobo (dispositivo leitor de e-book que não é ligado à Amazon). Estas são minhas opiniões sobre eles. Vou tentar evitar detalhes que vão além da premissa e temas.</p>
<h3 dir="auto"><a href="https://www.kobo.com/br/en/ebook/angel-radio-1" rel="noopener noreferrer">Angel Radio</a></h3>
<p dir="auto">Eu já estava no meio desse livro quando fui consertar o celular, mas terminá-lo antes de ler outros mesmo que ele não tenha me engajado tanto era uma prioridade pra mim. Eu comprei o livro por ser de alguém que eu vi em um vídeo do YouTube dissecando um livro furry extremamente racista para o qual não quero dar atenção pública (mas quem quiser pode me perguntar). Como a pessoa parecia saber do que estava falando em relação a narrativas e representatividade, resolvi ler seu livro.</p>
<p dir="auto">Angel Radio é um livro que… <a href="https://sorryjuxie.dreamwidth.org/2301.html" rel="noopener noreferrer">apreistei</a>. Num sentido bem, sei lá, 5/10.</p>
<p dir="auto">É sobre uma adolescente que sobrevive à aniquilação da maior parte da humanidade por anjos, seres que são chamados desta forma por remeterem a anjos da Bíblia. Após morar por um tempo em sua cidade vazia, ela escuta uma transmissão de rádio e decide ir atrás de outras pessoas que podem ainda estar vivas.</p>
<p dir="auto">O livro tem pouques personagens e não senti muito apego por nenhume delus. Tem vários mistérios, mas considerando que anjos são seres capazes de praticamente qualquer coisa, não há muita coisa que pode ser decifrada. Tem umas surpresas interessantes, mas isso só faz com que reler o livro seja uma atividade menos atraente.</p>
<p dir="auto">Tem umas pistas de um romance sáfico e que a personagem principal talvez seja múlti, mas eu não descreveria o livro como um romance. Pode ser interpretado como tal, mas também pode não ser.</p>
<p dir="auto">Até onde sei, fora a possível questão de interpretar certos aspectos da mitologia cristã de formas específicas e da questão de apropriação cultural por conta de um nome escolhido que provavelmente não tem a ver com a cultura da pessoa, não há nada muito ofensivo no livro. Mas também não acho que é uma história muito profunda ou cheia de representatividade.</p>
<p dir="auto">Talvez eu simplesmente não seja o público-alvo, e tá tudo bem. Mas a não ser que alguém queira muito ler histórias de terror sobrenaturais envolvendo anjos como criaturas completamente alienígenas, eu provavelmente não recomendaria o livro.</p>
<h3 dir="auto"><a href="https://www.kobo.com/br/en/ebook/lost-in-the-moment-and-found" rel="noopener noreferrer">Lost in the Moment and Found</a></h3>
<p dir="auto">Pois é, eu ainda não tinha lido o livro deste ano da série Wayward Children. Porém, eu já tinha este na lista de desejos e comprei assim que arranjei tempo pra ler.</p>
<p dir="auto">Este é o oitavo livro da série, e como todos os livros de número par, ele conta a própria história sem que esta tenha ligação com livros anteriores. LitMaF é sobre Antsy, que após escapar de uma situação abusiva da própria família vai parar em uma loja onde todes es coisas e seres que são perdides em todos os mundos aparecem.</p>
<p dir="auto">Para quem não conhece, Wayward Children é uma série sobre crianças e adolescentes que entram em Portas que es levam para mundos onde fazem parte de jornadas fantásticas, no estilo Alice ou Nárnia. Só que a série lida com as realidades das consequências após tais aventuras: tais crianças ou adolescentes são eventualmente expulses de mundos nos quais aprenderam a se encaixar, frequentemente passando anos ali e mudando profundamente em suas jornadas, só para irem parar em ambientes familiares que não entendem o que houve e que veem essa incongruência como um problema.</p>
<p dir="auto">LitMaF tem 148 páginas, então tem pouca coisa que posso falar sobre a história que não dá a impressão de ser spoiler. Eu pessoalmente gostei mais de histórias anteriores - o afastamento das gêmeas em Down Among the Sticks and Bones, a adaptação ao mundo rígido onde Lundy vai parar em In an Absent Dream e as realidades por trás da mitologia do mundo de Across the Green Grass Fields - mas é possível argumentar que Antsy é a protagonista que mais sofre e talvez isso seja mais atraente para certas pessoas.</p>
<p dir="auto">Também acho que é possível ligar a questão de consequências de trauma pesado com o preço final que Antsy paga, o que é uma ideia genial. (Mas assim, tadinha. D’:)</p>
<p dir="auto">Enfim, é um livro digno da série e já estou esperando o livro 9, que vai continuar a história terrestre da escola de Eleanor West pra onde tais crianças e adolescentes vão após suas aventuras.</p>
<h3 dir="auto"><a href="https://www.kobo.com/br/en/ebook/take-a-hint-dani-brown-1" rel="noopener noreferrer">Take a Hint, Dani Brown</a></h3>
<p dir="auto">Eu tinha esse livro faz tempo, e acho que era por causa de alguma recomendação do Tumblr. Só não sei exatamente qual era o tipo de recomendação, especialmente porque é o segundo livro de uma trilogia (mesmo que sejam todas histórias separadas). Enfim, finalmente li o livro, e gostei bastante.</p>
<p dir="auto">Ele é classificado como uma comédia romântica, e é, eu não achei ele exatamente humorístico mas consigo entender tal conclusão. A premissa é que um vídeo de duas pessoas que se consideram amizades, Dani e Zaf, vira um meme popular e que essas duas pessoas decidem fingir que são um casal por um mês pra tentar conseguir capitalizar essa popularidade em doações para ampliar um projeto do Zaf de oferecer apoio à saúde mental de atletas.</p>
<p dir="auto">Eu gosto <strong>muito</strong> da Danika. Ela é uma bruxa bissexual na academia que está lidando com a preparação de uma apresentação sobre raça e gênero em um seminário onde também vai estar uma professora que ela idoliza. Ela também tem repulsa à ideia de relacionamentos românticos por causa de trauma e portanto só vai atrás de sexo sem comprometimentos.</p>
<p dir="auto">Mas Zafir também é um personagem interessante! Ele é um segurança de prédio de faculdade e ex-jogador de rugby com ansiedade e trauma, e o livro respeita a questão de neurodivergências não serem simplesmente curadas depois de alguma epifania mas também não deixa Zaf em um estado de estar permanentemente preso em limitações por conta do neurótipo.</p>
<p dir="auto">O livro deixa explícito bem cedo que Dani não é arromântica, só alguém que acha relacionamentos românticos cheios de expectativas chatas que ela não consegue cumprir. E Zaf, mesmo apaixonado, consegue (na maioria das vezes) respeitar esses limites. É uma história adorável mas também sexual (há vários pensamentos sexuais dos dois pontos de vista e duas cenas de sexo) e com seus momentos onde as coisas não dão certo.</p>
<p dir="auto">Não é um livro que eu leria se não tivesse sido recomendado a mim, mas é um livro do qual gostei bastante.</p>
<h3 dir="auto"><a href="https://www.kobo.com/br/en/ebook/real-service-epub-1" rel="noopener noreferrer">Real Service</a></h3>
<p dir="auto"><strong>Aviso: Este é um livro de não-ficção sobre como se portar dentro de um cenário de BDSM permanente envolvendo dinâmicas de poder.</strong> Enquanto ele é mais sobre serviços que são tarefas do dia-a-dia e eu não vou falar sobre nada erótico aqui, entendo que o assunto possa ser desconfortável para algumes.</p>
<hr>
<p dir="auto">Este livro é interessante pelo quão prático ele é. Por mais que eu entendesse a premissa mesmo antes de comprar, achei que iria conter mais sobre elementos tipicamente eróticos. Porém, se alguém estiver mais interessade nisso, recomendo ir atrás de algum outro livro.</p>
<p dir="auto">Real Service é basicamente um manual de como fazer com que uma relação envolvendo os serviços permanentes de alguém funcione. Ele contém, entre outras coisas:</p>
<ul dir="auto">
<li>Motivos pelos quais alguém pode querer esse tipo de relação, com suas vantagens e desvantagens;</li>
<li>Dicas sobre o que fazer em casos de desentendimento sem que fique uma relação amarga ou desrespeitosa;</li>
<li>Avisos sobre atitudes e ações que não devem ser aceitas nesse tipo de relação (em relação a ambos os lados);</li>
<li>Listas de atividades que alguém oferecendo serviços domésticos pode oferecer em diversos níveis de complexidade (em relação a cozinhar, dirigir, marcar compromissos, limpar a casa e afins).</li>
</ul>
<p dir="auto">Também chama atenção para outras questões que podem não vir à tona quando a coisa sai de um cenário de fantasia ou de uma seção de algumas horas e passa a ser uma performance permanente. Por exemplo, o livro aponta que devem ser priorizadas as ações que pessoas querem realmente que sejam feitas dentro da relação, ao invés de focar em estereótipos de submissão que podem nem estar trazendo tanto benefício em relação ao prazer e ao trabalho que tais ações pedem.</p>
<p dir="auto">Por não estar aplicando o que tem neste livro na prática, eu não tenho como julgar o quanto dele é pertinente ou prático. Porém, ele parece ser sensato em relação a limites, foi escrito por um casal que está nesse tipo de relacionamento e é recomendado por outres praticantes de BDSM, então não acho que é uma recomendação inválida.</p>
<p dir="auto">Dito isso, o livro tem alguns problemas de linguagem discriminatória ou potencialmente problemática:</p>
<ul dir="auto">
<li>Há algumas passagens que dão a entender que alguém “com (sérios) transtornos mentais” não poderia participar de algum tipo de relação desse tipo;</li>
<li>Há pouquíssimas menções sobre a possibilidade de alguém não ser capaz de fazer certa ação, com certas ações sendo caracterizadas como essenciais ou básicas mesmo que dependentes de habilidade, capacidade ou contexto cultural. O livro comenta que em relação a tais serviços é importante informar se a pessoa não sabe/consegue fazer uma das coisas na lista, mas mesmo assim a lista de ações menciona que, por exemplo, ajoelhar-se só é uma habilidade básica caso a pessoa seja capaz disso;</li>
<li>O pronome neutro usado é <em>they</em> na maioria das vezes mas há algumas passagens onde alternam <em>he</em> e <em>she</em> explicitamente para “não especificar gênero”;</li>
<li>Passagens geralmente usam “todos os gêneros” ou “qualquer gênero” ao invés de “ambos os gêneros”, mas a única menção a pessoas cisdissidentes (incluindo não-binárias) é de uma menção a pessoas <em>transexuais</em> potencialmente tendo sentimentos complexos em relação a fazerem tarefas associadas com certos gêneros. Isso sem contar a biografia, que menciona que um dos autores é <em>FTM transgendered</em>;</li>
<li>Uma passagem fala que para alguém bissexual oferecer serviços sexuais a pessoa deve ter tido experiência sexual com mais de um gênero. A mesma passagem também deixa implícita a ideia de que pessoas não-bissexuais só possuem um “gênero não-preferido”;</li>
<li>O livro usa constantemente a palavra mestre para se referir à parte que recebe os serviços e serviçal para se referir à parte que faz os serviços. O livro também menciona escrave algumas vezes como uma das possibilidades de termos que a parte que faz os serviços pode usar.</li>
</ul>
<p dir="auto">Enquanto algumas destas coisas podem ser esperadas em um livro de 2011 sobre BDSM, isso não significa que não são avisos válidos de eu dar antes de alguém querer ler o livro por conta da recomendação.</p>
<hr>
<h3 dir="auto"><a href="https://libstore.ugent.be/fulltxt/RUG01/003/007/347/RUG01-003007347_2021_0001_AC.pdf" rel="noopener noreferrer">“It makes me, a minor, uncomfortable” - Media and Morality in Anti-Shippers’ Policing of Online Fandom</a></h3>
<p dir="auto">Esta é uma tese disponível gratuitamente sobre o policiamento via assédio e distorção de argumentos feito por antishippers, especialmente na fandom de Voltron. Enquanto eu acho que é uma boa introdução para quem não conhece muito sobre o surgimento e os problemas do movimento antishipper, a própria tese destaca que a falta de perspectivas de quem foi e deixou de ser antishipper faz falta, assim como a necessidade de pesquisa sobre como antishippers se encaixam em questões sociais maiores.</p>
<h3 dir="auto"><a href="https://www.kobo.com/us/en/ebook/elatsoe" rel="noopener noreferrer">Elatsoe</a></h3>
<p dir="auto">Ellie é uma adolescente assexual com um cão fantasma em um mundo onde existe magia e não-humanes sofontes. Ela vem de uma linhagem de mulheres Apache Lipan capazes de trazer seres mortos para o mundo físico. Um primo querido dela morre e conta pra ela em um sonho quem o matou, além de pedir para que Ellie proteja a família dele, e ela viaja para a casa da viúva dele para ajudar com essa questão.</p>
<p dir="auto">Eu gostei do procedimento da história, dos mistérios e do mundo. Não há nada na história que me pareceu ofensivo, irritante ou particularmente chato. No entanto… o livro em si também não me interessou muito. Acho que es personagens são razoavelmente escrites em relação a consistência, falhas e qualidades, mas também não teve ninguém que eu adorei ou me identifiquei muito.</p>
<p dir="auto">Não acho que este é necessariamente um problema do livro, porém. Vi que várias avaliações reclamam do quanto Ellie é infantil (às vezes também incluindo Jay, que é seu melhor amigo), mas não acho que alguém de 17 deveria necessariamente agir de forma mais madura. Uma das críticas que concordei é que às vezes parece inconsistente que Ellie e Jay tenham sido amigues pela vida inteira, visto que parecem haver mais comentários trocados que mostram o quanto não se conhecem do que comentários mostrando o que têm em comum, mas não é como se isso ocupasse muito da narrativa.</p>
<p dir="auto">Este livro é recomendado pela representação a-espectral (Ellie é explicitamente assexual e não demonstra interesse romântico em ninguém), mas fora questões como não haver foco em sexo ou romance, uma ou outra vez que a assexualidade da Ellie é trazida à tona e um ou outro comentário sobre Ellie não querer ter filhes, tal assexualidade não traz muito pra história. Não vejo problema nisso, mas se a ideia é pegar um livro com o objetivo de entender melhor pelo que pessoas assexuais passam, eu não recomendaria este.</p>
<p dir="auto">Outra coisa que acho bom avisar pra quem ler o livro é que esta é uma história que gira muito em torno de racismo e colonialismo. Questões como violência anti-indígena e processos de colonização são discutidas. Se a ideia for pegar um livro pra escapar do racismo no mundo real, também não recomendo este.</p>
<h3 dir="auto"><a href="https://www.kobo.com/br/en/ebook/the-call-out" rel="noopener noreferrer">The Call-Out</a></h3>
<p dir="auto">Por um lado, eu realmente gosto do realismo da obra. Por outro, ele acaba por ser decepcionante: não há realmente um final feliz ou trágico, cada pessoa segue a própria vida.</p>
<p dir="auto">The Call-Out é uma história contada em rimas - o que faz com que eu ache que seja mais difícil de ler para aquelus que não estão muito acostumades a ler na língua inglesa do que as outras obras citadas aqui - que conta eventos desde uma noite de ano novo até a próxima, passando por acontecimentos marcantes na vida e em relacionamentos de várias pessoas queer (sendo que a grande maioria des personagens são mulheres trans).</p>
<p dir="auto">Há reflexões sobre vantagens e problemas que comunidades queer possuem: senso de comunidade, divisão entre gerações, falta de noção de pessoas brancas acerca de questões raciais, discussões sobre como lidar com teoria progressista queermísica, tentativas de lidar com abuso que nem sempre dão certo e por assim vai.</p>
<p dir="auto">Eu não diria que é um livro pra todo mundo. Mas é interessante pra quem quer algo queer que lida com questões mais atuais e de círculos mais envolvidos com justiça social, ao invés de obras que simplesmente possuem personagens queer mais que ignoram a questão de comunidade.</p>
<p dir="auto">Pra quem for ler: aviso que o livro fala de abuso sexual e de isolamento por conta de cancelamento, tem cenas de sexo (uma das quais é coerciva) e contém instâncias de racismo e transmisia.</p>
]]><![CDATA[Respostas completas para dúvidas complexas sobre ser xenogênero]]>https://amplifi.casa/~/Asterismos/Respostas%20completas%20para%20dúvidas%20complexas%20sobre%20ser%20xenogênero/2023-02-28T23:45:14.320225+00:00Asterhttps://amplifi.casa/@/Aster/2023-02-28T23:45:14.320225+00:00<![CDATA[<p dir="auto"><em>Este texto pretende dar respostas mais completas a dúvidas que pessoas têm sobre identidades e pessoas xenogênero. Não é um texto feito para ser sucinto ou simplificado, justamente porque tal tipo de conteúdo já existe e não parece ajudar com certas dúvidas. Para quem procura algo mais básico, sugiro <a href="https://xeno-generos.carrd.co/" rel="noopener noreferrer">este carrd</a> ou os links oferecidos sob “o que é xenogênero”.</em></p>
<h3 dir="auto">O que é xenogênero?</h3>
<p dir="auto">Os textos <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/xenogenero/" rel="noopener noreferrer">desta página</a> e <a href="https://starrypride.neocities.org/textos/xenogeneros" rel="noopener noreferrer">desta</a> foram escritos por mim, e acredito que sejam bem explicativos. Mas, resumindo, em minhas próprias palavras:</p>
<p dir="auto"><strong>Xenogênero</strong> é um termo guarda-chuva para identidades de gênero que não podem ser descritas apenas a partir de comparações com gêneros binários ou com outros que podem ser definidos apenas a partir de comparações com gêneros binários, e que ao invés disso são definidos ao menos parcialmente a partir de outres estéticas, sensações, sentimentos, conceitos, objetos, formas de vida ou afins.</p>
<p dir="auto">Para exemplificar, os seguintes termos são comumente considerados xenogêneros:</p>
<ul dir="auto">
<li><a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/caelgenero/" rel="noopener noreferrer">Caelgênero</a>: um gênero associado a uma estética espacial, como estrelas, nebulosas, alienígenas, buracos negros, ou mesmo o próprio espaço.</li>
<li><a href="https://colorid.es/@termos/105759358245666019" rel="noopener noreferrer">Floragênero</a>: Um gênero que parece estar profundamente enraizado ou entrelaçado com uma ou mais espécies de plantas.</li>
<li><a href="https://colorid.es/@termos/104837234613405472" rel="noopener noreferrer">Malificae</a>: Um gênero relacionado com bruxaria. É dependente da interpretação de quem usa o termo, mas pode parecer mágico e/ou relacionado com bruxes, ter conexão com feitiços, sigilos e outros tipos de magia, e/ou parecer relacionado a uma vertente específica.</li>
</ul>
<p dir="auto">E, embora exista o conceito de <a href="https://colorid.es/@termos/106840536854786437" rel="noopener noreferrer">xengênero</a> - isto é, de que qualquer gênero pode ser experienciado como um xenogênero - aqui estão alguns exemplos de identidades que eu não consideraria parte do guarda-chuva xenogênero por padrão:</p>
<ul dir="auto">
<li><strong><a href="https://colorid.es/@termos/105391602550118172" rel="noopener noreferrer">Autonomique</a>, <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/maverique/" rel="noopener noreferrer">maverique</a> e outros gêneros definidos de forma similar:</strong> Embora suas descrições falem sobre independência, liberdade e/ou afins, estes conceitos parecem estar mais é descrevendo uma liberdade dos gêneros binários e/ou de outros em seu entorno, ao invés de gêneros compostos por tais sensações ou conceitos. Portanto, vejo estes gêneros como definíveis apenas a partir de comparações com gêneros binários. Um argumento similar pode ser feito para gêneros neutros e ambíguos.</li>
<li><strong>Gêneros afetados por experiências de vida (ex.: <a href="https://colorid.es/@termos/104011282690425878" rel="noopener noreferrer">afrogênero</a>, <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/intergenero/" rel="noopener noreferrer">integênero</a>, <a href="https://colorid.es/@termos/100184233172094331" rel="noopener noreferrer">neurogênero</a>):</strong> Embora muitas pessoas que se encaixam nesse tipo de termo possam usá-los para descrever suas experiências xenogênero, também há pessoas que usam termos assim para descrever experiências como não ter gênero por conta de neurodivergência ou ser não-binárie por conta de ser intersexo. Assim como não considero gênero-fluido uma experiência inerentemente xenogênero por “ser definida por fluidez”, considero que se a parte das experiências de vida não faz parte dos gêneros por si só (algo que deve ser decidido por cada pessoa), não há porque dizer que são experiências xenogênero.</li>
</ul>
<p dir="auto">O que eu espero aqui é dê para entender que nem toda experiência rara ou fora do binário de gênero é um xenogênero, mas que ainda assim identidades xenogênero são extremamente diversas.</p>
<p dir="auto"><img src="https://amplifi.casa/static/media/4D0E25E8-B3CC-841E-C526-D81FB3F4DF1D.png" alt="Um gráfico mostrando os gêneros binários, identidades não-binárias cunhadas a partir de oposições ou relações com eles (mascugênero, juxera, femil, maverique, etc.) e duas identidades não-binárias relacionadas com natureza sem serem relacionadas com gêneros binários de forma positiva ou negativa (ouygênero e lilapsogênero)."> </p>
<p dir="auto">(Este gráfico e uma explicação específica para ele se encontram <a href="https://starrypride.neocities.org/textos/xenogeneros" rel="noopener noreferrer">aqui</a>.)</p>
<h3 dir="auto">Como é que identidades xenogênero funcionam, se gênero se refere ao sexo que alguém se sente ou sentiria mais confortável em ter?</h3>
<p dir="auto">Então, é aí que começa o problema. Infelizmente, muitas pessoas vivem em sociedades que julgam gênero com base em corpo, voz ou afins, e que só reconhecem mulher e homem como opções. Podem, talvez, expressar confusão se alguém conseguir ficar em cima da linha finíssima que separa esses dois gêneros dentro de uma sociedade exorsexista.</p>
<p dir="auto">É possível que uma pessoa se sinta fora do lugar quando é tratada como homem. Essa pessoa pode então ir atrás de terapia hormonal e cirurgias que vão fazer com que a pessoa não tenha mais que passar por isso. Mas isso é uma questão externa, e que não define a identidade de gênero da pessoa. O que a sociedade julga que uma pessoa parece ser não necessariamente reflete como a pessoa se sente internamente.</p>
<p dir="auto">Porque identidades de gênero, em geral, são formas de se definir acerca de sensações de pertencimento ou alienação em relação aos grupos de gênero existentes. A questão do que a pessoa gosta ou não gosta no próprio corpo pode ser um fator, assim como pode não ser, algo que também se aplica a várias outras questões que podem ajudar a definir a identidade de gênero de alguém.</p>
<p dir="auto">Os gêneros binários abrangem uma série de arquétipos - como mãe, pai, cavalheiro, freira, playboy, girlboss, nerdão, bruxa ou afins - e sensações de pertencimento ou alienação em relação a tais arquétipos são muitas vezes o que define as identidades de gênero das pessoas. A sensação de pertencimento em grupos voltados para homens ou para mulheres, a linguagem usada para se referir ao gênero presumido e o conforto ou desconforto com normas de gênero também são fatores que podem ser utilizados para definir a própria identidade de gênero.</p>
<p dir="auto">A ideia de que gêneros são definidos apenas pelos corpos que cada pessoa possui ou busca possuir é algo simplificado, feito principalmente para que pessoas cis entendam o que é ser trans de forma que se encaixe melhor com a forma cissexista que foram ensinadas (que gênero depende do sexo). Há pessoas trans binárias que não fazem todas as modificações corporais que poderiam fazer para parecerem mais cis porque não sentem necessidade, pessoas não-binárias confortáveis em corpos que “parecem binários” e até mesmo pessoas cis inconformistas de gênero que buscam corpos que não são tradicionalmente associados com suas identidades de gênero.</p>
<p dir="auto">O tratamento social e o corpo desejado podem ser questões suficientes para que alguém se diga mulher, não-binárie ou homem. No entanto, acredito que a questão de arquétipos seja mais relevante quando se pensa em não-binaridade. Algumas pessoas são mulheres e homens; outras possuem um gênero e querem um lugar firme e definido para existir longe dos gêneros binários; outras querem neutralidade em relação a tudo isso; outras não querem participar de nada em relação a isso; e por assim vai.</p>
<p dir="auto">Pessoas xenogênero possuem identidades de gênero relacionadas (ao menos parcialmente) a arquétipos separados do binário de gênero, e geralmente possuem uma sensação de pertencimento relacionada a tais arquétipos ao invés dos ligados a gêneros binários. Isso pode ser complicado ou abstrato pra quem vê gênero como só o corpo, mas eu garanto que até mesmo muitas pessoas binárias se atrelam a conceitos específicos ligados aos seus gêneros que vão além dos corpos ou do uso de a/ela/a ou o/ele/o.</p>
<p dir="auto">Quero ressaltar que embora possa existir a questão de ser xenogênero e <a href="https://colorid.es/@termos/108839799234067286" rel="noopener noreferrer">xenogenital</a>, <a href="https://starrypride.neocities.org/alterumanidade" rel="noopener noreferrer">alterumane</a> e/ou afins, xenogêneros são em geral termos para descrever funcionamento e/ou sensação de identidades de gênero, não para descrever corpos desejados e/ou espécies. Ou seja, uma pessoa floragênero não necessariamente sente disforia por não ser uma planta.</p>
<p dir="auto">Existe uma pressão social cissexista para ligar identidades de gênero a tipos de corpos ou tratamentos específicos, além de uma percepção deturpada de trolls que liga ser xenogênero a ser <a href="https://amplifi.casa/%7E/Asterismos/o-que-s%C3%A3o-otherkin/" rel="noopener noreferrer">otherkin</a>. No entanto, definições de identidades de gênero em geral descrevem percepções internas, as quais podem ser externalizadas mas nem sempre são.</p>
<p dir="auto">Em minha experiência, várias pessoas xenogênero tendem a ser pessoas cujos desejos para seus corpos se alinham mais com questões comuns às que outras pessoas trans desejam como transição física (como querer seios maiores ou menores ou tomar testosterona, antiandrógenos ou estrogênio). Pessoas xenogênero que querem expressar sua xeninidade com seus corpos (querendo, por exemplo, características de espécies não-humanas) tendem a ser mais raras, e muitas vezes colocam isso como questão de alterumanidade ao invés de puramente de identidade de gênero.</p>
<p dir="auto">Não que eu esteja dizendo isso para justificar pessoas xenogênero como “pessoas trans normais”. Pessoas de qualquer identidade de gênero podem querer qualquer tipo de transição corporal, e tanto pessoas xenogênero que estão satisfeitas com os corpos que desenvolveram durante a adolescência quanto pessoas xenogênero que preferiam ter escamas ou ser incorpóreas são válidas. Só quero ressaltar isso porque muitas vezes o discurso ao redor de pessoas não-binárias (especialmente xenogênero) age como se tais experiências de gênero automaticamente nos colocassem à parte de experiências trans que são consideráveis mais comuns ou aceitáveis, mesmo quando são bastante comuns entre nós.</p>
<p dir="auto">A identidade <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/transxenine/" rel="noopener noreferrer">transxenina</a> existe para pessoas que querem indicar uma forma de identidade, disforia, euforia, expressão, alinhamento e/ou transição de gênero relacionada com xeninidade (característica relacionada à identidade xenogênero). Não é necessário ser xenogênero para ser uma pessoa transxenina, e nem todas as pessoas xenogênero se consideram ou considerariam transxeninas.</p>
<p dir="auto"><img src="https://amplifi.casa/static/media/DD334890-AE78-47F4-3BF3-1C4CCC5A2AB3.png" alt="Bandeira transxenina, composta por cinco faixas horizontais do mesmo tamanho de cor amarela. A faixa central é mais clara, a segunda e a quarta faixa são mais escuras e a primeira e a última faixa estão em tons entre os das outras faixas."> </p>
<h3 dir="auto">Dizer-se xenogênero é uma escolha?</h3>
<p dir="auto">É tanto uma escolha quanto ser mulher, homem, <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/agenero/" rel="noopener noreferrer">agênero</a>, <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/genero-neutro/" rel="noopener noreferrer">gênero neutro</a> ou por assim vai. Existem pessoas que veem suas identidades de gênero como imutáveis e indescritíveis de outra forma, pessoas que dizem fazer parte de tais identidades no dia-a-dia ainda que não sejam necessariamente palavras precisas para descrever suas identidades de gênero e pessoas que gostam dos conceitos e que querem fazer parte deles de forma tão forte que é difícil saber se é uma questão de ter escolhido isso ou se isso sempre foi a identidade real da pessoa.</p>
<p dir="auto">Usando o gênero homem para alguns exemplos:</p>
<ul dir="auto">
<li>Alguém pode se dizer homem porque sempre se viu como tal e não consegue ver sua vida de outra forma (independentemente do gênero que lhe foi designado ao nascer).</li>
<li>Outra pessoa pode dizer que é homem porque é mais fácil simplificar sua identidade não-binária próxima a homem de tal forma. </li>
<li>Outra pessoa pode não se importar com definir sua identidade de gênero e dizer que é homem só por preferir manter certos privilégios associados a ser vista como homem cis a ser honesta sobre o que sente em relação a gênero. </li>
<li>Outra pessoa pode achar o conceito de ser homem interessante e tentar ativamente se moldar ao redor dele, e não dá pra saber de um ponto de vista externo se a pessoa “é homem por dentro” ou não. Uma pessoa tratada desde o nascimento como homem que se sente assim pode ver isso como um comportamento natural e esperado, enquanto uma pessoa tratada desde o nascimento como mulher que se sente assim provavelmente não vai se abrir sobre isso porque, no momento atual, admitir que o gênero foi uma escolha e não é uma verdade inata serve como se fosse uma admissão de que o gênero nunca esteve lá.</li>
</ul>
<p dir="auto">Obviamente, há diferenças entre escolher se dizer homem e escolher se dizer xenogênero. Uma delas é que homem é um gênero com uma carga muito mais rígida de papéis, expressões e corporalidades esperades. Outra é que escolher um xenogênero como identidade não dá nenhuma vantagem social, sendo um guarda-chuva de conceitos controversos até dentro de várias comunidades não-binárias.</p>
<p dir="auto">Alguém que acredita que é possível ser homem pode ainda assim não acreditar que uma pessoa que se veste de certa forma ou tem certa genitália é homem de verdade. Alguém que acredita que é possível ser xenogênero provavelmente não vai exigir nenhum tipo de obstáculo a fim de provar a identidade de gênero de alguém dizendo ser xenogênero.</p>
<p dir="auto">Porém, também vai ser bem mais comum que a pessoa xenogênero se sinta isolada em sua identidade, por não ser levada a sério na maioria dos espaços. E é possível que a pessoa xenogênero tenha que lidar com ataques de ódio até de pessoas cisdissidentes ou de pessoas que dizem ser aliadas de pessoas trans.</p>
<p dir="auto">Enfim, respondendo a pergunta sobre se ser xenogênero é escolha ou não:</p>
<ul dir="auto">
<li>Existem pessoas que só conseguem se descrever precisamente usando um ou mais xenogêneros. Assim, a escolha é entre se dizer xenogênero, mentir ou usar termos mais vagos.</li>
<li>Existem pessoas que preferem descrever suas identidades de gênero usando metáforas de forma que assim passam a se encaixar no termo xenogênero. Por exemplo, uma pessoa agênero pode gostar de descrever sua ausência de gênero como um vácuo e assim escolher o termo <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/genero-vacuo/" rel="noopener noreferrer">gênero-vácuo</a> ao invés de (apenas) agênero. Esta experiência conta como xenogênero, caso a pessoa queira se identificar como tal.</li>
<li>Existem pessoas que podem gostar de se descrever como alguma metáfora indicada na descrição de algum xenogênero, e assim adotar algum termo dentro do guarda-chuva xenogênero ou que poderia ser descrito como tal. Na minha experiência, pessoas que fazem isso geralmente já estavam sob o guarda-chuva da não-binaridade antes de adotarem algum xenogênero. Inclusive há pessoas que fazem isso por piada e podem nem se ver como xenogênero de uma forma que consideram séria.</li>
</ul>
<p dir="auto">É possível dizer que as pessoas que se encaixam no segundo e no terceiro item escolheram ser xenogênero. Porém, isso não significa que suas identidades são inválidas ou que essas pessoas estão mentindo sobre como suas identidades de gênero podem ser descritas.</p>
<h3 dir="auto">Por que não se identificar somente como não-binárie?</h3>
<p dir="auto">Não-binárie é um rótulo útil para descrever demandas de pessoas que não são nem 100% homens e nem 100% mulheres. Porém, em relação a descrever identidades de gênero em si, é um termo muito pouco descritivo.</p>
<p dir="auto">Uma pessoa pode não ter gênero e se dizer não-binária. Outra pessoa pode ter uma quantidade imensa de gêneros e se dizer não-binária. Outra pessoa pode experienciar só o gênero mulher ou só o gênero homem, mas, por mudar entre estes de tempos em tempos, também pode se dizer não-binária. Outra pessoa pode ser quase uma mulher, mas por não ser exatamente uma mulher, se dizer não-binária.</p>
<p dir="auto">Termos mais específicos servem para identificar melhor experiências não-binárias, especialmente em grupos com várias pessoas não-binárias. Por exemplo:</p>
<ul dir="auto">
<li>Pessoas <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/genero-fluido/" rel="noopener noreferrer">gênero-fluido</a> podem querer mudar de nome e conjunto de linguagem de acordo com qual é sua experiência de gênero em cada momento. Enquanto alguém que é gênero-fluido pode ter que lidar com como indicar essas mudanças e explicar que não é só uma questão de ficar mudando de ideia sobre sua identidade, alguém que é sempre gênero neutro pode nunca ter lidado com isso ou se preocupado em expressar firmeza em relação a sua identidade.</li>
<li>Pessoas <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/sem-genero/" rel="noopener noreferrer">sem gênero</a> podem ter repulsão por situações onde precisam escolher ou especificar “seus gêneros”, por mais que possa haver uma certa aceitação de não-binaridade em algumas situações assim. Ume <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/homem-nao-binarie/" rel="noopener noreferrer">homem não-binárie</a> que geralmente só usa o termo homem para si e que considera ser não-binárie um detalhe raramente relevante pode não ver esse tipo de situação como estressante ou discriminatória.</li>
</ul>
<p dir="auto">Pessoas xenogênero possuem a experiência comum de ter suas identidades de gênero vistas como “estranhas” ou “impossíveis”, por não serem conectadas apenas ao binário de gênero ou apenas a uma rejeição a ele.</p>
<p dir="auto">Entretanto, xenogênero também é mais uma descrição ampla para um grupo que tem certas experiências do que uma identidade específica por si só. Uma pessoa que só consegue descrever seu gênero com a cor vermelha pode experienciar gênero de forma bem diferente de alguém que sente que seu gênero é comparável a um grande planeta que se move no espaço. Já uma pessoa cujo gênero é relacionado a um arquétipo de elfe pode nem conseguir entender tais experiências.</p>
<p dir="auto">É por isso que existem vários xenogêneros: muitas vezes, tais rótulos são a única forma de afirmar a existência de nossas identidades de gênero específicas ao invés de empurrá-las para baixo do tapete com termos relativamente mais comuns ou bem vistos. Pode ser mais fácil ter um termo com uma definição específica e falar de nossas experiências a partir dele do que falar das experiências em um vácuo.</p>
<p dir="auto">Linguagem em relação a experiências de gênero não-binárias está recém começando a ser desenvolvida. Não só em relação a termos, mas também em relação a como explicar como esses gêneros são experienciados. Talvez no futuro explicar como o gênero de alguém pode ser uma cor ou ter certo tamanho seja algo mais fácil, menos abstrato e menos dependente da cunhagem de termos específicos ou de acreditar que outras pessoas sabem do que estão falando, mas ainda não estamos em tal futuro.</p>
<p dir="auto"><img src="https://amplifi.casa/static/media/DB973F8E-DA08-F6FB-C43F-069B5A5E6E98.png" alt="reclamar de pessoas usando palavras mais específicas para descrever suas experiências, justificando que elas “dividem o grupo” / só mostra que você é incapaz de aceitar pessoas diferentes de você, e incapaz de aceitar que outres também sofrem sob o mesmo sistema"> </p>
<h3 dir="auto">Mas não é mais fácil descrever a identidade de gênero de outra forma?</h3>
<p dir="auto">Como já disse no item sobre se ser xenogênero é escolha ou não, isso depende de cada situação. Porém, independentemente dessa escolha apagar parte fundamental da identidade de alguém ou não, esse tipo de atitude é uma repressão cissexista.</p>
<p dir="auto">Além disso, nem toda pessoa xenogênero tem a preocupação de se assimilar a espaços antixenogênero. Muites preferem ser honestes em relação a como experienciam suas identidades de gênero.</p>
<p dir="auto">Algumas pessoas se abrem sobre ser xenogênero porque consideram que estão em espaços onde outras pessoas não vão se importar com isso. Outras querem normalizar ser xenogênero em espaços onde esse tipo de identidade normalmente não é visto.</p>
<p dir="auto">A luta contra o cissexismo não deve ser limitada a tipos específicos de pessoas trans. Libertação real das normas de gênero e de sexo nunca será completa enquanto ela se preocupar mais com respeitabilidade do que com a inclusão de todas as experiências cisdissidentes.</p>
<h3 dir="auto">E se alguém tiver um xenogênero problemático?</h3>
<p dir="auto">Às vezes - mais raramente do que pessoas que interpretam certos termos de má fé pensam - realmente há a possibilidade de alguém ter um xenogênero inapropriado.</p>
<p dir="auto">Xenogêneros podem, afinal, ter a ver com qualquer conceito. Então, por exemplo, é possível ter identidades de gênero relacionadas a:</p>
<ul dir="auto">
<li>Obras de ficção com cunho discriminatório e/ou pró-opressão;</li>
<li>Personagens que cometem atrocidades indefensíveis;</li>
<li>Sistemas opressivos e/ou figuras que os mantém;</li>
<li>Estereótipos que perpetuam opressões;</li>
<li>Comportamentos inadequados e/ou nocivos;</li>
<li>Interações ou dinâmicas indesejadas e/ou tóxicas;</li>
<li>Elementos vindos de culturas alheias, por mais que tais elementos estejam sendo filtrados a partir da perspectiva de alguém de fora da cultura.</li>
</ul>
<p dir="auto">Isso não significa que pessoas com tais identidades de gênero necessariamente apoiem essas coisas. E qualquer pessoa que diga que ter um gênero assim justifica ações violentas, discriminatórias ou inapropriadas de outras formas está ou mentindo (provavelmente para trollar) ou não tem noção do quanto tal comportamento não é aceitável.</p>
<p dir="auto">No entanto, se a pessoa não está só tentando fazer pessoas xenogênero parecerem horríveis ou sem noção, a questão é essa: a experiência de gênero que a pessoa tem é real. Dependendo do caso, há algumas coisas que essas pessoas podem fazer:</p>
<ul dir="auto">
<li>Usar termos mais abrangentes pra falar de sua identidade de gênero, ao menos na maior parte dos espaços (ex.: xenogênero, não-binárie);</li>
<li>Tentar achar algum termo cuja definição também abrange sua identidade de gênero de forma relativamente específica, mas que não força a pessoa a ter que detalhar as questões problemáticas (ex.: se alguém tem um gênero relacionado a uma palavra estigmatizada, pode usar <a href="https://gender.fandom.com/wiki/Lexegender" rel="noopener noreferrer">lexegênero</a> ao invés de [palavra]léxique);</li>
<li>Ao mencionar o gênero para pessoas que não o conhecem, é possível explicar sobre suas circunstâncias, justificando que tal identidade não é um endosso do problema com tal identidade, colocando discussão sobre a identidade sob avisos de conteúdo e afins.</li>
</ul>
<h3 dir="auto">Qual a ligação entre xenogêneros e neurodivergência?</h3>
<p dir="auto">Muitas pessoas neurodivergentes se sentem alienadas em relação aos comportamentos esperados de pessoas binárias e/ou não entendem os conceitos de homem ou mulher o suficiente para se identificar com tais gêneros. Tais pessoas comumente se veem como não-binárias e, se suas identidades de gênero podem ser descritas como sensações, sentimentos, conceitos, espécies ou até mesmo com suas neurodivergências, elas podem acabar se vendo como xenogênero.</p>
<p dir="auto"><strong>Xenogêneros não são exclusivos de pessoas neurodivergentes.</strong> A ideia de que “só alguém neurodivergente usaria esses termos aí” é fundamentalmente capacitista. Sinestesia é algo que afeta certas pessoas de forma que elas são xenogênero por conta disso, mas nem todas as pessoas xenogênero neurodivergentes são sinestetas.</p>
<p dir="auto">Existem neurogêneros - identidades de gênero dependentes de neurodivergências e por isso específicas a pessoas neurodivergentes - que são também xenogêneros. Mas nem todo neurogênero é xenogênero (por razões especificadas na primeira seção), assim como nem todo xenogênero é um neurogênero.</p>
<p dir="auto">É possível que um dos motivos pelo qual tantas pessoas xenogênero sejam neurodivergentes é que é mais fácil admitir ser algo fora do comum quando uma existência já não é aceita como a correta. Por exemplo, se uma pessoa já tem poucas amizades e não é levada a sério quando tenta se comunicar, pode ser mais fácil aceitar sua realidade como xenogênero ou se atrair pelo conceito em comparação a alguém que teria mais a perder caso se abrisse como xenogênero.</p>
<h3 dir="auto">Quais tratamentos que pessoas xenogênero usam? Qual o pronome que uso para alguém [insira xenogênero aqui]?</h3>
<p dir="auto">(Caso alguém lendo não entenda muito sobre o assunto de linguagem pessoal, um texto detalhado sobre isso se encontra <a href="https://amplifi.casa/%7E/Asterismos/tudo-ou-pelo-menos-muita-coisa-sobre-linguagem-pessoal" rel="noopener noreferrer">aqui</a>. Caso a questão seja só entender de forma resumida do que os termos desta seção se tratam, há uma explicação curta do que é artigo, pronome e final de palavra <a href="https://ajudanhincq.wordpress.com/2019/03/15/o-sistema-artigo-pronome-final-de-palavra/" rel="noopener noreferrer">aqui</a>. Uma explicação relativamente sucinta sobre o assunto mas mais contextualizada do que o link anterior pode ser encontrada <a href="https://orientando.org/wp-content/uploads/2017/05/qual-%C3%A9-a-sua-linguagem.pdf" rel="noopener noreferrer">neste panfleto em PDF</a>.)</p>
<p dir="auto">Assim como no caso de qualquer pessoa, especialmente quando se fala de pessoas não-binárias, linguagem pessoal não precisa ter associação com gênero. Inclusive, o uso de “linguagem masculina”, “linguagem feminina” e “linguagem neutra” para descrever conjuntos específicos é <a href="https://exorsexismo.tumblr.com/post/174612683539/porque-separar-linguagem" rel="noopener noreferrer">prejudicial à expressão pessoal de conjuntos de linguagem</a> e <a href="https://amplifi.casa/%7E/Asterismos/coisas-com-g%C3%AAnero-coisas-associadas-com-g%C3%AAnero" rel="noopener noreferrer">reforça conformidade de gênero</a>.</p>
<p dir="auto">Ou seja:</p>
<ul dir="auto">
<li>Existem pessoas xenogênero que usam a/ela/a. </li>
<li>Existem pessoas xenogênero que usam o/ele/o. </li>
<li>Existem pessoas xenogênero que usam estes dois conjuntos. </li>
<li>Existem pessoas xenogênero que usam a/ela/a e/ou o/ele/o e mais um ou mais conjuntos. </li>
<li>Existem pessoas xenogênero que usam um ou mais conjuntos que veem como neutros, como -/elu/e, -/-/- ou ê/ile/e. </li>
<li>Existem pessoas xenogênero que aceitam qualquer conjunto de linguagem. </li>
<li>Existem pessoas xenogênero que, sim, tentam usar conjuntos que remetem a suas identidades de gênero. </li>
<li>Existem pessoas xenogênero que usam outros conjuntos só porque gostam deles ou de ser associadas com eles. Ou por serem os conjuntos que menos desgostam.</li>
<li>Existem pessoas xenogênero que mudam de conjunto(s) de tempos em tempos.</li>
</ul>
<p dir="auto"><img src="https://amplifi.casa/static/media/09880B0F-D22F-E9B6-F227-275DFD0AD52A.png" alt="Três imagens em uma demonstrando como se usam os conjuntos le/elu/e, -/-/- e fy/yl/y."> </p>
<p dir="auto">Existe o conceito de xenopronomes (me refiro aqui a pronomes porque é um conceito que em geral só se fala sobre na língua inglesa ou de forma extremamente anglocêntrica). <a href="https://www.lgbtqia.wiki/wiki/Xenopronouns" rel="noopener noreferrer">Os lugares onde pessoas definem o termo formalmente falam que são</a> <a href="https://learn-neopronouns-with-me.carrd.co/#page2" rel="noopener noreferrer">pronomes teoréticos que não teriam como ser colocados em palavras</a>, mas ocasionalmente existem pessoas que usam o termo ou para se referir a neopronomes (ex.: elu, elx, íli, ale, estrel) ou a neopronomes que foram feitos tomando xenogêneros ou xeninidade como base (ex.: estrel para estrela, ogo para fogo, miau para gates ou miados).</p>
<p dir="auto">A definição que fala sobre xenopronomes serem pronomes teoréticos não tem muita ligação com ser xenogênero por si só, ainda que pessoas que desejem ser tratadas por tal forma possam ser xenogênero e possam ter essa vontade por conta de ser xenogênero. A outra definição tem mais a ver com xenogênero, mas também não é exclusividade de pessoas xenogênero.</p>
<p dir="auto">Talvez seja possível dizer que alguém que usa fo/ogo/o por ser um conjunto relacionado com fogo ao invés de com ser homem ou ser mulher esteja usando um conjunto de linguagem xenino (independentemente dessa pessoa ter ou não um gênero relacionado com fogo, calor, luz ou o que for). Mas seria também possível alguém usar esse conjunto só por gostar da sonoridade, sem se importar com a conexão com fogo.</p>
<p dir="auto">É o mesmo caso do conjunto a/ela/a poder ser usado para remeter à feminilidade sem que isso torne o conjunto universalmente feminino, ou sem que conjuntos femininos tenham que ser resumidos a a/ela/a. A intenção pessoal pode ter a ver com identidade e/ou expressão de gênero, mas classificar um conjunto ou um elemento de um conjunto ignora outras possibilidades.</p>
<p dir="auto">Talvez isso não seja tão óbvio quando se trata de um conjunto como fo/ogo/o. Mas que tal e/el/a? Uma pessoa pode usar por remeter à palavra estrela. Outra pode só estar usando um neoartigo comum, um neopronome simples e um final de palavra padrão. Digamos que alguém usando ce/els/u esteja se referindo a céu. O pronome els ainda é xenino quando usado dentro do conjunto -/els/e?</p>
<p dir="auto">Eu não sou contra sugestões xeninas como <a href="https://sotao.amplifi.casa/s/jT9S3xBtGx4WYy6" rel="noopener noreferrer">estas</a> ou outras. Só espero que dê pra entender que associar certas identidades de gênero ou certos conceitos com certos conjuntos de linguagem ou com elementos específicos de conjuntos de linguagem é algo limitante que vai contra várias experiências reais.</p>
<h3 dir="auto">Todos esses xenogêneros são realmente usados?</h3>
<p dir="auto">Enquanto existem pessoas que cunham xenogêneros só porque é uma atividade fácil (é só se decidir sobre um conceito e um nome atrelado a ele, e dependendo de quem for também vai fazer um retângulo com faixas coloridas pra que o termo tenha uma bandeira), muitos xenogêneros acabam sim sendo utilizados. Isso porque muitas pessoas xenogênero também <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/poligenero/" rel="noopener noreferrer">possuem múltiplos gêneros</a>, e não é difícil encontrar pessoas em espaços pró-xenogênero com listas de gêneros possuindo de vinte a centenas de xenogêneros.</p>
<p dir="auto">Então, pra responder a pergunta: não, eu acho que nem todos os termos cunhados são usados por pessoas que se encaixam neles. Mas acredito que a maioria seja, porque tem muito mais gente usando esses termos do que parece.</p>
<p dir="auto">Imagino que o interesse nesse tipo de pergunta tenha a ver com “cortar” identidades de gênero de listas, de não ter que “se preocupar com todos esses gêneros”. Já aviso que o esforço é inútil. Por mais que uma lista tente incluir vários termos mais abrangentes ou comuns, sempre vão aparecer pessoas com xenogêneros obscuros que não se encaixam ou não querem se encaixar nos termos listados.</p>
<p dir="auto">Dito isso, ninguém precisa decorar todas as identidades de gênero existentes. É só não descrever pessoas com identidades que elas não possuem que isso não deve causar nenhum problema.</p>
<p dir="auto">Como alguém que mantém listas de identidades de gênero (e que geralmente precisa traduzi-las), eu não sou muito fã de pessoas cunhando identidades de gênero à toa, só como hobby ou produção de conteúdo. Mas sei que existem infinitas possibilidades em relação a identidades de gênero, e que portanto sempre terei que adicionar mais coisas às listas para ajudar a representar a verdadeira diversidade das identidades não-binárias.</p>
<p dir="auto"><img src="https://amplifi.casa/static/media/5949CC04-26B1-5611-0185-8E20E10EC53A.png" alt="Cabeçalho de Tumblr misturando 30 bandeiras em uma série de faixas verticais. A maioria das identidades presentes são xenogêneros pouco conhecidos."> (<a href="https://neopronouns.tumblr.com/post/657528042841899008/barcode-header-for-kandi-coyote-flags-in-order" rel="noopener noreferrer">Fonte</a>)</p>
<h3 dir="auto">O que é xênique? Por que alguns gêneros são descritos como xênicos? Existe diferença entre xênique e xenine?</h3>
<p dir="auto">Xênique é alguém cujo alinhamento de gênero é com xenogênero, assim como <a href="https://umegarotealternative.blogspot.com/2018/05/nao-binaridade-alinhamentos.html" rel="noopener noreferrer">lunariane descreve alguém cujo alinhamento de gênero é com mulher</a>. Alinhamento de gênero por si só é <a href="https://amplifi.casa/%7E/Asterismos/alinhamento-de-g%C3%AAnero-e-como-essa-terminologia-se-tornou-inadequada" rel="noopener noreferrer">um conceito complexo e muito mal entendido</a>.</p>
<p dir="auto">Vou tentar resumir: algumas pessoas não-binárias começaram a se dizer “alinhadas a homens” ou “alinhadas a mulheres” para significar uma porção de coisas, como por exemplo:</p>
<ul dir="auto">
<li>Ter identidade de gênero parecida com tal gênero binário;</li>
<li>Ter experiências similares a homens ou mulheres trans por conta do que precisam passar para conseguir hormônios, mudanças de nome ou afins;</li>
<li>Ser tratadas como um certo gênero binário em sua vida diária;</li>
<li>Ter afinidade com termos e/ou grupos associados com certo gênero binário (ex.: movimento feminista, comunidades de homens gays).</li>
</ul>
<p dir="auto">Depois que termos específicos foram cunhados pra descrever quem tem alinhamento com homens (solariane) e com mulheres (lunariane), pessoas começaram a também explorar outras formas de alinhamento. O termo xênique (original: <em>xenic</em>) foi então cunhado para descrever aquelus alinhades com xenogêneros.</p>
<p dir="auto"><img src="https://amplifi.casa/static/media/BA48002C-8D64-A878-63AA-2AD2AB724425.png" alt="Bandeira xênica feita por Hatch. Ela é composta por vários quadrados em diversas cores, basicamente."> </p>
<p dir="auto">Geralmente, pessoas xênicas são pessoas xenogênero que não só usam um ou mais xenogêneros para se descrever, mas que também incorporam características de ser xenogênero em sua expressão de gênero, sua transição desejada, seu conjunto de linguagem ou afins. Às vezes também são simplesmente pessoas xenogênero que não querem ter que lidar com a dualidade de escolher se são agrupadas com homens ou com mulheres, e que preferem afirmar que seu único alinhamento é com o próprio gênero que são. Ser xênique não se resume nisso, mas geralmente são estas as situações que fazem com que alguém se diga xênique.</p>
<p dir="auto">Enfim, depois da cunhagem de solariane e lunariane, começou a ser popular cunhar um monte de identidades de gênero e orientações que dependem de alinhamentos de gênero, ainda que tal conceito exista justamente para descrever situações que muitas vezes vão além da identidade de gênero. E, por algum motivo, o termo xênique foi unicamente popularizado como um sinônimo pra quem não queria usar xenogênero ou xenine ao definir identidades de gênero.</p>
<p dir="auto">Por exemplo, há cunhagens de termos que são separadamente “para pessoas femininas”, “para pessoas masculinas”, “para pessoas neutras” e “para pessoas xênicas”, mesmo que alinhamento de gênero não tenha a ver com as outras definições. Eu acredito que a intenção nesses casos era a de dizer “para pessoas xeninas” - novamente, xeninidade é a característica que parte de ser xenogênero - mas xênique acaba sendo o termo usado.</p>
<p dir="auto">Também já vi ocorrerem casos como “atração por mulheres”/“atração por homens”/“atração por pessoas xênicas”, quando, novamente, os outros termos não são relacionados a alinhamentos. Desta vez, é a palavra xenogênero que seria mais apropriada.</p>
<p dir="auto">A própria questão de atração por um alinhamento de gênero é controversa, visto que há múltiplas razões para alguém ter um alinhamento de gênero e nem todas são relacionadas com aceitar atração de pessoas que sentem atração pelo gênero com o qual estão alinhadas. Embora discussões sobre ter atração específica por pessoas não-binárias ainda sejam relativamente novas, ainda acho que faz mais sentido alguém falar em ter atração por pessoas xenogênero ou por pessoas não-binárias do que por pessoas xênicas.</p>
<p dir="auto">Acredito que já tenha dado pra entender a relação entre xenine e xênique. Xenine descreve algo ou alguém que tem característica de xenogênero, xênique descreve alguém que tem certo alinhamento de gênero. Embora palavras evoluam, acredito que isso não se dê de forma tão rápida enquanto é possível procurar as definições de cada termo online.</p>
<p dir="auto">Pessoas não precisam ser xenogênero para ser xênicas ou xeninas, mas por conta do estigma em cima de ser xenogênero, é mais comum que pessoas xenogênero se descrevam destas formas. Também é possível ser xenogênero sem ser xenine ou xênique. Por exemplo:</p>
<ul dir="auto">
<li>Alguém é <a href="https://colorid.es/@termos/100387392590940026" rel="noopener noreferrer">gendoux</a> e, por mais que goste de usar cores pastéis, a pessoa usa a/ela/a, descreve sua expressão de gênero como andrógina e não se esforça para expressar sua identidade xenogênero. Tal pessoa não se descreve como xenina e não se vê como alinhada a nenhum gênero ou grupo de identidades de gênero.</li>
<li>Alguém é <a href="https://colorid.es/@termos/105704865994485503" rel="noopener noreferrer">cervogênero</a> e por conta disso se diz <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/homem-nao-binarie/" rel="noopener noreferrer">homem não-binárie</a>. Apesar de usar tanto ê/elu/e quanto o/ele/o, tal homem NB não incorpora nada da parte xenina de seu gênero em como age, se veste ou se reinvindica. Elu se considera alinhade com o gênero homem e considera que faz mais sentido se dizer masculine do que xenine.</li>
</ul>
<h3 dir="auto">Considerações finais</h3>
<p dir="auto">São estas as coisas que consigo pensar que já vi pessoas perguntando sobre em relação a xenogêneros (ao menos quando não se trata de xenogêneros específicos). É possível que eu adicione mais coisas aqui caso encontre outras perguntas.</p>
<h3 dir="auto"><strong>Adição 1 (11/05):</strong> É possível ser xenogênero e cis ou binárie?</h3>
<p dir="auto">O que é possível:</p>
<ol dir="auto">
<li>Ter um xenogênero que também está conectado a ser de um gênero binário (ex.: <a href="https://colorid.es/@termos/102271924951809381" rel="noopener noreferrer">glitravir</a>, <a href="https://colorid.es/@termos/108476546625902755" rel="noopener noreferrer">petiera</a>);</li>
<li>Ter um xenogênero cujo arquétipo é tradicionalmente incluso em um gênero binário (ex.: <a href="https://colorid.es/@termos/103478775444705994" rel="noopener noreferrer">dulcigênero</a>, <a href="https://colorid.es/@termos/105006851525256401" rel="noopener noreferrer">amaragênero</a>);</li>
<li>Ter mais de um gênero - ou uma identidade de gênero com múltiplas facetas - onde há um gênero binário acompanhado de xenogêneros (e possivelmente de outras identidades que não são xenogêneros) também.</li>
</ol>
<p dir="auto">Mesmo que alguém não veja muita diferença entre o gênero binário que lhe foi atribuído ao nascer e o seu, ser xenogênero provavelmente não vai ser algo aceito no lugar onde vive. A pessoa pode ser acusada de querer se colocar em caixas desnecessárias, não ter o termo que usa levado a sério, ser xingada por “acreditar nesses gêneros inventados” e por assim vai.</p>
<p dir="auto">Talvez alguém cujo gênero seja muito parecido com o atribuído ao nascer não se sinta confortável dizendo que é trans. Mas ter que esconder sua percepção sobre o próprio gênero para não ser alvo de exclusão, chacota ou violência não é uma experiência cis. Quem quiser pode se dizer <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-modalidades-de-genero" rel="noopener noreferrer">isogênero, cisdissidente, ou não usar nenhum termo para sua modalidade de gênero</a>. No entanto, não vejo muito sentido em chamar essa experiência de cis.</p>
<p dir="auto">No caso de pessoas cujo gênero atribuído não possui similaridades com seu xenogênero, tal xenogênero pode adicionar ao exorsexismo e portanto ao cissexismo que sofre, de formas já citadas. A pessoa até pode ter mais dificuldade em ter sua identidade <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/transfeminine" rel="noopener noreferrer">transfeminina</a>, <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/transmasculine" rel="noopener noreferrer">transmasculina</a> ou similar aceita caso também seja abertamente xenogênero.</p>
<p dir="auto">No caso de pessoas com <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/poligenero" rel="noopener noreferrer">múltiplos gêneros</a>: esta é uma experiência não-binária. Se a pessoa quer se dizer não-binária ou não é com ela, mas nenhuma experiência <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/genero-fluido/" rel="noopener noreferrer">gênero-fluido</a>, <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/bigenero" rel="noopener noreferrer">bigênero</a>, <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/trigenero" rel="noopener noreferrer">trigênero</a>, <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/poligenero" rel="noopener noreferrer">poligênero</a>, <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/poligenero-fluxo/" rel="noopener noreferrer">poligênero-fluxo</a>, <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/pangenero/" rel="noopener noreferrer">pangênero</a> ou afins é vista como aceitável dentro dos padrões cis.</p>
]]><![CDATA[Fediverso e suas restrições]]>https://amplifi.casa/~/Asterismos/Fediverso%20e%20suas%20restrições/2022-12-03T22:25:02.224490+00:00Asterhttps://amplifi.casa/@/Aster/2022-12-03T22:25:02.224490+00:00<![CDATA[<p dir="auto">Minha primeira conta no Fediverso não foi feita por conta de eu ver valor em uma proposta de descentralização.</p>
<p dir="auto">Eu simplesmente sempre gostei de participar de redes alternativas, como Skittlr, Imzy e fóruns temáticos, visto que redes comuns me davam uma obrigação social de adicionar pessoas da família e da escola e, sendo uma pessoa grisplatônica, não me interessava ver conteúdos compartilhados pela maioria delas. Além disso, redes que me deixavam mais visível também tinham problemas com assédio, algo que me afastou do Orkut por volta de 2007 e do Twitter por volta de 2015. Portanto, quando a <a href="https://nitter.mint.lgbt/MidiaCapoeira" rel="noopener noreferrer">Mídia Capoeira</a>, que eu acompanhava pelo Telegram, falou sobre uma alternativa ao Twitter chamada Quitter, eu não vi motivo pra não experimentar.</p>
<p dir="auto">Ou seja, minha primeira conta no Fediverso foi na mesma instância do que a da Mídia Capoeira, que aliás parou de postar pouco tempo depois de eu ter entrado. Também não foi uma conta de Mastodon: Quitter ou Qvitter é fork de GNU Social, uma rede de microblogging que na época usava OStatus (ao contrário de ActivityPub). Mastodon começou como um software que usava OStatus, então era compatível, mas após passar a ser de ActivityPub e de <a href="https://www.u2764.com/NFIC/2018-09-09/fringe-beginnings/" rel="noopener noreferrer">implementar coisas que pessoas consideravam questões de segurança</a>, tinha muita coisa no Mastodon que era diferente da minha instância.</p>
<p dir="auto">Por exemplo:</p>
<ul dir="auto">
<li>Minha instância não tinha avisos de conteúdo embutidos. Se eu quisesse avisar sobre algo, teria que ser que nem no Twitter.</li>
<li>Eu não lembro se haviam opções de privacidade diversas. É possível que não.</li>
<li>Eu não lembro se tinha como colocar descrição de imagem. É provável que não.</li>
<li>Minha instância tinha uma pesquisa de todas as postagens conhecidas. Aliás, por mais que eu não ache uma boa ideia implementar isso numa instância grande, foi algo fundamental pra eu ter descoberto o Mastodon tão rápido quanto eu consegui (já que muita gente no Mastodon não usava hashtags, especialmente naquela época).</li>
</ul>
<p dir="auto">Foi na busca por texto que consegui achar contas interessantes pra acompanhar. Pesquisei por termos relacionados a questões NHINCQ+ e de justiça social, e fui achando postagens relevantes. Talvez não tão interessantes como as que tinham na minha linha do tempo no Tumblr, e também não achei ninguém usando a língua portuguesa pelas minhas buscas, mas enfim.</p>
<p dir="auto">Eu percebi que, clicando no perfil das pessoas, páginas eram abertas em domínios diferentes, e, na época, haviam avisos explicando a situação.</p>
<p dir="auto"><img src="https://amplifi.casa/static/media/AE4ABB67-0FAD-85F3-E0BD-D176E43C0729.png" alt="Texto traduzido: “Dar-EE-us Kazem-EE é ume usuárie em dolphin.town. Você pode seguir ou interagir se você tiver uma conta em qualquer lugar do fediverso. Se você não tem, você pode se registrar aqui.”">
(<em>Captura de tela <a href="https://dolphin.town/@e/" rel="noopener noreferrer">daqui</a>; é a única instância que conheço que ainda usa a versão 2 do Mastodon.</em>)</p>
<p dir="auto">O que eu fui percebendo também era como outras instâncias eram mais interessantes. Elas tinham temas e propostas além de serem alternativas ao Twitter. Além disso, as poucas contas na minha instância não eram muito interessantes. Tinha a Mídia Capoeira, cada vez mais inativa; uma conta chamada Poder Obrero, que postava principalmente notícias sobre greves na língua espanhola. Tinham outras contas e eu sequer me lembro do que se tratavam.</p>
<p dir="auto">Por conta do que eu lia nas contas que acompanhava no Mastodon, decidi fazer uma conta em <a href="http://kitty.town" rel="noopener noreferrer">kitty.town</a>. Pra quem não conhece, a pessoa que fundou a instância (e que, na época, a administrava) tinha sido perseguida por nazistas e outres reaças, mas também teve diferenças com Gargron e por isso não ficou em mastodon.social. Kitty Town era (ainda é) uma instância baunilha pequena com pessoas antifascistas postando sobre suas vidas e que não passavam pano pra questões de discriminação.</p>
<p dir="auto">Ao começar a postar lá na língua portuguesa e pesquisar por ali, descobri <a href="http://masto.donte.com.br" rel="noopener noreferrer">masto.donte.com.br</a> e <a href="http://masto.pt" rel="noopener noreferrer">masto.pt</a>, assim como pessoas lusófonas em instâncias aleatórias como tootplanet.space (que não existe mais) e <a href="http://vulpine.club" rel="noopener noreferrer">vulpine.club</a>. Mesmo assim, comecei a achar um monte de gente pra acompanhar anglófona também, e era essa a maior parte da minha experiência.</p>
<p dir="auto">Com o tempo, eu passei a achar meio esquisito ser a única pessoa falando a língua portuguesa nas linhas do tempo públicas, ainda mais quando a instância era pequena e deviam ter menos de 10 pessoas diferentes na linha do tempo por dia. Também não queria incomodar a administração com pedidos para emojis, mas achava que o conjunto básico de bandeiras era bem limitante. Ao mesmo tempo, não queria entrar em masto.donte.com.br, porque já tinha percebido que instâncias genéricas eram uma ideia ruim e achei que ficaria ainda mais deslocade lá.</p>
<p dir="auto">Eu falei com Isa (<a href="https://amplifi.casa/@/QueerNeko@colorid.es/" title="QueerNeko@colorid.es" rel="noopener noreferrer">@QueerNeko@colorid.es</a>) sobre a possibilidade dila conseguir manter uma instância de Mastodon, e ila gostou da ideia. Então eu mantive minha conta em Kitty Town pra assuntos anglófonos, mas passei a usar mais minha primeira conta em colorid.es (ela tem um nome que eu não uso mais, e eventualmente mudei de conta lá dentro para Aster; por isso a incoerência entre datas entre minha conta e a fundação da instância).</p>
<p dir="auto">A administração de Kitty Town sempre foi bastante proativa em bloquear instâncias. Isso era bom em questão de que quase nunca cheguei a ver porcarias em qualquer linha do tempo. Mas, uma vez ou outra, pessoas sumiam da minha linha do tempo por conta de questões… chatas, mas não necessariamente de assédio ou discriminação. Isso não é exatamente uma reclamação, é só uma consideração que me faz pensar na questão de pular logo pra suspender contas e, especialmente, instâncias. Mas, assim, eu acho que nunca cheguei a perder contato. Era só questão de “ah, essa pessoa aqui postava coisas interessantes, mas agora não posso mais acompanhar”. Nunca perdi conexões com gente com quem eu realmente conversava, e quem realmente me marcava eu lembrava o suficiente para poder acompanhar a conta por colorid.es.</p>
<p dir="auto">Eu não acho que microblogs em uma rede social de softwares pesados e mantidos por gente que muitas vezes não tem muita grana são uma boa forma de preservar conteúdo ou contato, de qualquer forma. O que eu escrevo no Mastodon talvez seja mais acessível a quem já está por lá do que links externos, mas, a longo prazo, acho que faz mais sentido manter contato em múltiplos lugares caso existam relações próximas entre as partes e ter páginas ou ao menos blogs que organizem dicionários, listas, tutoriais e outras informações relevantes de forma que facilite para quem precise conferir seus conteúdos no futuro.</p>
<p dir="auto">Enfim, eventualmente eu cansei das limitações de Kitty Town - não me importava tanto com os bloqueios mesmo que eu preferisse que alguns não tivessem sido feitos, mas o limite de 500 caracteres e uma base de usuáries que em geral não me interessava muito me incomodavam - então entrei para a instância monsterpit.net (que depois virou the.monsterpit.net e depois sumiu de uma hora pra outra por conta de burnout).</p>
<p dir="auto">Monsterpit era uma instância radicalmente diferente de Kitty Town, ainda que tivesse mais ou menos os mesmos valores. Ela mantinha seu fork próprio que não só era <a href="https://glitch-soc.github.io/docs/" rel="noopener noreferrer">glitch-soc</a> como também tinha temas próprios, assinaturas (para facilitar para quem é plural) e uma porção de outras coisas. Sua linha do tempo local era, em sua maioria, pessoas falando sobre fetiches de nicho, sendo que tudo tinha aviso de conteúdo, então eu raramente postava nas linhas do tempo públicas, mas adorava poder ver coisas que eu só via em espaços bem opressivos sendo discutidas e contempladas de pontos de vista trans, alterumanos e afins.</p>
<p dir="auto">Eu podia acompanhar pessoas que tinham sido bloqueadas de Kitty Town de novo em Monsterpit… por um tempo. Mastodon.social, por exemplo, era inicialmente silenciada quando fui pra Monsterpit (tendo sido bloqueada por kitty.town fazia tempo), mas, depois de um episódio de capacitismo pela moderação (o que levou colorid.es a <em>silenciar</em> mastodon.social), já era a instância de novo. Oh well.</p>
<p dir="auto">Novamente, isso não era tanto um problema. Muita gente saía de mastodon.social (e mais tarde .online) ao ver que era uma instância geral e mal moderada demais pra pessoas mais marginalizadas. As pessoas que insistiam em ficar lá por conveniência ou ter mais gente geralmente eram pessoas com blogs ou contas de YouTube que eu tinha como acompanhar por <a href="https://amplifi.casa/%7E/Asterismos/o-que-%C3%A9-rss-o-porqu%C3%AA-de-ainda-existir-e-como-usar" rel="noopener noreferrer">RSS</a>.</p>
<p dir="auto">O que foi um problema foi o que já dei spoiler lá em cima: a instância caiu do nada, sem ter como fazer backups ou migrar. Daí mudei minha conta geral anglófona para plush.city (embora ainda pense na possibilidade de mudar ela de lugar). Nesse ponto eu já tinha uma conta específica para questões queer em <a href="http://queer.party" rel="noopener noreferrer">queer.party</a>, que também eventualmente mudei para lgbtqia.is (que não existe mais) e depois para vulpine.club. Então não comecei do zero, entre minha conta em queer.party, minha conta em colorid.es e a lista que eu tinha exportado de kitty.town quando migrei de lá, mas, ainda assim, tem umas pessoas que não devo ter conseguido acompanhar de volta e várias pessoas que eu via na local de Monsterpit que eu nunca mais vi.</p>
<p dir="auto">Mesmo assim, novamente, eu não perdi nenhum contato com quem realmente conversava.</p>
<p dir="auto">O ponto disso tudo é que, se o uso de uma rede social é por lazer, e não há aprendizados ou conexões importantes ali, não faz sentido teimar muito com a ideia de que duas instâncias precisam manter contato. Além disso, como o Fediverso é descentralizado, ao mesmo tempo que é mais fácil começar “do zero” em outra instância e achar as pessoas com quem contato foi perdido, também é mais fácil que as conexões se cortem por um servidor cair ou por bloqueios entre servidores.</p>
<p dir="auto">Também acho que se o propósito de alguém é convencer pessoas a aprender sobre opressões ou tomar certo rumo político dentro do Fediverso, especialmente em relação a pessoas que não são receptivas à ideia, não faz muito sentido depender de instâncias à esquerda que tentam proteger sues usuáries. Essas instâncias tendem a bloquear as que permitem “vários pontos de vista” quando estes são danosos a pessoas marginalizadas. Mas daí tem a vantagem de poder ter várias contas: dá pra falar com gente mais ao centro em lugares como masto.ai e mais à direita em lugares como shitposter.club, se é essa a ideia. Também acho que pessoas das instâncias amigáveis a estas ou outras similares devem ser mais receptivas a quem está em tais instâncias do que quem está em, por exemplo, servidores visivelmente anarquistas, comunistas ou de grupos marginalizados.</p>
<p dir="auto">As contas de servidores sem muita moderação ou com moderação reaça provavelmente não vão ter contato com servidores que se preocupam mais com justiça social. Mesmo assim, acredito que seja até saudável ter uma separação entre uma conta feita pra educação ou outra forma de ação e uma conta pessoal onde dá pra fazer amizades genuínas e evitar encarar reaças. E acho isso bem mais maravilhoso do que uma liberdade total entre todos os servidores.</p>
]]><![CDATA[Do que sinto falta na representatividade não-binária]]>https://amplifi.casa/~/Asterismos/O%20que%20sinto%20falta%20na%20representatividade%20não-binária/2022-11-28T04:12:50.066123+00:00Asterhttps://amplifi.casa/@/Aster/2022-11-28T04:12:50.066123+00:00<![CDATA[<p dir="auto"><em>Este texto é para o <a href="https://ajudanhincq.wordpress.com/2022/11/01/chamada-rodizio-nhincq-de-11-22/" rel="noopener noreferrer">segundo Rodízio NHINCQ+</a>. Seu tema é Representatividade.</em></p>
<p dir="auto">Eu acho que o conceito de não-binaridade é útil como um agrupamento político. Não no sentido de que todas as pessoas não-binárias possuem as mesmas ideologias, mas no sentido de demandas e questionamentos trazides para uma sociedade exorsexista. Por exemplo:</p>
<ul dir="auto">
<li>Espaços não deveriam ser divididos apenas entre homens e mulheres se há pessoas que não fazem parte de nenhuma dessas categorias;</li>
<li>Linguagens pessoais não deveriam ser divididas apenas entre a associada com mulheres ou com feminilidade e a associada com homens ou com masculinidade se existem pessoas desconfortáveis em terem que escolher entre apenas uma entre tais possibilidades;</li>
<li>A presença de gênero (ou “sexo” mas de forma vista como gênero) em documentos deve ser questionada, visto que existem pessoas gênero-fluido ou de gêneros cujos termos não foram cunhados ainda mas que podem vir a se tornar termos indispensáveis para suas descrições, entre outras. Além disso, como identidade de gênero é algo pessoal e subjetivo, não faz sentido tratar tal questão como algo tão identificável como data de nascimento ou altura;</li>
<li>Se há uma variedade inquantificável de identidades de gênero, sendo que a maioria das quais é independente de expressão de gênero, não faz sentido julgar o gênero de alguém por sua aparência.</li>
</ul>
<p dir="auto">Porém, quando se trata de representação na mídia, sinto que alguém ser não-binárie por si só não é suficiente.</p>
<p dir="auto">Entendo que é importante que pessoas de todas as idades tenham contato com a ideia de que nem todo mundo é homem ou mulher. Que, de início, tudo bem que a representação não-binária se dê por meio de personagens cujo gênero não é especificado dentro da mídia (apenas por comentários de criadóries) e que sua sinalização seja somente pelo uso de they/them (que, com sorte, podem ser traduzidos como ê/elu/e ou le/ile/e por aqui ao invés de os/eles/os ou algum conjunto padrão).</p>
<p dir="auto">Mas tais experiências não ressoam comigo.</p>
<p dir="auto">Assim, eu não tenho problemas com mundos de fantasia onde exorsexismo não é um problema (bom exemplo atual: <em>The Owl House</em>, mas quem não é familiar pode pensar talvez em <em>Undertale</em> ou <em>Steven Universe</em>). Não vejo problema nisso por si só. Eu vejo mais problemas em histórias que são feitas para serem realistas mas que ainda possuem elementos pouco realísticos (ler, ou melhor, não ler: <em>Todos, Nenhum: Simplesmente Humano</em>).</p>
<p dir="auto">Também sei que muitas pessoas reais não se definem além de não-binárias. E que muitas das quais se definem além disso são <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/agenero/" rel="noopener noreferrer">agênero</a>, <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/demigenero/" rel="noopener noreferrer">demibinárias</a> ou <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/bigenero/" rel="noopener noreferrer">bigênero</a> homem/mulher. Ou seja: ao tentar fazer alguma mídia popular e fácil de entender, dificilmente alguém vai pensar em elaborar personagens <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/neurogenero/" rel="noopener noreferrer">neurogênero</a>, <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/xenogenero/" rel="noopener noreferrer">xenogênero</a> ou mesmo <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/aporagenero/" rel="noopener noreferrer">aporagênero</a>.</p>
<p dir="auto">E, enquanto consigo pensar em vários conjuntos diferentes envolvendo neolinguagem que são usados por váries na anglosfera - xe/xem, ze/hir, ne/nem, e/em, ey/em, fae/faer, etc. - a possibilidade de mídias lusófonas tentarem usar algo além de artigos ê, le, e, u ou nenhum, pronomes ile ou elu e final de palavra e são mínimas.</p>
<p dir="auto">Não acho que vou presenciar uma grande quantidade de personagens usando eld ou elz tão cedo. Quem dirá ael, ale, ilae, ily, il ou vários outros neopronomes interessantes. Então, é: a possibilidade de ver experiências próximas da minha representadas em mídia é mínima.</p>
<p dir="auto">Enfim, sensações de gênero são algo que eu gosto de presenciar em relatos e isso é carregado para a ficção também. Acho que eu não faço tanta questão de ter como representação pessoas com o meu gênero ou de identidades de gênero parecidas, em comparação a ter reflexões sobre gênero em geral.</p>
<p dir="auto"><a href="https://www.krakencollectivebooks.com/books/baker-thief/" rel="noopener noreferrer"><em>Baker Thief</em></a> é um livro com protagonista bigênero; faz tempo que li, mas tenho quase certeza que Claire reflete sobre a questão de se apresentar como homem durante o trabalho mas como mulher quando está roubando exocores. <a href="https://www.barnesandnoble.com/w/pixel-lexa-chara-meadows/1129993455" rel="noopener noreferrer"><em>Pixel</em></a> tem várias passagens que indicam que um dos motivos de protagonista se isolar tanto é a questão da maldenominação. São bons exemplos do que quero ver mais por aí.</p>
<p dir="auto">(Coincidentemente, ambos os livros basicamente também lidam com relações entre pessoas arromânticas alossexuais e pessoas alorromânticas assexuais, o que é uma dinâmica que gosto de ver também.)</p>
<p dir="auto">Se olhar lugares como <a href="https://teddit.net/r/XenogendersAndMore" rel="noopener noreferrer">/r/XenogendersAndMore</a>, tem um monte de OCs (<em>original characters</em>; personagens originais) e interpretações de personagens existentes como xenogênero ou de outras identidades de gênero incomuns. Mas, novamente, isso não significa muita coisa pra mim quando não há uma exploração.</p>
<p dir="auto">Não que identidades de gênero precisem ter uma razão (e acho bem ruim quando tentam fazer justificativas biológicas para ausência, fluidez ou multiplicidade de gênero). Pessoas e personagens também podem ser algo sem haver muita reflexão sobre isso.</p>
<p dir="auto">No entanto, a ausência de reflexões sobre gêneros de uma forma que não tem (só) a ver com corpo ou com papéis de gênero é o que me faz falta nas representações não-binárias que existem por aí. Uma maior diversidade de identidades de gênero e de conjuntos de linguagem seria agradável e importante, mas eu quero consumir mídia que não só faz isso mas que vai além!</p>
]]><![CDATA[no homo (mas de forma não-binária)]]>https://amplifi.casa/~/Asterismos/no%20homo%20(mas%20de%20forma%20não-binária)/2022-10-21T00:02:55.530850+00:00Asterhttps://amplifi.casa/@/Aster/2022-10-21T00:02:55.530850+00:00<![CDATA[<p dir="auto"><em>Esta é uma postagem para o <a href="https://ajudanhincq.wordpress.com/2022/09/21/chamada-rodizio-nhincq-de-10-22/" rel="noopener noreferrer">primeiro Rodízio NHINCQ+</a>. Seu tema é <strong>Gênero, orientação e a relação entre tais conceitos</strong>.</em></p>
<h3 dir="auto">(gai e eu)</h3>
<p dir="auto">Pessoalmente (ou seja, peço que não se ofenda quem tem uma perspectiva diferente), nunca gostei do termo <a href="https://www.lgbtqia.wiki/wiki/Gai" rel="noopener noreferrer">gai</a>.</p>
<p dir="auto">Pra quem não conhece: é um termo feito para pessoas não-binárias que “se sentem gays”, não (necessariamente) no sentido de sentirem atração pelo mesmo gênero mas sim no sentido de terem uma conexão com heterodissidência. Vale reforçar que, na anglosfera, a palavra gay também tem uma conotação mais inclusiva do que na lusosfera, onde tal palavra é associada muito mais com homens que provavelmente só sentem atração por homens.</p>
<p dir="auto">Só que: foi um termo cunhado no final de 2017. Ele veio depois de <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-termos-juvelicos/" rel="noopener noreferrer">diamórique, enebeane, orbisiane, quadrisiane, dórique e trízique</a>, e imediatamente “pegou” muito mais do que esses termos no Tumblr, ao menos na época. (sarcasmo) Porque né, pra quê ter que explicar termos de atração vinda de pessoas não-binárias mais originais e menos ambíguos quando é possível continuar se dizendo gay, só que com uma letra trocada? (/sarcasmo)</p>
<p dir="auto">Mas, além da questão de pessoas não-binárias substituírem gay em seus vocabulários por gai ao invés de dia (versão abreviada informal de diamórique), tem a questão de que eu nunca me senti gay, em nenhum sentido comum da palavra. Assim, a popularização de gai me deixou de fora da representação de questões de atração mais uma vez, algo que também ocorre quando se fala da atração por pessoas binárias de uma perspectiva binária ou alinhada a um gênero binário.</p>
<h3 dir="auto">(a questão cultural)</h3>
<p dir="auto">E aí esta é uma questão pessoal. Uma que imagino que pessoas gais com certas experiências passem pelo “oposto”. Porque, até onde vejo, o apego de muitas pessoas não-binárias a termos como gay e lésbica vem de um histórico dentro destas comunidades. Um histórico que fica difícil de ignorar e largar, por mais que tais termos possam não ser precisos num “sentido objetivo” da coisa.</p>
<p dir="auto">Por exemplo, se uma pessoa ficou anos socializando e acompanhando um monte de material lésbico/sáfico direcionado a um público lésbico, mas eventualmente descobriu que não é mulher, por mais que outras pessoas a vejam como mulher que gosta de mulheres: essa pessoa vai estar confortável em subitamente largar a identidade lésbica para adotar algum termo que poucas pessoas sequer conhecem, que não possuem quase nenhum histórico e que são pouco utilizados demais para uma comunidade coesa? E, caso a pessoa realmente não se sinta mais confortável em se dizer lésbica: ela merece ser alvo de escárnio por usar um termo que a lembre de tal sensação de comunidade?</p>
<p dir="auto">Pelo contrário, eu nunca me vi como adjacente a homem gay ou mulher lésbica. Minha descoberta de orientação passou por “pessoa que simplesmente não vê graça em ninguém mas que sabe que tem que fingir atração aparentemente duárica pra que o resto deixe em paz”, daí por “gostaria de ter relações com homens em teoria mas com nenhum guri que conheço na prática”, depois assexual, depois “demissexual provavelmente hétero”, depois demissexual birromântique, depois demissexual arofluxo bi, depois demissexual poliarofluxo…</p>
<p dir="auto">Minha a-espectralidade e, posteriormente, minha não-binaridade (ou, especificamente, <a href="https://starrypride.neocities.org/alibinary/sistema.html" rel="noopener noreferrer">ideo-exobinaridade</a>) me isolaram da ideia de frequentar espaços/comunidades/eventos/etc. para pessoas binárias atraídas por pessoas binárias. E, mesmo na época que eu estava aberte a experiências com gente desconhecida, os espaços que fui que eram mais carregados de expectativas alo eram também carregados de duaricismo, e eles foram poucos devido a eu ter sido ume adolescente autista com dificuldades pra socializar ou entender situações sociais.</p>
<p dir="auto">E esse isolamento dos meios LG (lésbicos e gays, no caso) acaba pesando em outros momentos também. Porque, por ser uma pessoa não-binária, acabo não tentando me socializar muito com gente que vai me sugar a energia até eu conseguir enfiar na cabeça a questão da forma certa de se referir a mim envolver neolinguagem. Mas daí, mesmo em espaços onde boa parte das pessoas não é LG, binária e/ou cis, ainda sinto que estas pessoas tiveram toda uma imersão cultural em espaços que nunca fiz e nunca farei parte, em mídia que nunca tive motivo nenhum para ter interesse, e por assim vai.</p>
<p dir="auto">Quando se fala sobre incluir pessoas que não são lésbicas ou gays em espaços NHINCQ+ - espaços, no caso, que se propõem a incluir quem é múlti, trans, assexual, arromântique, intersexo, não-binárie e/ou afins - a questão também é sobre isso. Sobre não presumir que todas as pessoas vão estar confortáveis em serem chamadas por termos que se referem a pessoas LG por não serem hétero e/ou não serem percebidas como tal. Sobre não presumir um interesse universal em certos assuntos ou certas experiências.</p>
<p dir="auto">Isso, aliás, se aplica também a pessoas que são lésbicas e gays. Só que, enquanto estas ao menos possuem uma certa gama de variedade de espaços, as coisas são mais complicadas para identidades menos conhecidas, que são aceitas em menos espaços “LGBT”, que não conseguem achar um único grupo ativo com pessoas que possuem as mesmas experiências em questão de identidade de gênero e/ou orientação.</p>
<h3 dir="auto">(a questão da precisão identitária)</h3>
<p dir="auto">Como já disse, não sou homem ou mulher ou próxime a isso. Só que, por definição, gai é um termo amplo. Se eu me digo diamórique por ser capaz de sentir atração por certo(s) gênero(s), também posso me dizer gai.</p>
<p dir="auto">No entanto, não vejo minha atração por ninguém como “gay de forma não-binária”. Nenhuma das minhas atrações vai ser hétero por definição, e teoricamente eu poderia ser capaz de sentir atração por alguém com o mesmo gênero do que o meu ou que tenha um gênero parecido, mas não acho que isso é uma parte fundamental ou necessária da minha identidade.</p>
<p dir="auto">Eventualmente, foi cunhado um termo complementar a gai chamado strayt (pra ser parecido com straight, uma forma de dizer hétero ou não-queer na língua inglesa, dependendo do contexto). Strayt, assim como gai, não é um termo com restrição nenhum. Qualquer atração que a pessoa diamórica possa interpretar como “hétero de forma não-binária” poderia levar alguém a se classificar como strayt.</p>
<p dir="auto">De uma perspectiva completamente simplista, eu me sinto mais strayt do que gai. Minha atração geralmente é por gêneros diferentes, e inclusive geralmente é por pessoas que não são do mesmo gênero que me foi designado também.</p>
<p dir="auto">Só que, fora brincando, ou com o surgimento improvável de uma comunidade relevante sobre o assunto, eu provavelmente não me identificaria com o termo. Dizer-me hétero, mesmo “de forma não-binária”, ainda é compactuar com o heterossexismo, ainda é tentar me colocar num molde que não me serve só para fingir que tenho uma atração menos desvalorizada e ignorada.</p>
<p dir="auto">É me rebaixar à ideia de pessoas binárias de que no final minha identidade de gênero não é tão importante assim, e que está tudo bem me tratar como uma pessoa binária do gênero que pensam que eu sou. Porque não há como realmente alguém reinvindicar ser hétero sem reinvidicar ser uma pessoa binária. E, num contexto onde muitas pessoas não-binárias se dizem hétero por pura ignorância de que termos podem usar para sua heterodissidência - escolhendo termos de acordo com seu gênero designado ou redefinindo hétero como “atração por gênero(s) diferente(s)” ainda que a posição de poder hétero não inclua isso - não me desce bem usar um termo adjacente a hétero.</p>
<h3 dir="auto">(a conclusão)</h3>
<p dir="auto">Peço que tanto quem se diga gai quanto quem se diga strayt considere também reinvindicar uma identidade diamórica. Ser diamórique se encaixa em ambas as experiências, e dá uma oportunidade maior para a criação de espaços que priorizem tal identidade.</p>
<p dir="auto">Também peço novamente para considerar que nem toda pessoa não-binária vai se ver como “meio gay” ou “gay por padrão”. A ideia monossexista de que só existem duas orientações válidas (e, inclusive, também considero relacionada ao monossexismo a ideia de que existe um número extremamente limitado de “orientações de verdade”) não deveria estar sendo reproduzida em espaços criados por e destinados a pessoas que não se encaixam parcialmente ou totalmente em gêneros binários por mais que aparentem ser os mais comuns.</p>
<p dir="auto">No fim, esta é uma postagem sobre o isolamento de pessoas diamóricas, e como tal isolamento se multiplica quanto mais alguém está fora de normas diferentes da binaridade. E também um pedido de reflexão sobre o apego não-binário a conceitos que centralizam ideais próximos ao binário de gênero, por mais que não seja um pedido para qualquer pessoa deixar de usar termos que sejam boas descrições para o que sente.</p>
]]><![CDATA[Invalidação, indiferença e validação cissexista]]>https://amplifi.casa/~/Asterismos/Invalidação,%20indiferença%20e%20validação%20cissexista/2022-07-03T22:06:51.310203+00:00Asterhttps://amplifi.casa/@/Aster/2022-07-03T22:06:51.310203+00:00<![CDATA[<p dir="auto">AC: exorsexismo, cissexismo, maldenominação, menções a reducionismo e a partes do corpo categorizadas como pertencentes a gêneros específicos</p>
<p dir="auto">Noutro dia, eu almocei com alguém cis em um lugar sem banheiro neutro, e comentei que não queria ir em banheiros direcionados a gêneros binários. Eu falei que esperaria chegar em outro lugar para ir ao banheiro, já que minha vontade de ir não era nada urgente.</p>
<p dir="auto">A pessoa me falou que, mesmo sendo mulher, já foi em banheiro masculino uma vez por ser mais vazio, e que eu não deveria deixar a marcação de gênero me impedir de usar o banheiro que eu quiser na hora que eu quiser. A questão que eu acho que a pessoa não entendeu é: são situações completamente diferentes.</p>
<p dir="auto">Para que quem esteja lendo isso tenha noção do que estou dizendo aqui:</p>
<p dir="auto"><strong>1. Em praticamente toda interação fora de casa, muitas vezes até com gente que me conhece, que foi recém corrigida e/ou que tem acesso ao meu perfil, eu sou maldenominade.</strong> Uma das primeiras palavras que usam para me chamar a atenção geralmente é senhora, senhor, menina, menino, moça ou moço. Eu uso sempre final de palavra <em>e</em> para me referir a mim, mas isto é quase sempre desconsiderado. Se eu estou junto com outra pessoa, mesmo que a outra pessoa não seja mulher ou use a/ela/a, o conjunto usado é frequentemente as/elas/as. A língua portuguesa é extremamente marcada, então o uso do final <em>a</em> aparece em praticamente toda frase, independentemente de eu estar de binder e/ou roupas da dita “seção masculina”. Se me leem como algo que não é mulher, me leem como homem.</p>
<p dir="auto"><strong>2. Em praticamente qualquer aviso, rótulo ou discussão sobre corpos como o meu, termos como “da mulher” ou “sexo feminino” são utilizados.</strong> Todo produto relacionado com higiene vaginal ou menstruação presume que a pessoa usando o produto usa a/ela/a, e muitos são marcados como femininos ou para mulheres. A maioria é rosa, e muitos usam o símbolo de Vênus, que representa mulheres. Informações ou exames relacionados a seios, útero ou vulva também presumem mulheridade e a linguagem a/ela/a. Mesmo minha variação intersexo é descrita como algo que “ocorre em pessoas do sexo feminino”.</p>
<p dir="auto"><strong>3. Em espaços separados por gênero, não existe seção que não seja para homens ou para mulheres, para pessoas femininas ou para pessoas masculinas.</strong> Existem coisas para todes, algumas vezes até chamadas de “agênero”, de “gênero-fluido” ou de “gênero neutro” (que são identidades específicas, e não termos adequados para se referir a todas as pessoas não-binárias ou para todo mundo, mas enfim), e existem coisas separadas. Banheiros, vestiários, cortes de cabelo, lojas de roupas e lojas de acessórios muitas vezes são classificades como pertencentes a uma ou outra categoria binária. Em certos casos, como a questão de lojas, até dá pra ignorar isso, mas considera-se que a exclusividade de gênero de banheiros e vestiários deve ser respeitada num geral. Além disso, admito que nem sei o que acontece quando uma pessoa não-binária vai num bar ou salão onde há preços diferentes dependendo do gênero binário ou da qualidade de gênero associada.</p>
<p dir="auto"><strong>4. Espaços para pessoas não-binárias são poucos e limitados.</strong> Eu nunca vi um curso, um grupo de encontro ou o que for para pessoas não-binárias que fosse regular. Os que tecnicamente me incluem, e que nem tendem a ser espaços tão interessantes ou regulares, são: espaços “LGBT”, “trans”, “para mulheres e pessoas não-binárias” e “para mulheres e pessoas trans”. Em todos estes, geralmente estou no meio de um monte de gente binária que presume que também sou e que, novamente, não respeitam meus conjuntos de linguagem ou reclamam de “como é difícil” não usar conjunto nenhum ou usar neolinguagem. As poucas pessoas não-binárias que estão nestes espaços frequentemente são reducionistas e acham que tá tudo bem que o tratamento alheio sempre presuma que a pessoa seja basicamente homem ou basicamente mulher. Não adianta usar binder ou buttons trans com meus conjuntos de linguagem: ou me tratam como mulher cis ou (raramente) como homem trans. Ah, e nem todos esses espaços presumem que vai ter alguém querendo ir em um banheiro que não esteja marcado como “feminino” ou “masculino”.</p>
<p dir="auto">A questão é: embora exista a questão de certas pessoas cis terem dificuldades em serem aceitas como do seu gênero por conta de características vistas como fora da norma, há uma gama muito grande de espaços, produtos e convenções sociais que não só aceitam os gêneros de pessoas cis, mas também os reafirmam constantemente como reais e naturais.</p>
<p dir="auto">Como pessoa não-binária, eu não só não tenho a afirmação frequente do meu gênero (porque não faz sentido alguém advinhar meu gênero, ou lojas fazerem roupas para diversas identidades não-binárias específicas quando coisas não-binárias num geral venderiam mais, e coisas pra pessoas binárias vendem mais ainda, e por assim vai), mas também passo por tentativas constantes de erosão da minha identidade de gênero e da minha linguagem pessoal.</p>
<p dir="auto">(Tal erosão não realmente muda a identidade de ninguém, mas muita gente aceita conjuntos binários ou tratamento binário mais por conta disso do que por uma vontade real de se categorizar de tais formas.)</p>
<p dir="auto">Vivo em uma sociedade onde é simplesmente negado o meu direito de usar um conjunto de linguagem específico ou de ter meu corpo reconhecido como do meu gênero. Vivo em uma sociedade onde muitas vezes não são dadas nem opções livres a pessoas de quaisquer identidades de gênero.</p>
<p dir="auto">Gostaria de ressaltar que nem estou defendendo que eu tenha que ter minha identidade de gênero validada constantemente, e sim que ela <em>não seja invalidada constantemente</em>. São duas coisas diferentes, embora pessoas cis muitas vezes não consigam entender a diferença.</p>
<p dir="auto">Aqui vai um exemplo: expressar a leitura de um corpo como de alguém que usa o conjunto o/ele/o está <strong>validando</strong> a linguagem pessoal da pessoa que usa o/ele/o. Porém, se a pessoa <strong>não</strong> usar tal conjunto, isso está <strong>invalidando</strong> ativamente a linguagem pessoal da pessoa.</p>
<p dir="auto">Agora, se nenhum conjunto de linguagem específico é usado para a pessoa, a pessoa não está sendo validada, mas também não está sendo invalidada. É essa a ideia de não presumir linguagem pessoal alheia, de usar um conjunto que não seja a/ela/a ou o/ele/o como neutro universal, e de não classificar características biológicas como femininas ou masculinas. Pessoas ainda estão livres para se classificarem individualmente como quiserem, mas, em um contexto onde não se conhece a pessoa à qual está sendo referida, não há nem validação e nem invalidação.</p>
<p dir="auto">Finalmente, enfim, posso voltar à questão do banheiro.</p>
<p dir="auto">Uma pessoa cis entrando no banheiro de outro gênero porque era o banheiro que estava vazio é uma escolha pessoal de invalidar o próprio gênero temporariamente por questões de praticidade (e possivelmente saúde). A mesma coisa se aplica se, por exemplo, uma mulher quiser comprar um produto feito para homens, ou se um homem quiser usar uma roupa que veio de uma loja marcada como feminina.</p>
<p dir="auto">Porém, a minha entrada em um banheiro (ou outro espaço) binário é basicamente uma invalidação extra. É algo que eu estou escolhendo fazer ou me forçando a fazer que reforça que pessoas como eu não existem e/ou não devem ser respeitadas, <strong>em cima de todas as outras invalidações constantes</strong> que apontei ali em cima.</p>
<p dir="auto">Se uma mulher cis entra num banheiro para homens, ela não precisa ter medo de deixar de ser tratada pela linguagem certa, de reforçar a ideia de que a identidade que ela diz que tem é falsa, e por assim vai. Mas se alguém está em cima do muro sobre respeitar a minha identidade, e a pessoa vê eu entrando em um “banheiro feminino”, usando “produtos de higiene feminina” e afins, isso reforça a sua visão de que o cissexismo está mais certo sobre como eu devo ser tratade do que eu, por mais que eu não tenha culpa em não existir um espaço ou produto que esteja marcado de forma mais inclusiva.</p>
<p dir="auto"><strong>Observação final:</strong> Eu estou falando isso do ponto de vista de uma pessoa não-binária que é vista como mulher cis, cujas roupas muitas vezes também estão dentro dos padrões do que uma mulher cis vestiria. Quando se fala sobre banheiros e vestiários, há questões muito mais pesadas quando se trata de pessoas percebidas como homens entrando em “banheiros femininos”, ou de homens trans e pessoas não-binárias que querem usar os espaços marcados como masculinos sendo que “parecem mulheres”.</p>
]]><![CDATA[Terminologia NHINCQ+ III: Além dos bordões]]>https://amplifi.casa/~/Asterismos/Terminologia%20NHINCQ+%20III:%20Além%20dos%20bordões/2022-06-10T19:02:35.501471+00:00Asterhttps://amplifi.casa/@/Aster/2022-06-10T19:02:35.501471+00:00<![CDATA[<p dir="auto">Slogans são uma maneira fácil de repassar mensagens de forma curta e direta. Eles são usados em diversos contextos, desde corporativos até políticos, e é comum que sejam usados para convencer ou intrigar pessoas a respeito de certo assunto. Por isso, faz sentido que comunidades <a href="https://ajudanhincq.wordpress.com/2019/02/13/ola-mundo/" rel="noopener noreferrer">NHINCQ+</a> utilizem certas frases para destacar injustiças ou tratamentos apropriados.</p>
<p dir="auto">No entanto, a simplicidade de tais frases faz com que certas ideias sejam levadas a extremos danosos. Questões NHINCQ+ são cheias de nuance, por conta de como diferentes identidades se manifestam e/ou interagem entre si, então a redução de informações que deveriam estar acompanhadas de exceções e poréns a algumas palavras mais fáceis de serem espalhadas acaba gerando problemas.</p>
<p dir="auto">Isso não significa que frases simples sejam sempre erradas e nocivas. Elas podem ser ou terem sido importantes em contextos apropriados. O problema maior é usar elas como verdades absolutas, ao invés de simplificações que são apenas pontos de partida para seus assuntos. A questão é que mesmo que seja importante poder espalhar mensagens de inclusão e justiça, também é importante entender os motivos pelos quais certas pessoas podem ver tais frases como sinais de ignorância, exclusão ou ódio.</p>
<h3 dir="auto">Amor é amor</h3>
<p dir="auto">Esta frase é usada com a intenção de igualar relacionamentos aceitos pela sociedade (em geral, relacionamentos românticos e sexuais entre um homem e uma mulher onde ambas as pessoas são conformistas de gênero, perissexo e cisgênero) a relacionamentos que são vistos como menos verdadeiros, puros, desejáveis ou possíveis.</p>
<p dir="auto">Na maior parte das vezes, isso tem a ver com dizer que relacionamentos sexuais e/ou românticos entre dois homens ou duas mulheres são igualmente existentes, verdadeiros e/ou possíveis. Porém, também é possível usar a frase para defender relacionamentos que não são românticos + sexuais, defender relacionamentos que envolvem pessoas trans, não-binárias e/ou intersexo, defender relacionamentos românticos e/ou sexuais que envolvem mais de dois componentes e afins.</p>
<p dir="auto">O problema é que a palavra amor, ainda que não seja sempre equivalente a amor romântico, possui tal conotação pesada para pessoas arromânticas, que são vistas como “menos” por não conseguirem se apaixonar (ou, se conseguirem, não com a mesma frequência e/ou não da mesma forma que pessoas alorromânticas). Se está tudo bem apoiar todas as formas de amor porque são iguais, isso prejudica pessoas que não podem ou querem centralizar relacionamentos românticos em suas vidas.</p>
<p dir="auto">A expressão também é insuficiente para falar da comunidade NHINCQ+ inteira, ainda que muites tratem como se fosse. E, assim, questões trans, intersexo, arromânticas e afins são ignoradas ou colocadas em segundo plano, em nome de centralizar amor não-duárico.</p>
<p dir="auto">No entanto, a frase é vista como bonita e impactante, o que também ajuda a colocar outras injustiças enfrentadas por pessoas da comunidade debaixo do tapete. É muito mais fácil uma empresa dizer que todas as formas de amor devem ser respeitadas do que dizer que presumir gênero e linguagem pessoal de pessoas desconhecidas é uma atitude nociva que deveria ser combatida, por exemplo.</p>
<h3 dir="auto">Não são pronomes preferidos, são só pronomes</h3>
<p dir="auto">Quando pessoas trans começaram a exigir que seus conjuntos de linguagem pessoais fossem utilizados, surgiu o termo “pronome preferido”, para indicar que certas pessoas não teriam preferências óbvias de conjuntos de linguagem.</p>
<p dir="auto">[A questão de muita gente ainda tratar <em>pronome(s)</em> como sinônimo de <em>conjunto de linguagem</em> é uma questão separada que não vou desenvolver aqui. Recomendo <a href="https://amplifi.casa/%7E/Asterismos/motivos-para-n%C3%A3o-usar-pronome-d-pronome-como-indica%C3%A7%C3%A3o-de-conjuntos-de-linguagem/" rel="noopener noreferrer">este texto</a> e <a href="https://amplifi.casa/%7E/Asterismos/artigo-pronome-final-de-palavra" rel="noopener noreferrer">este</a> para saber mais.]</p>
<p dir="auto">Eventualmente, porém, pessoas começaram a perceber que isso faz com que pessoas trans (ou <a href="https://bloguealternative.wordpress.com/2020/05/02/nao-conformidade-de-linguagem/" rel="noopener noreferrer">NCL</a>) tivessem seus conjuntos de linguagem tratados como <em>preferidos</em>, mas não necessariamente <em>obrigatórios</em> como deveriam ser. Pessoas cis que usam conjuntos atribuídos aos seus gêneros geralmente possuem seus conjuntos respeitados, mas outras deveriam lutar para que suas preferências fossem respeitadas.</p>
<p dir="auto">Por conta disso, houve e há algo como uma campanha contra o uso do termo <em>preferência</em> e de termos derivados quando se trata de linguagem pessoal. E é daí que vem a frase.</p>
<p dir="auto">Como alguém que tem seus conjuntos vistos como preferências que não precisam ser respeitadas o tempo todo, entendo completamente o surgimento dessa retórica. Porém, às vezes isso é levado longe demais, de forma que dificulta a expressão de preferência entre conjuntos. Por exemplo:</p>
<ul dir="auto">
<li>Uma pessoa pode sinceramente não se sentir maldenominada com qualquer conjunto, mas ainda assim preferir algum conjunto específico, como ê/elu/e;</li>
<li>Uma pessoa pode se sentir confortável tanto com le/ile/e quanto com i/il/i, mas gostar mais de quando usam i/il/i para se referir a ela;</li>
<li>Uma pessoa pode usar -/[qualquer neopronome]/e, mas ter preferência por neopronomes que contenham a letra A, como al, ale e ila.</li>
</ul>
<p dir="auto">É difícil discutir sobre ou expressar tais nuances quando qualquer menção a preferir um conjunto (ou elemento de conjunto, como pronome) é vista como incentivo à maldenominação de pessoas trans/NCL, por meio de supostamente dizer que “conjuntos são preferidos e não obrigatórios” quando certas pessoas realmente só querem expressar suas preferências.</p>
<h3 dir="auto">É só gênero, não identidade de gênero</h3>
<p dir="auto">E aqui vem uma frase com um problema similar, mas com repercussões diferentes.</p>
<p dir="auto">Assim como “pronomes preferidos”, “se identificar como certo gênero” é uma expressão usada para explicar situações de pessoas cisdissidentes que eventualmente começou a ser explorada para implicitar que as identidades de gênero de pessoas cisdissidentes são menos reais do que as de pessoas cisgênero. Afinal, o termo identidade de gênero é mencionado com frequência para explicar a existência de pessoas trans, enquanto pessoas cis nas mesmas publicações são tratadas como se só tivessem certo gênero sem que explicações tenham que ser elaboradas.</p>
<p dir="auto">Novamente, consigo entender como é frustrante que uma mulher cis é explicada como “é uma mulher” enquanto uma mulher trans é explicada como “é alguém que se identifica como uma mulher” e uma pessoa não-binária é explicada como “é alguém que não se identifica com nenhum dos dois gêneros” (como se não houvessem gêneros na não-binaridade, ou como se eles não fossem tão reais ou importantes como gêneros binários). Pior ainda quando usam terminologia como “nasceu mulher” ou “nasceu homem”, como se tais gêneros fossem embutidos ao invés de terem sido designados externamente.</p>
<p dir="auto">Enfim, a questão é que identidade de gênero e gênero, embora sejam termos equivalentes em várias situações, não são sempre a mesma coisa.</p>
<p dir="auto"><a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/trigenero/" rel="noopener noreferrer">Trigênero</a> é uma <em>identidade de gênero</em> composta por três <em>gêneros</em>. <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/pomogenero/" rel="noopener noreferrer">Pomogênero</a> é uma <em>identidade de gênero</em> para quem não quer ou pode determinar seu(s) <em>gênero(s)</em>. <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/genero-vacuo/" rel="noopener noreferrer">Gênero-vácuo</a> é uma <em>identidade de gênero</em> que descreve alguém que tem vácuo no lugar de <em>gênero</em> (e, por isso, o termo é muitas vezes utilizado por pessoas completamente <em>sem gênero</em>). Homem, mulher, <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/ilyagenero/" rel="noopener noreferrer">ilyagênero</a>, <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/maverique/" rel="noopener noreferrer">maverique</a>, <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/nimise/" rel="noopener noreferrer">nímise</a>, <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/genero-fofo/" rel="noopener noreferrer">gênero-fofo</a>, <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/juxera/" rel="noopener noreferrer">juxera</a> e <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/proxvir/" rel="noopener noreferrer">proxvir</a> são gêneros, e cada um pode ser a composição completa da identidade de gênero de alguém, mas muitas pessoas possuem rótulos e experiências relacionadas ao conceito de gênero que não são adequadamente descritas como gêneros.</p>
<p dir="auto">Por isso, favor não tratar o termo identidade de gênero como se fosse menos real/sério do que o termo gênero. Várias experiências não-binárias não são gêneros; não no sentido de não serem experiências reais, mas sim de não serem experiências que podem ser adequadamente categorizadas como <em>ter um gênero</em>, por mais que os termos que as descrevam sejam as respostas corretas quando alguém pergunta algo como “qual é seu gênero” em um formulário.</p>
<h3 dir="auto">A pessoa não se identifica, a pessoa é</h3>
<p dir="auto">De forma similar à insistência de igualar identidade de gênero com gênero, há uma perda de nuance que exclui certas pessoas ao insistir em tratar <em>identificação como/com</em> como uma forma de diminuir ou invalidar a identidade alheia.</p>
<p dir="auto">Isso vai desde a ideia de que não se deve chamar termos como trans, intersexo ou gay de identidades até a ideia de que qualquer descrição de termo que usa alguma variação de palavras como identificar ou identidade está invalidando o termo sendo descrito.</p>
<p dir="auto">A questão é: <strong>o termo identidade vale para qualquer coisa que identifica alguém.</strong> Não significa que são características mutáveis ou imutáveis, não significa que são características significativas ou apenas curiosidades e não é o que determina se uma pessoa faz parte de um grupo marginalizado ou não. Estilo de roupa, time de futebol, modalidade de gênero, cor dos olhos, idade e nacionalidade podem ser todas coisas que fazem parte da identidade de alguém, e isso não significa que elas não possuem impactos diferentes na vida das pessoas.</p>
<p dir="auto">Novamente, faz sentido querer evitar que publicações usem “ela se identifica como bissexual” ao mesmo tempo que usam “ele é hétero” para falar de outra pessoa. Ou querer que pessoas deixem de usar definições como “pessoas trans se identificam fora do gênero designado” ao invés de “pessoas trans possuem uma identidade de gênero diferente da designada”. Porém, faz sentido usar frases que usem a palavra identidade em certas circunstâncias. Por exemplo:</p>
<ul dir="auto">
<li>Algumas pessoas querem falar de suas identificações passadas; faz mais sentido dizer “eu me identifiquei como pansexual por 5 anos até descobrir que não era” do que “eu fui pansexual por 5 anos”, caso a pessoa acredite que estivesse enganada sobre se encaixar no termo;</li>
<li>É importante poder falar sobre se identificar em volta de algum conceito sem se encaixar no termo por si só; alguém pode querer justificar sua identidade de <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/mulher-nao-binarie/" rel="noopener noreferrer">mulher não-binárie</a> como uma identificação com mulheridade de forma que não pode ser reduzida a ser mulher ou ter mulheridade, por exemplo;</li>
<li>Algumas pessoas podem querer falar sobre se identificarem com um termo acima de outros que também se encaixam, como alguém que diz que se identifica como <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-orientacoes/poli/" rel="noopener noreferrer">poli</a> sem se identificar como <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-orientacoes/bi/" rel="noopener noreferrer">bi</a> ainda que tecnicamente ambos os termos estejam corretos para descrever suas experiências.</li>
</ul>
<p dir="auto">Ainda recomendo usar linguagem como “a pessoa é” ao invés de “a pessoa se identifica como”, na maior parte dos casos. Novamente, o problema é o ódio que já vi direcionado a pessoas tentando descrever experiências usando palavras como identidade, identificar ou identificação, mesmo que muitas vezes este realmente seja o vocabulário mais apropriado.</p>
<h3 dir="auto">Gênero é falso e cada pessoa pode escolher o que quiser</h3>
<p dir="auto">O conceito de gênero é uma construção social, e pessoas devem ter a opção de ignorá-lo caso não queiram participar dele. Eu realmente não me importo se pessoas que supostamente seriam cis estão decidindo que gênero não tem ou não deveria ter significado nenhum para elas, e passando a usar conjuntos de linguagem diferentes, roupas diferentes e termos para identidades de gênero que indicam que não possuem gênero, rejeitam gênero e/ou não se importam com gênero.</p>
<p dir="auto">Acredito que se alguém se sente mais confortável com cisdissidência, esta pessoa deve ser considerada cisdissidente, por mais que a rejeição à sua identidade cis pareça apenas escolha pessoal ou característica superficial. Se uma pessoa rejeita gênero porque quer, ela vai ser tratada da mesma forma pela sociedade do que alguém que rejeita gênero porque há algum tipo de chamado interno intrínseco indicando uma repulsa a gênero.</p>
<p dir="auto">Da mesma forma, consigo entender que várias pessoas cisdissidentes gostam de usar certos termos mais para incomodar gente cissexista ou para outro tipo de diversão do que para indicar como suas identidades de gênero realmente funcionam. Também penso que muitas vezes isso faz com que essas pessoas estejam incorporando tais termos como suas realidades ainda que não sejam identidades tão importantes para elas.</p>
<p dir="auto">Uma analogia: é possível espremer laranjas para tirar seu suco. Também é possível ter água e adicionar suco de laranja em pó para obter um suco de laranja.</p>
<p dir="auto">Tais sucos não vão ser idênticos. E, a partir da água, é possível beber só a água, ou fazer uma série de outras bebidas. Porém, com laranjas, o único líquido que dá pra fazer é suco de laranja, ou outras bebidas a partir de tal suco.</p>
<p dir="auto">A questão é, algumas pessoas não conseguem não ter a experiência de gênero que dizem ter, por mais que possam dar nomes diferentes a tal experiência ou escondê-la totalmente. Enquanto isso, há também pessoas que possuem um grau maior de escolha em relação à identidade de gênero que dizem ter. Nenhum desses grupos merece ter sua identidade atacada pelo outro grupo; não há bons motivos para dividir comunidades em nome da pureza ou da rebeldia quando precisamos de todes es aliades possíveis.</p>
<p dir="auto">Mesmo em um mundo onde identidade de gênero não seja considerada importante ou necessária, não há a necessidade de invalidar as experiências alheias. Tais atitudes possuem ainda menos justificativas quando vivemos em uma sociedade cissexista.</p>
<h3 dir="auto">Pessoas não-binárias são trans</h3>
<p dir="auto">Quando o termo transgênero foi cunhado, a ideia era que fosse um termo guarda-chuva para incluir qualquer pessoa cisdissidente e/ou inconformista de gênero: uma pessoa intersexo ou uma drag queen seriam tão transgênero quanto pessoas binárias que possuem gêneros diferentes dos designados.</p>
<p dir="auto">Com o tempo, o termo foi virando menos inclusivo, de forma que ele é raramente definido de forma que inclui questões além da identidade de gênero ser diferente da designada. E, além disso, comunidades transmedicalistas (que acreditam que há necessidade de disforia física e vontade de passar por transição corporal para considerar alguém verdadeiramente trans) estão sempre tentando deixar o termo transgênero como o mais exclusivo possível, por meio da invalidação de quaisquer pessoas ou identidades cisdissidentes que “parecem ridículas” sob seus critérios arbitrários.</p>
<p dir="auto">Isso acabou fazendo com que várias pessoas não-binárias duvidassem de seu direito à utilização do termo transgênero, enquanto outras simplesmente o abandonaram. Porém, também houve uma onda de afirmação de que pessoas não-binárias são trans, com o objetivo de incluir essas pessoas e de criar/manter solidariedade entre pessoas não-binárias e pessoas trans binárias.</p>
<p dir="auto">Mesmo assim, ainda existem pessoas que se dizem não-binárias, mas não trans. Além de pessoas inseguras, desinformadas ou que querem evitar ataques, temos:</p>
<ul dir="auto">
<li>Pessoas sem gênero que veem transgênero como um termo definido principalmente por gênero, e portanto inadequado para suas situações;</li>
<li>Pessoas intersexo e não-binárias cujos gêneros designados já estão fora do binário, e que não possuem acesso ao privilégio cis mas que também não se encaixam bem na maioria das definições de transgênero;</li>
<li>Pessoas que fazem parte de culturas onde gênero não é binário e/ou fixo que estão confortáveis em se dizerem não-binárias para facilitar a comunicação, mas que não se veem como pessoas com experiências trans;</li>
<li>Pessoas não-binárias que são parcialmente do próprio gênero designado que estão acostumadas a definições de trans como “pessoa de gênero diferente do designado” que só conseguem ver isso de forma literal, e que portanto não se sentem confortáveis em se considerar trans;</li>
<li>Entre várias outras situações similares.</li>
</ul>
<p dir="auto">Portanto, embora seja importante lutar pelo direito de pessoas não-binárias poderem se considerar trans, também é importante respeitar que nem toda pessoa não-binária quer se dizer trans.</p>
<p dir="auto">Para aprender sobre que modalidades de gênero existem além de trans e cis, sugiro passar <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-modalidades-de-genero/" rel="noopener noreferrer">nesta página</a>.</p>
<h3 dir="auto">Pessoas <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/genderqueer/" rel="noopener noreferrer">genderqueer</a> são <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/nao-binarie/" rel="noopener noreferrer">não-binárias</a> (ou, alternativamente, pessoas genderqueer são pessoas não-binárias cujo gênero só pode ser descrito como queer)</h3>
<p dir="auto">Genderqueer é, assim como transgênero, um termo relativamente antigo que foi sendo simplificado e reduzido em muitas descrições com o passar do tempo (ver: [<a href="http://web.archive.org/web/20181014053502/http://web.archive.org/web/20020614112429/http://alisha_clarke.tripod.com/readings/gender_terms.htm" rel="noopener noreferrer">1</a>], [<a href="http://web.archive.org/web/20190128175011/http://cydathria.com/ms_donna/tg_def.html" rel="noopener noreferrer">2</a>]).</p>
<p dir="auto">Em registros mais antigos, qualquer pessoa desobedecendo normas de gênero poderia se dizer genderqueer. Algumas vezes, isso é interpretado como algo que inclui pessoas inconformistas de gênero e pessoas não-binárias. Outras vezes, pessoas trans em geral são inclusas. Em outras, apenas pessoas não-binárias e pessoas trans inconformistas de gênero. E por assim vai.</p>
<p dir="auto">Mais recentemente, já vi relatos tentando colocar genderqueer como uma identidade não-binária específica relacionada a ser queer/desobedecer normas de gênero.</p>
<p dir="auto">A questão é, como é um termo abrangente que acabou sendo relativamente defasado com o crescimento da popularidade de termos como não-binárie e trans (assim como o termo <em>gender variant</em>, variante de gênero, que também era mais usado anteriormente para se referir a pessoas que saem de normas de gênero), cada vez menos pessoas estão centralizando o termo genderqueer como identidade. Não existem variedades enormes de comunidades genderqueer que dão uma ideia melhor de como o termo é definido da mesma forma que podemos dizer que o termo transgênero mudou de definição com o passar do tempo.</p>
<p dir="auto">Por isso, acho que faz sentido ainda considerar genderqueer como um termo abrangente. Quem usa pode ser cis e inconformista de gênero, ou trans binárie e inconformista de gênero, ou alguém questionando a própria identidade de gênero, ou pessoa fora do binário de gênero que não gosta do termo não-binárie, ou pessoa não-binária que quer descrever seu gênero como queer… e por aí vai.</p>
<p dir="auto">(Texto recomendado para maiores explicações: <a href="http://web.archive.org/web/20190227231339/http://genderqueerid.com/post/11617933299/the-non-binary-vs-genderqueer-quandary" rel="noopener noreferrer">The Non-Binary vs. Genderqueer Quandary</a>)</p>
<h3 dir="auto">Todo mundo que sente atração é mono-orientade ou multiorientade</h3>
<p dir="auto">Muitas vezes, em discussões envolvendo o conceito de monossexismo, presume-se que todas as pessoas são sempre atraídas apenas por um gênero ou sempre atraídas por mais de um gênero completamente distinto.</p>
<p dir="auto">Há uma série de questões a se pensar aí, como:</p>
<ul dir="auto">
<li>E pessoas que não sentem atração por ninguém?</li>
<li>E pessoas cuja atração é vaga ou rara demais para saberem se sentem atração por mais de um gênero ou não?</li>
<li>E pessoas cuja atração é fluida, que talvez até mesmo sintam atração por um gênero 90% das vezes mas atração por mais de um gênero de vez em quando?</li>
<li>E pessoas que sentem atração mais por um gênero do que por outros?</li>
<li>E pessoas que sentem atração por um grupo de gêneros que poderiam ser ditos parecidos, como mulheres, <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/mulher-nao-binarie/" rel="noopener noreferrer">mulheres NB</a> e pessoas <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/poligenero/" rel="noopener noreferrer">poligênero</a> que possuem mulher como um de seus gêneros?</li>
<li>E pessoas que só sentem atração por um grupo de gêneros não-binários, como pessoas completamente fora do binário, ou pessoas <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/xenogenero/" rel="noopener noreferrer">xenogênero</a>, já que ainda que sejam pessoas <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-orientacoes/multi/" rel="noopener noreferrer">múlti</a> atraídas por gêneros diversos, tais grupos muitas vezes são interpretados como “tudo a mesma coisa” por grande parte da sociedade?</li>
<li>E pessoas atraídas só por pessoas sem gênero, ou só por pessoas sem gênero e por um gênero específico?</li>
<li>E pessoas <a href="https://orientando.org/wp-content/uploads/2020/10/Panfleto-orientacoes-alt.pdf" rel="noopener noreferrer">variorientadas</a> que sentem atração sexual por um certo gênero e atração romântica apenas por outro gênero?</li>
</ul>
<p dir="auto">Tudo isso precisa ser pensado quando alguém quer afirmar “pessoas que usam tal termo são mono-orientadas” ou “só pessoas múlti sofrem monossexismo”, por exemplo.</p>
<p dir="auto">Mas o que quero falar aqui é do quanto não dá pra categorizar muitas orientações entre “orientação mono” ou “orientação múlti”, que é algo que vejo acontecendo.</p>
<p dir="auto">Existem orientações que podem ser utilizadas tanto por pessoas que sentem atração só por um gênero quanto por pessoas que sentem atração por mais de um gênero. Praticamente qualquer orientação que inclui atração somente por pessoas não-binárias, ou que entram em certa categoria de gênero (como <a href="https://colorid.es/@termos/105475771698835753" rel="noopener noreferrer">gêneros neutros</a>, xenogêneros ou <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/aporagenero/" rel="noopener noreferrer">aporagêneros</a>) podem ser tanto usadas por pessoas que só sentem atração por certa identidade de gênero específica quanto por pessoas que sentem atração por várias configurações de identidades de gênero que ainda se encaixam na definição do termo.</p>
<p dir="auto">Também existem pessoas que não se veem como múlti, ou que veem suas questões como não necessariamente cobertas por identidades múlti, por conta de como sua fluidez de atração funciona.</p>
<p dir="auto">Enfim, a liminaridade entre identidades mono e identidades múlti é algo que deveria ser pensado melhor antes de publicar certas afirmações ou categorizações.</p>
<h3 dir="auto">Identidade de gênero e orientação são conceitos diferentes/separados</h3>
<p dir="auto">Por conta de como muita gente vê ser hétero como característica intrínseca a ser homem ou mulher “de verdade”, é comum que uma das primeiras coisas a serem marteladas quando se fala de questões NHINCQ+ é que identidade de gênero e orientação são coisas separadas.</p>
<p dir="auto">Em geral, isso é verdade, especialmente para pessoas binárias, que são maioria em tais discussões. Uma pessoa não é menos homem ou mulher por ser <a href="https://colorid.es/@termos/99973197750896721" rel="noopener noreferrer">gay</a>, <a href="https://colorid.es/@termos/99973206511989978" rel="noopener noreferrer">bi</a>, <a href="https://colorid.es/@termos/99973477817549081" rel="noopener noreferrer">pan</a>, <a href="https://colorid.es/@termos/102701670031478109" rel="noopener noreferrer">lésbica</a>, <a href="https://colorid.es/@termos/99973429843613477" rel="noopener noreferrer">assexual</a> ou afins, sendo ela cis, <a href="https://colorid.es/@termos/100070140752450004" rel="noopener noreferrer">ipso</a>, trans ou de qualquer outra modalidade de gênero.</p>
<p dir="auto">E ei, isso também é verdade para grande parte das pessoas não-binárias! Pessoas agênero podem sentir atração só por um gênero - ou seja, não são necessariamente pessoas sem atração alguma ou que não veem diferença entre gêneros - <a href="https://colorid.es/@termos/103023765040184363" rel="noopener noreferrer">femaches</a> não necessariamente sentem que são homens e mulheres por conta de atração por ambos estes gêneros, e por assim vai.</p>
<p dir="auto">Só que, novamente, dizer que essas coisas <em>precisam</em> ser separadas acaba prejudicando pessoas que querem discutir ou se afirmar como pessoas cuja identidade de gênero e orientação são ligadas.</p>
<p dir="auto">Existem pessoas que dizem se ver como sem gênero ou como alheias ao binário de gênero por conta de não sentirem atração alguma, ou por não sentirem atração diferenciada com base na identidade de gênero alheia. Existem pessoas <a href="https://colorid.es/@termos/102352549634402160" rel="noopener noreferrer">gênero-orientação</a> que, usando tal termo ou não, veem seus gêneros como ligados a serem lésbicas, homens gays, <a href="https://colorid.es/@termos/102418857783862773" rel="noopener noreferrer">a-espectrais</a>, múlti ou afins, por conta de como a sociedade vê tais identidades.</p>
<p dir="auto">Existem pessoas que fazem transição física e que sentem que sua orientação mudou desde antes de tal processo. Existem pessoas <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/genero-fluido/" rel="noopener noreferrer">gênero-fluido</a> cujas identidades de gênero e orientações fluem ao mesmo tempo.</p>
<p dir="auto">Pessoas cometem erros, mas mesmo que isso aconteça, há um número grande demais de pessoas com essas experiências para dizer que estão todas enganadas por conta de estereótipos sociais. Apenas cada pessoa pode avaliar as próprias experiências com orientação e identidade de gênero, e não dá pra invalidar tais experiências por elas parecerem complicadas demais para quem quer que só existam identidades NHINCQ+ puras e intocadas por outros aspectos.</p>
<h3 dir="auto">Orientação sexual e romântica são conceitos completamente diferentes/separados</h3>
<p dir="auto">Este é um tópico similar ao tópico acima. Assim como algumas pessoas não têm como separar suas experiências de identidade de gênero e de orientação, outras não conseguem separar seus tipos de atração.</p>
<p dir="auto">Algumas pessoas vão ter uma atração sexual e romântica que flui ao mesmo tempo, tanto para experiências iguais quanto para diferentes. Outras pessoas não conseguem diferenciar entre atrações.</p>
<p dir="auto">Para muitas pessoas, a separação entre a orientação sexual e a orientação romântica é fundamental. Há pessoas que consideram as duas coisas completamente diferentes, e que conseguem entender muito melhor o que sentem por conta da separação, sendo pessoas variorientadas ou não.</p>
<p dir="auto">Porém, algumas vezes há uma pressão que, por mais que venha de um desejo legítimo de combater <a href="https://amplifi.casa/%7E/Asterismos/periorientismo" rel="noopener noreferrer">periorientismo</a>, acaba prejudicando indivíduos que não veem essa separação como relevante ou existente para si.</p>
<p dir="auto">Isso inclui:</p>
<ul dir="auto">
<li>Invalidar rótulos que são explicitamente para pessoas cuja (ausência de) atração sexual e romântica são interconectadas;</li>
<li>Exigir que todas as pessoas revelem sua orientação romântica como independente da orientação sexual;</li>
<li>Reclamar sobre pessoas aparentemente periorientadas com rótulos que parecem contraditórios, exigindo que separem nitidamente o que é orientação sexual e o que é romântica caso sintam que o agrupamento de rótulos é contraditório (ex.: assexual pansexual, gay bi).</li>
</ul>
<br>
<hr>
<br>
<p dir="auto">São essas as coisas que tenho pra trazer hoje. Porém, acho bom sempre questionar “frases feitas” que são usadas para simplificar experiências. Novamente, isso não é por serem ruins ou inúteis, e sim porque não se deve exaltá-las como regras acima de pessoas que relatam que suas experiências as contradizem.</p>
]]><![CDATA[Atualização para versão 0.7.2]]>https://amplifi.casa/~/QuadroDeAvisos/Atualização%20para%20versão%200.7.2/2022-05-21T23:13:33.424552+00:00Asterhttps://amplifi.casa/@/Aster/2022-05-21T23:13:33.424552+00:00<![CDATA[<p dir="auto">Após meses sem atualizar o Plume (por conta dos bugs gerados na última atualização), Amplifi.casa foi finalmente atualizada para a versão 0.7.2!</p>
<p dir="auto">É possível que os problemas com postagens não chegando em outras instâncias estejam resolvidos.</p>
<p dir="auto">Também existem temas novos para blogs, assim como uma ou outra função extra, ainda que eu não tenha testado muito.</p>
]]><![CDATA[O que é RSS, o porquê de ainda existir e como usar]]>https://amplifi.casa/~/Asterismos/o-que-é-rss-o-porquê-de-ainda-existir-e-como-usar/2021-04-02T23:55:25.076327+00:00Asterhttps://amplifi.casa/@/Aster/2021-04-02T23:55:25.076327+00:00<![CDATA[<p><strong>Observação:</strong> Eu uso leitores (ao invés de leitóries, a versão que associo com o <a href="https://orientando.org/guia-de-linguagem-neutra-universal/" rel="noopener noreferrer">conjunto e/elu/e</a>, que uso como neutro) no caso de "programas que leem coisas" porque estou basicamente abreviando "programas leitores de alguma coisa". Portanto, como uso o/ele/o para programa, uso o/ele/o para leitor dentro deste contexto. Também uso navegadores para falar de programas que navegam na internet ao invés de navegadóries pelo mesmo motivo.</p>
<h2>O que é e para que serve</h2>
<p>A história do RSS (ou do Atom, um formato similar que serve para a mesma coisa) não é algo que particularmente me interessa aqui. Também não saberia explicar como tudo isso funciona. Garanto que vários blogs de tecnologia já possuem tais informações, porém.</p>
<p>O que é relevante de dizer aqui é isso:</p>
<h3>RSS é uma maneira de agregar conteúdo que existe desde antes de linhas do tempo serem popularizadas.</h3>
<p>Por exemplo, imagine que alguém descobre um site de notícias do qual gosta. A pessoa então começa a entrar nele todo dia, para saber o que há de novo.</p>
<p>Então imagine que uma pessoa próxima àquela pessoa tem um blog e ela se interessa em acompanhar seu conteúdo. A pessoa também passa a visitar o blog com certa frequência.</p>
<p>O blog então forma uma lista de blogs recomendados, e a pessoa se interessa em, digamos, uns 5 deles. Isso é muita coisa pra lembrar, mas com a função de sites favoritos do navegador, é possível salvar todos eles e visitá-los de vez em quando.</p>
<p>Um dos blogs recomenda uma webcomic - uma história em quadrinhos atualizada página a página em seu site - e depois de terminar o que já foi escrito e querer ver mais, isso já é outra coisa pra ir acompanhando.</p>
<p>O tempo passa e cada vez mais links vão acumulando. Alguns blogs podem ficar inativos, mas ainda há postagem neles a cada semestre, ou mesmo a cada ano, então ainda vale a pena checar. Mais sites de notícias acabam sendo interessantes de acompanhar, ou pelos assuntos diferentes ou para cobrir notícias de regiões diferentes. Aquela primeira webcomic não atualiza faz um tempo, mas a pessoa também acompanha outras três, além de algumas histórias de ficção postadas em uma plataforma específica pra isso.</p>
<p>Uma solução mais fácil do que ficar entrando em cada página no navegador (ou do que manter abas prontas para cada coisa) é usar um leitor de RSS. Ao colocar cada feed (um endereço especial que contém um código pronto que lê as últimas atualizações da página) em um leitor (um programa ou site que agrega feeds para que seja possível acompanhar as atualizações e que procura automaticamente por elas), é possível só abrir uma única página ou um único programa e receber as atualizações de tudo, se/quando elas aparecerem.</p>
<h3><strong>A internet corporativa quer acabar com isso.</strong> Porque não é lucrativo para grandes empresas.</h3>
<p>Para o Twitter e o Instagram (sendo que este é propriedade do Facebook), é mais vantajoso que você siga atualizações de notícias/blogs/HQs/etc. dentro de tais sites/aplicativos, onde podem colocar também anúncios, além de coletar informações sobre o que você está vendo e como está vendo e vendê-las para terceires.</p>
<p>Para o Facebook, é mais vantajoso que outras pessoas sigam dependendo de postagens impulsionadas, e, para isso, precisam haver usuáries vendo tais postagens. Também querem coletar informações sobre você e o que você gosta, para conseguir manipular linhas do tempo de forma que você fique mais tempo usando o site.</p>
<p>Para o YouTube, é mais vantajoso que você veja o conteúdo que o algoritmo recomenda, feito para ser cada vez mais interessante e cativante, mas sempre dentro do próprio YouTube, para que possam passar seus anúncios ou convencer você a pagar para não ter mais que vê-los.</p>
<p>Com a exceção do YouTube - que deixa esta informação bem escondida - nenhum destes sites possui RSS/Atom/algum formato similar. É possível rodar programas que veem o conteúdo e o transformam nesses tipos de feeds, mas eles muitas vezes são bloqueados quando descobertos.</p>
<p>E, cada vez mais, esses sites querem que você tenha uma conta neles, e forneça o maior número de informações pessoais reais que pareça fazer sentido de exigir. Porque, novamente, querem vender suas informações, para então conseguir mandar anúncios que acham convincentes a você. Aliás, é possível que plataformas acumulem e vendam informações <a href="https://www.vox.com/2018/4/20/17254312/facebook-shadow-profiles-data-collection-non-users-mark-zuckerberg" rel="noopener noreferrer">mesmo que você</a> <a href="https://www.vice.com/en/article/jgqbmk/tiktok-data-collection" rel="noopener noreferrer">não tenha conta</a>.</p>
<p>Essas empresas, então, vendem a ideia de que "RSS morreu", como justificativa para não oferecerem feeds que possam ser lidos em outros lugares, e assim esperam que empresas menores ou que pessoas com sites/blogs/etc. pessoais deixem também de usar RSS para mandar atualizações e então façam ao invés disso postagens no Twitter ou no Facebook ou em algum outro desses lugares.</p>
<h3>Mas RSS/Atom não acabou.</h3>
<p>Wordpress, Blogger, Tumblr, Dreamwidth, Mastodon e várias plataformas de podcast ainda usam RSS/Atom. E vários outros tipos de páginas também.</p>
<p>Caso o resto da postagem não dê motivos suficientes para ao menos tentar usar RSS, ofereço outro: o peso reduzido das postagens carregadas por RSS.</p>
<p>Se uma postagem em si só contém imagens e textos, é só isso que carrego no meu leitor de RSS. Não carrego fontes, o layout da página, qualquer javascript que tenha nela, ou pseudojanelas pedindo para fazer conta ou qualquer coisa assim. Além disso, vários leitores baixam o conteúdo de tempos em tempos sem que seja necessário "mandar ir atrás", o que significa que não há nem a espera para baixar o conteúdo da página.</p>
<p>Eu sinceramente não sei dizer o quanto servidores conseguem coletar informações de alguém usando um leitor de RSS. Porém, tenho quase certeza que cookies não estão sendo salvos. E certeza de que se não tenho uma conta, é informação a menos que estou dando em relação a fazer uma conta no próprio site e seguir outras contas lá dentro.</p>
<p>Tem uma questão, porém, de que nem todos os sites mandam todo o conteúdo de suas postagens. Alguns só mandam o título e um trecho inicial, e daí para ver detalhes é necessário abrir o link no navegador. Também percebo que algumas respostas no Tumblr ficam cortadas sem nenhum aviso. Mas estes são casos relativamente raros.</p>
<h2>Como usar</h2>
<h3>Leitores</h3>
<p>Sinceramente, não tenho experiência com muitos leitores.</p>
<p>De comerciais, conheço <a href="https://theoldreader.com/" rel="noopener noreferrer">The Old Reader</a> e <a href="https://www.feedly.com/" rel="noopener noreferrer">Feedly</a>; neles, você tem uma conta e recursos limitados (ainda que isso possa não incomodar quem não quer acompanhar tantos feeds), e pode pagar caso queira uma experiência mais completa. Não faço ideia de como são em relação à privacidade, mas são opções para quem prefere clientes mais fáceis de usar e com mais portabilidade entre dispositivos.</p>
<p>Os que uso são <a href="https://www.thunderbird.net" rel="noopener noreferrer">Thunderbird</a> no computador e <a href="https://f-droid.org/packages/com.nononsenseapps.feeder/" rel="noopener noreferrer">Feeder</a> no celular. (Percebi também que existe outro leitor chamado Feeder que é pago e tem pra desktop, mas o que uso é o aplicativo de código aberto para Android.)</p>
<p>Embora eu sinta falta de poder só rolar a barra e ler o conteúdo inteiro ao invés de clicar em cada coisa, gosto bastante da minha configuração atual. Isso porque:</p>
<ul>
<li>O Thunderbird grava as postagens no meu disco rígido, então mesmo se alguém trocar de endereço ou deletar sua conta, suas postagens estão arquivadas. Isso é bem importante pra mim como alguém que muitas vezes precisa ir atrás da origem ou do significado de algum termo NHINCQ+, por exemplo.</li>
<li>O Feeder, pelo contrário, deleta tudo que eu clico pra ler, além de ter um botão de limpar tudo em certo feed. Isso é útil para quando já li coisas no Thunderbird, e não quero ocupar espaço com elas no celular.</li>
</ul>
<p>Além disso, nenhum desses requer que eu faça uma conta, então não tenho como esquecer a senha ou ter que logar de novo. O máximo que pode acontecer é eu perder meus dados e ter que refazer meus feeds caso um desses pare de funcionar. Ainda assim, é possível ter backups, já que dá pra exportar todos os feeds como um arquivo só que pode ser aberto por outro programa ou por outra versão do mesmo programa.</p>
<p>Mesmo assim, existem outras opções. <a href="http://www.rssowl.org/" rel="noopener noreferrer">RSSOwl</a> parece oferecer uma experiência parecida com a do Thunderbird. <a href="https://tt-rss.org/" rel="noopener noreferrer">Tiny Tiny RSS</a> é uma opção para navegadores e aplicativos que pode ser instalada em um servidor, e quem não tem um servidor próprio ou não quer ter que lidar com isso pode fazer conta em um servidor já existente, como <a href="https://tt-rss.nixnet.services/" rel="noopener noreferrer">Nixnet</a> e <a href="https://tt-rss.snopyta.org/" rel="noopener noreferrer">Snopyta</a>.</p>
<h3>Feeds embutidos</h3>
<p>Dependendo do leitor, é possível que:</p>
<ul>
<li>O endereço do feed tenha que ser exato;</li>
<li>O endereço do feed não precise ser exato, porque o software detecta o feed associado ao endereço colocado.</li>
</ul>
<p>No primeiro caso, isso significa que só colocar uma URL qualquer, como https://amplifi.casa/~/Asterismos, vai gerar algum erro ou feed sem nada. Neste caso, é necessário procurar o link do feed, que é https://amplifi.casa/~/Asterismos/atom.xml, para que o software consiga "puxar" postagens novas.</p>
<p>No segundo caso, daria pra colocar uma URL como https://amplifi.casa/~/Asterismos, porque aí o software vai procurar no código fonte e achar o link https://amplifi.casa/~/Asterismos/atom.xml automaticamente para adicioná-lo à sua lista de feeds.</p>
<p>O que quero fazer aqui é ensinar a como conseguir o endereço direto do feed.</p>
<p>Muitos blogs e sites similares já possuem acesso fácil a seus feeds. É só tentar localizar na página algo como RSS, Atom, ou talvez algo como Inscrever/Inscrições/Inscreva-se ou Feed, ou uma imagem como <a href="https://duckduckgo.com/?t=ffab&q=rss+icon&iax=images&ia=images" rel="noopener noreferrer">estas</a>, e copiar o link.</p>
<p>Outros não disponibilizam isso tão facilmente. Para facilitar, vou deixar aqui uma lista de onde serviços comuns colocam seus feeds RSS ou Atom:</p>
<ul>
<li><strong>YouTube:</strong> https://www.youtube.com/feeds/videos.xml?channel_id=(ID do canal) | <em>Exemplo: https://www.youtube.com/feeds/videos.xml?channel_id=UCRAqYSJPpu0C14FKOQvIMwA</em></li>
<li><strong>Wordpress:</strong> (endereço)/feed | <em>Exemplo: http://ajudanhincq.wordpress.com/feed</em></li>
<li><strong>Tumblr:</strong> (endereço)/rss | <em>Exemplo: https://variant-archive.tumblr.com/rss</em></li>
<li><strong>Blogger:</strong> (endereço)/feeds/posts/default | <em>Exemplo: https://charcharcharace.blogspot.com/feeds/posts/default</em></li>
<li><strong>Dreamwidth:</strong> (endereço)/data/atom | <em>Exemplo: https://cobaltdrgn.dreamwidth.org/data/atom</em></li>
<li><strong>Plume:</strong> (endereço)/atom.xml | <em>Exemplo: https://amplifi.casa/~/Asterismos/atom.xml</em></li>
<li><strong>WriteFreely:</strong> (endereço)/feed | <em>Exemplo: https://write.as/lrr/feed</em></li>
<li><strong>Mastodon:</strong> (endereço).rss | <em>Exemplo: https://colorid.es/<a href="//amplifi.casa/@/Aster.rss/" title="Aster.rss" rel="noopener noreferrer">@Aster.rss</a></em></li>
</ul>
<p>(Nenhum feed vai mostrar qualquer postagem privada ou limitada a certes usuáries; feeds apenas agregam postagens públicas)</p>
<p>Isso funciona mesmo que o endereço não seja algo como "usuárie.nome-do-site.com". Por exemplo, <a href="http://queerascat.com" rel="noopener noreferrer">queerascat.com</a> tem um endereço independente, mas é um blog de Wordpress; portanto, seu feed está em http://queerascat.com/feed.</p>
<p>Caso o feed não esteja em nenhum dos endereços, dá pra tentar achar um feed no código fonte. É possível clicar com o botão direito em uma página ou ir nas opções do navegador e procurar alguma opção de ver o código fonte, ou usar view-source:(endereço) (como em <a rel="noopener noreferrer">view-source:https://orientando.org/</a>) para vê-lo.</p>
<p>Depois disso, use alguma função de localizar para procurar termos relacionados, como RSS, Atom ou feed. É provável que, caso haja algum feed pronto, isso ajude a achar seu endereço.</p>
<h3>Pontes</h3>
<p>Existem também serviços que fazem pontes de RSS, ou seja, que pegam atualizações de sites sem feeds nativos e "entregam" feeds para que dê pra seguir tais sites em leitores. Um exemplo disso se encontra <a href="https://rss.nixnet.services/" rel="noopener noreferrer">aqui</a>.</p>
<p>Bibliogram, uma forma de ver Instagram sem ter que se preocupar com anúncios ou coleta de informações pessoais, tem uma função de ponte embutida. O único problema é o quanto o Instagram bloqueia com frequência o acesso dessas pontes, mas a princípio, dá pra ir em um perfil <a href="https://bibliogram.hamster.dance/" rel="noopener noreferrer">aqui</a>, <a href="https://instagram.scissssssso.rs/" rel="noopener noreferrer">aqui</a> ou <a href="https://bibliogram.nixnet.services/" rel="noopener noreferrer">aqui</a> (por exemplo, outras instâncias existem) e conseguir um feed no modelo (endereço da instância)/u/(nome de usuárie do Instagram)/(RSS ou Atom).xml. Os links estão disponíveis na barra lateral do Bibliogram, quando você vê um perfil.</p>
<h2>"Mas eu não tenho interesse, preciso ligar pra isso?"</h2>
<p>A questão é, RSS é um formato livre (no sentido de que há muitas formas de pegar conteúdo por esse modo), ainda usado por muita gente. E, como falei, grandes empresas tentam atrapalhar quem usa RSS o tempo todo para que possam cada vez mais tornar seus anúncios lucrativos e sues usuáries dependentes de ter que acessar seus sites cheios de coletas de informação e algoritmos que manipulam consumo de informações.</p>
<p>Se você produz podcasts, textos, imagens ou afins feites para ganhar grande alcance, e pessoas gostam do seu trabalho, considere colocar ele também em alguma plataforma que tenha acesso a RSS. Tumblr e Wordpress também são empresas capitalistas, mas ao menos oferecem opções que não obrigam alguém a ter uma conta num lugar específico para acessar ou receber atualizações relacionadas ao trabalho.</p>
<p>Por outro lado, considere também que blogs públicos podem não ser o melhor lugar para postar informações pessoais ou sobre suas vulnerabilidades. Afinal, é perfeitamente possível seguir atualizações de algo público sem que o site tenha como avisar que certa pessoa está fazendo isso.</p>
]]><![CDATA[Algumas coisas que eu queria que mais gente nova na comunidade NHINCQ+ entendesse]]>https://amplifi.casa/~/Asterismos/algumas-coisas-que-eu-queria-que-mais-gente-nova-na-comunidade-nhincq-entendesse/2021-03-23T01:22:02.199068+00:00Asterhttps://amplifi.casa/@/Aster/2021-03-23T01:22:02.199068+00:00<![CDATA[<p><em>A maioria dos termos citados que não fazem parte de dicionários podem ser encontrados nas listas <a href="orientando.org/listas/" rel="noopener noreferrer">daqui</a>, caso e leitore queira saber seus significados.</em></p>
<p>A ideia do <a href="https://orientando.org" rel="noopener noreferrer">Orientando</a> era de ser um espaço informativo que atraísse colaborações e uma comunidade para pessoas que gostam de saber e de pesquisar sobre rótulos <a href="https://ajudanhincq.wordpress.com/o-que-e-nhincq/" rel="noopener noreferrer">NHINCQ+</a>. Depois de 5 anos, infelizmente nunca consegui uma comunidade muito coesa - a maior parte das poucas pessoas que frequentam o fórum posta pouco, e a maior parte da comunidade que se formou no Discord nunca pareceu ter muito interesse no site ou em seu assunto em si - mas uma das coisas que mais me surpreendeu foi a quantidade de adolescentes que demonstrou admiração pelo projeto, ainda que geralmente fossem pessoas que só frequentassem o Discord.</p>
<p>Após acumular mais experiência, isso passou a fazer sentido. O conteúdo do Orientando não é explicitamente sexual (o que facilita sua visualização em espaços mais vigiados), não é exclusivo a pessoas de alguma identidade específica (o que facilita a inclusão de quem está questionando) e é inclusivo de experiências muitas vezes ignoradas por espaços "LGBT" mais populares ou consagrados (o que é mais amigável para quem está descobrindo ser não-binárie, abro ou a-espectral, por exemplo, coisas que não são vistas como novidades inconcebíveis entre pessoas mais novas que já "tinham tais opções" desde que começaram a explorar sua identidade NHINCQ+, mas que podem ser vistas assim em outros espaços).</p>
<p>Acredito que a maioria das pessoas NHINCQ+ tenha noção de que ser NHINCQ+ não é um assunto exclusivo de maiores de idade, e nem de quem sempre soube que era NHINCQ+ desde jovem. Portanto, sempre vão existir pessoas novas na comunidade de todas as idades. Porém, com cada contexto social, a descoberta da própria identidade NHINCQ+ pode ser bem diferente, e quero falar aqui sobre algumas questões que são bastante comuns a pessoas que se descobrem/descobrem a comunidade NHINCQ+ a partir do Orientando ou de recursos similares (como wikis ou listas de termos).</p>
<h2>Nem todo processo de descoberta é imediato</h2>
<p>Algumas histórias de pessoas NHINCQ+ falam de algum momento único de descoberta, que também é baseado em sentimentos passados. Por exemplo, alguém pode ter sempre rejeitado a ideia de querer relacionamentos ou casamentos quando criança e adolescente, e, quando adulte, finalmente descobrir que as palavras arromântique e assexual existem e lhe descrevem. Ou alguém pode ter sempre tido amizades de certo gênero (que não era o designado) e sempre ter tido interesse em brinquedos e roupas de tal gênero, e começar a se identificar como o gênero em questão de forma privada na adolescência até descobrir que outras pessoas trans existem e adotar o termo trans para si.</p>
<p>Porém, isso não é algo fácil para todo mundo. Algumas pessoas sentem disforia de gênero desde cedo, passam anos se identificando como pessoas trans binárias, e depois descobrem que são não-binárias, e daí ficam anos sem saber ao certo qual ou quais são seus gêneros, ou se realmente possuem gênero. Algumas pessoas tinham certa certeza de que sentiam atração apenas por um gênero, mas daí começam a sentir atração por outro gênero e não têm certeza se isso tem a ver com serem fluidas, a-espectrais, de alguma orientação flexível ou o quê. Outras pessoas não sabem bem qual é sua orientação ou sua identidade de gênero e nunca conseguem se expressar de forma concreta quanto a isso, podendo nunca expressar nada ou ir mudando de rótulo cada semana até achar algum que continue sendo aplicável.</p>
<p>Essas pessoas ainda existem durante esse processo de descoberta. E mesmo pessoas que já se identificam da mesma maneira há anos podem descobrir que outras identidades as contemplam de forma mais precisa. Portanto:</p>
<ul>
<li>Algumas pessoas mudam de rótulos, e isso não significa que suas identidades anteriores eram mentiras ou que não dá pra confiar que a identidade atual da pessoa está certa;</li>
<li>Tudo bem mudar de rótulos, as identidades atuais de alguém são aquelas que a pessoa vê como precisas naquele momento, e isso pode ou não mudar no futuro;</li>
<li>Não há necessidade de ter pressa em entender toda mudança ou mudança de percepção relacionada com atração, relacionamentos, identidade de gênero, modalidade de gênero, expressão de gênero ou afins, seja para explicar ou para rotular.</li>
</ul>
<p>Aliás, algo muito importante é a existência de comunidades mais abrangentes e de termos guarda-chuva. Alguém que não sabe se é poli, lésbique ou abro, mas que é mulher e sente atração por mulheres, deveria poder ter acesso a espaços sáficos/MAM, heterodissidentes ou NHINCQ+. Alguém que não sabe se é agênero-fluxo, gênero-liminar ou fluxofluide deveria poder frequentar espaços trans, cisdissidentes, não-binários, para pessoas do espectro agênero, para pessoas gênero-fluido e NHINCQ+ sem sentir pressão de se conformar a um termo específico que "garanta acesso".</p>
<p>É possível também só usar termos mais abrangentes, ou mesmo não se definir além de cisdissidente e/ou heterodissidente.</p>
<p>Vejo algumas vezes pessoas não querendo usar termos guarda-chuva, dizendo que não se sentem "no direito de" se dizerem trans por serem não-binárias, ou não-binárias por terem algum gênero similar a um gênero binário, ou multi porque sempre só se dizem bi ou pan. Mas a utilização de termos guarda-chuva é importante para reconhecer similaridades entre experiências e ter comunidades maiores na hora de lutar por direitos ou formar redes de apoio.</p>
<h2>Termos identitários são descrições próximas, não restrições</h2>
<p>Não há a necessidade de largar um rótulo por não se encaixar completamente em sua definição, e nem de passar a usar rótulos mais específicos porque eles são mais precisos.</p>
<p>Se alguém é mirromântique e demissexual, mas prefere se descrever como aroace ou mesmo somente como assexual, isso não é um problema, e também não infere que todas as pessoas aroace ou assexuais se encaixam nos termos mirromântique e demissexual. Se alguém é homem gay mas sentiu atração por uma mulher uma vez há décadas atrás, a pessoa não precisa usar outro termo se não quiser.</p>
<p>Da mesma forma, se alguém se encaixa mais ou menos em um termo como proxvir (alguém cujo gênero é adjacente a homem, mas separado), mas não totalmente, ainda está tudo bem usar só proxvir, ainda que existam rótulos específicos que servem para esse propósito (como paraproxvir, alguém cujo gênero é parecido com proxvir mas que não é exatamente proxvir, ou demiproxvir, alguém que é parcialmente proxvir).</p>
<p>Algumas pessoas sentem a necessidade de ter termos que descrevem suas identidades NHINCQ+ de forma completamente precisa. Isso não é um problema em si só, mas não precisa ser uma grande prioridade, ainda mais quando termos guarda-chuva, próximos ou que descrevem questionamento/indefinição de identidade também existem e podem ser usados enquanto a identidade está sendo explorada.</p>
<p>Rótulos NHINCQ+ não são caixas, e sim <a href="https://nextstepcake.wordpress.com/2020/02/29/identities-are-tools-and-sometimes-you-need-a-whole-toolbox/" rel="noopener noreferrer">ferramentas</a>. Algumas podem ser usadas em vários casos mas acabam não funcionando em situações onde há a intenção de passar uma informação mais específica. Algumas podem estar sendo usadas mesmo que não sejam as ferramentas mais recomendadas porque a pessoa só tem acesso a elas, ou só se sente confortável usando elas. Algumas podem só ser usadas em situações bastante específicas, porque a pessoa não quer usar elas pra tudo.</p>
<p>Mas não há a necessidade de se forçar a usar outra ferramenta quando a que está sendo usada funciona, ou de não tentar usar nenhuma ferramenta só por não ter certeza absoluta de que é a ferramenta mais correta.</p>
<h2>Nem todo mundo teve acesso às mesmas informações ou se encaixa em narrativas típicas</h2>
<p>Muitas pessoas se dizem gays ou lésbicas - ou apenas bichas, viades, sapatões, etc. - mesmo que possam se encaixar em outros termos para pessoas heterodissidentes, ou mesmo em termos para pessoas cisdissidentes.</p>
<p>Isso não significa que essas pessoas estão se identificando de forma errada ou menos radical (algo que não deveria ser dito de praticamente nenhuma identidade, aliás). Também não significa que essas pessoas precisem mudar a forma com a qual se identificam.</p>
<p>Esses termos podem fazer sentido dentro dos contextos onde essas pessoas vivem e interagem. E, enquanto isso pode ser frustrante para pessoas cujas identidades não possuem praticamente nenhuma forma de representação (como pessoas não-binárias, multi, de orientações fluidas e a-espectrais, entre outras), essas pessoas não são culpadas pelo apagamento de tais identidades.</p>
<p>Isso não dá o direito dessas pessoas dizerem que outras identidades que não estão em seu grupo são desnecessárias porque elas não veem sentido em ter termos separados. Mas a questão de não tolerar preconceito contra termos NHINCQ+ precisa acontecer dos dois lados.</p>
<h2>Ninguém deve informações pessoais a ninguém</h2>
<p><strong>AC: narrativas que envolvem sequestro, assédio, abuso, cyberbullying e outras consequências reais de compartilhar tudo na internet.</strong></p>
<p>Depois do Facebook normalizar a ideia de colocar o "nome real" e uma "foto real" em redes sociais na internet, muitas pessoas passaram a achar que não há problemas em usar o nome e sobrenome real em tudo, e além disso deixaram de se importar tanto em falar publicamente (no Twitter ou Instagram, por exemplo) onde vivem, qual escola frequentam, quais seus privilégios, suas marginalizações e seus gatilhos, etc., entre selfies e vídeos onde mostram como se parecem.</p>
<p>Isso é um perigo muito, muito grande. Especialmente para pessoas marginalizadas.</p>
<p>Alguém trans que lista seus gatilhos em um lugar público pode ser alvo de gente transmísica enviando imagens com tais gatilhos.</p>
<p>Ume adolescente que lista todas as suas opiniões políticas e fandoms pode ser um alvo fácil para que ume predadore procurando um relacionamento sexual com ume menor de idade se aproxime.</p>
<p>Ume menor de idade NHINCQ+ no armário com sobrenome público que segue/é seguide por gente da família em redes sociais (ainda que sejam em outras redes sociais em relação às que a pessoa é aberta sobre ser NHINCQ+) pode ter sua família notificada sobre essa pessoa ser NHINCQ+.</p>
<p>Ume adolescente que acabou de ser expulse de casa e que posta publicamente sobre precisar de um lugar para ficar porque não tem amizades ou família que se importam pode ser facilmente sequestrade por alguém na área que pode dizer que tem lugar pra pessoa ficar.</p>
<p>Dependendo do caso, mesmo sem a pessoa listar explicitamente lugar onde estuda/cidade/etc., fotos de lugares perto do endereço e outras informações podem fazer com que a pessoa seja localizada e seja alvo de grupos de ódio.</p>
<p>Se alguém que é dependente da família posta coisas "controversas" (como dizer que pessoas multi são válidas ou que neolinguagem é importante) e tem ou pode rapidamente ganhar uma audiência maior do que suas amizades do colégio, a não ser que a família possa e aceite se mudar ou contratar serviços de segurança caso isso seja necessário, informações sobre nome, endereço, foto e afins devem ficar em um perfil completamente separado.</p>
<p>Picrews que imitam a aparência real também são perigosos. Embora um só não possa identificar precisamente a aparência de alguém, vários podem.</p>
<p>Informações como lista de marginalizações e privilégios, rosto, nome(s) (legais ou reais), sobrenome(s), local, opiniões, gatilhos e interesses não precisam ficar públicas. Tudo bem querer avisar sobre que coisas você vai falar sobre em seu perfil, mas pode valer a pena fazer perfis separados para aspectos diferentes da vida, ter apelidos que não são dependentes do nome, não divulgar sobrenome real, não divulgar gatilhos fora de grupos privados para pessoas que já se conhecem, não publicar selfies (ou vídeos que mostram o rosto) junto com opiniões políticas (incluindo relacionadas à justiça social), etc.</p>
<p>Sim, tem muita gente por aí divulgando isso, e por isso alguém que quer achar um alvo óbvio pode não ir atrás de uma pessoa específica porque há muitas. Mas algumas pessoas sempre vão ser escolhidas como alvos, e eventualmente isso pode chegar em você, em uma amizade sua, etc.</p>
<p>Isso é um problema pra todo mundo, mas pessoas no armário e que não possuem recursos para se mudar caso algo aconteça são as mais vulneráveis.</p>
<p>Um exemplo que vejo acontecendo é que muitas pessoas colocam nome e sobrenome em seu nome de tela no <a href="http://forum.orientando.org" rel="noopener noreferrer">Fórum Orientando</a>. Isso significa que alguém pode pesquisar em um site de busca pelo nome e achar o perfil da pessoa num fórum sobre questões NHINCQ+, e falar para es responsáveis da pessoa, possivelmente causando problema com elus, ainda que a pessoa não tenha postado nada.</p>
<p>Por outro lado, também acho importante falar que pessoas podem mentir sobre suas identidades na internet. Não confie em pessoas só porque supostamente possuem a mesma idade, os mesmos interesses e/ou as mesmas identidades marginalizadas. Não só isso não faz dessas pessoas confiáveis, como também podem estar mentindo para conseguir popularidade/uma amizade/outro tipo de relacionamento mais facilmente.</p>
<h3>Alguns relatos relacionados a isso</h3>
<p>Uma pessoa tem informações públicas sobre sua vida de quando tinha 11-16 anos que nunca poderão ser deletadas. <a href="https://aupair.tumblr.com/post/644883178640769024" rel="noopener noreferrer">(🔗)</a></p>
<p>Ume engenheire de software anônime fala sobre como é fácil saber onde alguém mora com uma lista de IPs, dispositivos e e-mails. <a href="https://aupair.tumblr.com/post/644881630054465536" rel="noopener noreferrer">(🔗)</a></p>
<p>Ume anônime de 15 anos fala sobre como dar informação pessoal livremente fez com que elu ficasse vulnerável a abuso. <a href="https://aupair.tumblr.com/post/644878723044294656" rel="noopener noreferrer">(🔗)</a></p>
<p>Esta postagem fala sobre o quanto é fácil achar o endereço de alguém com informações aleatórias, e sobre o quanto é perigoso deixar um monte de informação pública por aí. <a href="https://justonepurpose.tumblr.com/post/644933969092149248/this-kid-is-14-oh-my-god-is-no-one-teaching" rel="noopener noreferrer">(🔗)</a></p>
<p>Quando acontece algo por conta de informação ser postada livremente para todo mundo ver, a culpa não é da vítima, mas isso não significa que não vale a pena se proteger.</p>
<h2>Opressão ainda existe, e não é só necessariamente "lá longe"</h2>
<h3>Ninguém tem a obrigação de dizer que é NHINCQ+</h3>
<p>Com o reconhecimento de que pessoas NHINCQ+ existem e não são um problema a ser resolvido, há cada vez mais personagens NHINCQ+ em séries, filmes e afins. Só que, como a maioria está em ambientes di/cis/heterocêntricos, muitas vezes há um momento de "saída do armário", onde tal personagem se revela NHINCQ+ para outres personagens e para a audiência.</p>
<p>Acho que, por conta dessa narrativa, que provavelmente é causada pela forma que pessoas cis, hétero e perissexo possuem experiências com pessoas NHINCQ+ - de só entenderem/considerarem tais pessoas como NHINCQ+ a partir do momento que se abrem sobre isso - há uma ideia maior de que sempre há um momento na vida onde pessoas NHINCQ+ contam para sua família/sues colegas/suas amizades/etc. sobre ser NHINCQ+, em relação a décadas passadas.</p>
<p>Só que isso não é uma realidade pra todo mundo. Muitas pessoas esperam ter independência financeira e morar em um lugar separado antes de contar para suas famílias. Outras vivem parte de suas vidas - como relacionamentos e expressões de gênero desejades - em segredo de família, colegas e até mesmo amigues normatives. Outras pessoas guardam segredo sobre suas identidades e não agem em relação a ela suas vidas inteiras, ou boa parte delas.</p>
<p>Se uma pessoa vive num ambiente onde ser NHINCQ+ pode causar problemas (agressões, abuso, expulsão, etc.), não há vergonha em tentar sobreviver sem falar ou expressar nada sobre ser NHINCQ+. Se alguém quer verificar as opiniões de outras pessoas sobre o assunto, é possível usar figuras públicas ou personagens como exemplos, ou, dependendo, até mesmo páginas ou panfletos com definições de termos, ao invés de se abrir diretamente sobre ser NHINCQ+.</p>
<p>Mesmo que não haja risco, não há problemas em manter uma ou mais identidades NHINCQ+ como um assunto privado. Isso está dentro do direito de cada pessoa.</p>
<h3>Espaços NHINCQ+ não são necessariamente livres de opressão</h3>
<p>Não dá pra presumir que todo mundo que está em um determinado espaço baseado em identidade - mesmo um sobre ativismo ou sobre uma identidade bem específica - vai ser completamente antirracista, anticapacitista, anticissexista, antialossexista, anticapitalista e afins.</p>
<p>Recomendo que qualquer grupo do tipo feito para que pessoas interajam entre si e sejam acolhidas como pessoas marginalizadas em mais de um eixo tenha regras explícitas sobre não tolerar racismo, misoginia, cissexismo, diadismo, gordemisia, capacitismo, heterossexismo e afins (de forma não específica para que cubra mais do que a moderação lembrou de listar).</p>
<p>Também recomendo que qualquer pessoa não considere tais grupos automaticamente confiáveis e bem informados. Algumas pessoas neles podem soltar palavras estigmatizadas (sem elas serem ressignificadas), ódio contra identidades NHINCQ+ diferentes, desinformação sobre a ditadura militar ou qualquer coisa assim.</p>
<p>É importante ter espaços melhores onde tais coisas são combatidas, mas isso não é o dever de qualquer pessoa em específico (no máximo da equipe de moderação). Sinta-se livre para bloquear pessoas ou sair de grupos caso o ambiente seja tóxico demais, ou simplesmente desagradável.</p>
<p>Além disso, peço para que pessoas NHINCQ+ não se considerem automaticamente bem informadas ou desconstruídas por conta disso. Pessoas intersexo podem reproduzir diadismo, então como não poderiam ser heterossexistas, capacitistas ou racistas? É sempre importante ler sobre outras experiências de dentro e de fora da comunidade, entender os lados de argumentos intracomunidade e se informar sobre as várias opressões existentes.</p>
]]><![CDATA[Identidades não-binárias e gramática]]>https://amplifi.casa/~/Asterismos/identidades-não-binárias-e-gramática/2021-03-18T18:56:10.401510+00:00Asterhttps://amplifi.casa/@/Aster/2021-03-18T18:56:10.401510+00:00<![CDATA[<p dir="auto">Quero começar avisando que esta postagem <strong>não é sobre neolinguagem ou sobre linguagem pessoal</strong>. Se alguém veio parar aqui porque quer entender como se usa o pronome elu ou o que significa -/ele/e ou qualquer coisa assim, recomendo checar os links <a href="https://starrypride.neocities.org/links.html" rel="noopener noreferrer">daqui</a>. Para um link só mais completo, eu mesme já escrevi um grande texto sobre o assunto <a href="https://amplifi.casa/%7E/Asterismos/tudo-ou-pelo-menos-muita-coisa-sobre-linguagem-pessoal" rel="noopener noreferrer">aqui</a>.</p>
<p dir="auto">Mesmo assim, recomendo que leitóries em potencial desta postagem saibam como são aplicados conjuntos no estilo artigo/pronome/terminação, e saibam vocabulário básico sobre cisdissidência (o que é trans, o que é cis, o que é não-binárie, etc). Além dos links acima, respostas para isso podem ser achadas <a href="https://starrypride.neocities.org/textos/faqtrans.html" rel="noopener noreferrer">aqui</a>, <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-modalidades-de-genero/" rel="noopener noreferrer">aqui</a> e <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/" rel="noopener noreferrer">aqui</a>.</p>
<hr>
<p dir="auto">Esta postagem é sobre o uso de termos relacionados a identidades não-binárias, em relação às suas classes gramaticais, à presença ou ausência de flexões em finais de palavra/terminações/desinências e a como combinar ou explicar termos. Minha ideia aqui é explicar o que <strong>eu</strong> faço quando uso tais termos, que também coincide com a forma que outras pessoas usam tais termos, e, muitas vezes, com a forma que outras pessoas se sentem mais respeitadas ao falar destes termos.</p>
<p dir="auto">A língua evolui, e é possível que no futuro existam outras formas mais respeitosas ou aceitas de usar os termos que estarei mencionando aqui. Minha intenção não é impor um padrão, e sim facilitar o entendimento de como uso certos termos, além de ajudar a entender os motivos para usar certos termos de certas formas.</p>
<h2 dir="auto">Terminologia básica</h2>
<p dir="auto"><strong>Substantivos</strong> são, resumidamente, palavras que são nomes de coisas, pessoas, conceitos ou fenômenos. Exemplos de palavras que geralmente são substantivos são pessoa, água, amizade, gênero e cineasta.</p>
<p dir="auto"><strong>Adjetivos</strong> são, resumidamente, palavras que atribuem características a substantivos. Exemplos de palavras que geralmente são adjetivos são feliz, impessoal, comum, distante e urgente.</p>
<p dir="auto"><strong>Prefixos</strong> são, resumidamente, partes de palavras que mudam o sentido de outras palavras quando são colocadas antes delas. Por exemplo, a palavra inútil junta o prefixo <em>in</em>, que indica negação, à palavra <em>útil</em>, e assim forma uma palavra que significa “algo que não é útil”.</p>
<p dir="auto"><strong>Sufixos</strong> são, resumidamente, partes de palavras que mudam o sentido de outras palavras quando são colocadas depois delas. Por exemplo, as palavras criançada e papelada juntam as palavras <em>criança</em> e <em>papel</em> ao sufixo <em>ada</em>, que indica abundância, formando assim palavras que significam, respectivamente, “muitas crianças” e “muitos papéis”.</p>
<p dir="auto"><strong>Finais de palavra</strong> ou <strong>terminações</strong> não são classes gramaticais formais, mas se referem à parte de um conjunto de linguagem que é aplicada no final das palavras quando elas mudam com base em conjuntos de linguagem, como em amada/amado/amade/amady, jardineira/jardineiro/jardineire/jardinêiri ou ótima/ótimo/ótime/ótimae.</p>
<p dir="auto">Me refiro a palavras assim como palavras com <strong>finais de palavra flexíveis</strong> (ou com terminações flexíveis, ou com finais flexíveis).</p>
<p dir="auto"><strong>Termo</strong> se refere a uma palavra ou um conjunto de palavras que significam algo específico. Por exemplo, homem não-binárie pode ser um termo só, que se refere a uma pessoa não-binária que tem alguma experiência relacionada a gênero comum a ser homem (<a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/homem-nao-binarie/" rel="noopener noreferrer">resumidamente</a>). Eu uso termo para falar de palavras que descrevem identidades ao invés de só usar palavra porque há casos como esse, onde o termo é composto por mais de uma palavra.</p>
<p dir="auto"><strong>Identidade</strong> é, resumidamente, tudo o que pode distinguir alguém de certos grupos enquanto coloca a pessoa dentro de um grupo com características semelhantes. Identidades não se resumem a identidades de gênero ou a identidades <a href="https://ajudanhincq.wordpress.com/o-que-e-nhincq/" rel="noopener noreferrer">NHINCQ+</a>; ser gótique pode ser uma identidade, ser artista pode ser uma identidade, ter olhos castanhos pode ser uma identidade. Identidade não se resume a características permanentes e nem a características escolhidas. Também não se resume a identidades que podem ser colocadas em eixos de privilégio e opressão.</p>
<h2 dir="auto">Porém, neste texto, estarei falando mais de <strong>identidades de gênero</strong> e de <strong>identidades [de gênero] não-binárias</strong>.</h2>
<p dir="auto">Identidade de gênero é como a pessoa se percebe em relação às identidades de gênero existentes em sua sociedade. Existem identidades de gênero que podem ser classificadas como gêneros, como homem, mulher, <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/maverique/" rel="noopener noreferrer">maverique</a> e <a href="https://colorid.es/@termos/102747410100101773" rel="noopener noreferrer">juxtaneu</a>; existem identidades de gênero que demonstram uma distância do conceito de gênero, como <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/apogenero/" rel="noopener noreferrer">apogênero</a>; existem identidades de gênero que demonstram indeterminação de gênero, como <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/quoigenero/" rel="noopener noreferrer">quoigênero</a> e <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/pomogenero/" rel="noopener noreferrer">pomogênero</a>; existem identidades de gênero que demonstram a presença de mais de um gênero, como <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/poligenero/" rel="noopener noreferrer">poligênero</a>, e por assim vai.</p>
<p dir="auto">Uso o termo identidade de gênero para respeitar que algo como apogênero não é um gênero, e sim um termo que especifica que a pessoa se vê como completamente removida do conceito de gênero. Ou para respeitar que bigênero não é um gênero, e sim um termo para pessoas que possuem dois gêneros.</p>
<p dir="auto">O termo identidade de gênero tem sido criticado ultimamente por ser somente usado no contexto de cisdissidência. Ou seja, como muita gente usa o termo como se pessoas cis só tivessem gênero, enquanto pessoas trans possuiriam identidade de gênero, a resposta de muitas pessoas trans monogênero (que possuem apenas um gênero) foi que “é pra usar sempre gênero e nunca identidade de gênero”. Porém, isso é um problema quando muitas pessoas não possuem gênero, ou descrevem suas identidades que dizem respeito a como (não) experienciam ou querem demonstrar gênero(s) com termos que não podem ser adequadamente categorizados como “um gênero”.</p>
<p dir="auto">Ainda assim, é comum ver o uso coloquial de gênero para descrever identidades como sem gênero, poligênero e etc. Só estou explicando que o motivo que uso identidade de gênero e não só gênero tem a ver com incluir mais termos relacionados a (ausência de) experiências de gênero. Considero que tanto uma mulher cis quanto uma mulher trans possuem a identidade de gênero mulher, mas que em seus casos é possível dizer apenas que são mulheres, ou que possuem o gênero mulher.</p>
<p dir="auto"><strong>Identidades não-binárias</strong>, por sua vez, se refere a identidades de gênero que não são somente, completamente e sempre homem, ou somente, completamente e sempre mulher. Qualquer pessoa que não é somente, completamente e sempre algum dos gêneros binários pode se dizer não-binária, mas também reconheço que muitas pessoas que se encaixam na definição não se consideram não-binárias pelos mais diversos motivos.</p>
<h2 dir="auto">Não-binárie, modalidades de gênero e outras identidades que usam gênero como sufixo</h2>
<p dir="auto">Considero que não-binárie funciona melhor como adjetivo. Modalidades de gênero, como cis, trans, iso e ulter, também.</p>
<p dir="auto">Exemplos:</p>
<ul dir="auto">
<li>Aquela pessoa é não-binária.</li>
<li>Sou transgênero.</li>
<li>Ele é um homem cis.</li>
<li>Você conhece algum grupo para pessoas isogênero?</li>
</ul>
<p dir="auto">Embora exista muita gente que use tais palavras como substantivos, <a href="https://colorid.es/@Aster/105204291218314264" rel="noopener noreferrer">ao menos algumas pessoas não-binárias consideram o uso de “es não-bináries” ou similar como algo que incomoda ou ofende</a>.</p>
<p dir="auto">Sobre o caso de modalidades de gênero, não consegui encontrar nenhum texto em português explicando o uso delas como substantivo, ou apontando para qual é a classe gramatical mais usada ou menos ofensiva. O máximo que encontrei foi <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Transg%C3%A9nero" rel="noopener noreferrer">o artigo Transgénero da Wikipédia</a>, que coloca o uso do termo como adjetivo com base em três fontes em inglês sobre o assunto (<a href="https://www.glaad.org/transgender" rel="noopener noreferrer">GLAAD</a>, <a href="https://www.cltampa.com/news-views/sex-love/article/20756096/savage-love-gayed-blacked-transgendered" rel="noopener noreferrer">Creative Loafing</a> e <a href="https://www.theguardian.com/guardian-observer-style-guide-t" rel="noopener noreferrer">The Guardian</a>).</p>
<p dir="auto">Curiosamente, no site Dicio, o termo <a href="https://www.dicio.com.br/cisgenero/" rel="noopener noreferrer">cisgênero</a> está apenas como adjetivo, enquanto o termo <a href="https://www.dicio.com.br/transgenero/" rel="noopener noreferrer">transgênero</a> está como adjetivo e substantivo. Isso é possivelmente por conta da quantidade de usos de construções como “o transgênero” ou “os trans” que podem ser encontradas por aí, e que não são encontradas quando se falam de pessoas cis por conta de, talvez, elas verem isso como um ato de desrespeito.</p>
<p dir="auto">Por tudo isso, considero que modalidades de gênero são adjetivos.</p>
<p dir="auto">Também considero que são palavras sem flexão de final de palavra. A palavra gênero é, em geral, a mesma quando se fala do gênero de alguém que usa o/ele/o e do gênero de alguém que usa a/ela/a, e palavras formadas por prefixo + gênero (transgênero, ipsogênero, aporagênero, quoigênero, etc.) estão expressando algo como “uma experiência relacionada a gênero que é assim”. Assim, uso qualquer palavra terminada em gênero como um adjetivo sem final de palavra flexível. Também não flexiono seus prefixos.</p>
<p dir="auto">Exemplos:</p>
<ul dir="auto">
<li>Por que pessoas cisgênero agem assim?</li>
<li>Ela é uma pessoa trans.</li>
<li>Elu é pomogênero e usa e/elu/e.</li>
<li>Elus são de um grupo de pessoas ultergênero.</li>
<li>Aquela comunidade é só para pessoas iso, ou é para pessoas cisdissidentes em geral?</li>
<li>Nil usa -/ily/y. Ily é aporagênero, mas prefere só se dizer ápora na maior parte dos casos.</li>
</ul>
<p dir="auto">Eu sei que existem pessoas que, mesmo usando palavras terminadas em gênero como adjetivos, flexionam tais palavras, como em “pessoas transgêneras” ou em “elu é agênere”. Acho que a justificativa que me deram era que adjetivos terminados em o geralmente são flexionados (adjetivos como meigo, intrínseco, austero e aleatório definitivamente se referem a pessoas/seres/coisas cujas terminações são o).</p>
<p dir="auto">Pessoalmente, acho que há uma justificativa boa o suficiente para sempre usar [prefixo]gênero, sem flexionar, mas não considero que usar flexões neste caso seria um ato de desrespeito ou qualquer coisa assim. Por mim, cada pessoa pode escolher, desde que não fiquem oscilando de forma suspeita (ex. escrever que homens trans são pessoas transgêneras enquanto mulheres trans são transgênero).</p>
<h2 dir="auto">Identidades de gênero que usam gênero como prefixo</h2>
<p dir="auto">Uma das traduções feitas mais cedo de termos não-binários modernos é gênero-fluido, uma tradução de <em>genderfluid</em> que aparece na Wiki Identidades <a href="https://identidades.wikia.org/pt-br/wiki/G%C3%AAnero" rel="noopener noreferrer">(link)</a>. Esta foi possivelmente a primeira tradução de algum termo como gênero-[palavra].</p>
<p dir="auto">O hífen, na língua portuguesa, <a href="https://brasilescola.uol.com.br/acordo-ortografico/hifen-o-que-permanece-igual.htm" rel="noopener noreferrer">é permitido em casos onde a justaposição forma uma nova identidade semântica</a>. Como gênero-fluido é um termo específico para descrever uma identidade de gênero, e não apenas a caracterização de um gênero como fluido, acredito que não haja problema em usar o hífen, ao invés de separar as palavras.</p>
<p dir="auto">Para que termos sejam mais fáceis de serem lidos e entendidos da mesma forma que alguém cuja lingua principal é a inglesa entenda os termos originais, termos formados por <em>[palavra em inglês]gender</em> ou por <em>gender[palavra em inglês]</em> foram traduzidos como gênero-[palavra em português]. Stargender virou <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/genero-estrela/" rel="noopener noreferrer">gênero-estrela</a>, colorgender virou <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/genero-cor/" rel="noopener noreferrer">gênero-cor</a> e genderfree virou <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/livre-de-genero/" rel="noopener noreferrer">gênero-livre</a>.</p>
<p dir="auto">Em casos onde haveria um final de palavra flexível, considero que tais finais são relacionados à palavra gênero, que usa o/ele/o. Portanto, uso <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/genero-fofo/" rel="noopener noreferrer">gênero-fofo</a> (ao invés de gênere-fofe ou gênero-fofe), <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/genero-vago/" rel="noopener noreferrer">gênero-vago</a>, <a href="https://colorid.es/@termos/104233032872749669" rel="noopener noreferrer">gênero-sonolento</a> e afins.</p>
<p dir="auto">Assim como considero palavras como pomogênero e aporagênero adjetivos, também considero palavras como gênero-fofo e gênero-cor adjetivos. Além disso, considero que seus finais não são flexíveis. Exemplos:</p>
<ul dir="auto">
<li>Quero me abrir mais sobre ser uma pessoa gênero-fofo.</li>
<li>Existe alguma comunidade para pessoas gênero-cor?</li>
<li>Acho que a Cami é gênero-fluido, ainda que ela sempre use a/ela/a.</li>
<li>Será que sou ume homem, gênero-vago, ume andrógine ou gênero-livre?</li>
</ul>
<h2 dir="auto">Termos sem gênero no nome</h2>
<p dir="auto">Homem e mulher geralmente são substantivos. Provavelmente por conta disso, e pela facilidade de dizer só “[gênero]s” ao invés de “pessoas [gênero]”, muitos outros termos tentam funcionar desta maneira também.</p>
<p dir="auto">Maverique <a href="https://maveriques.tumblr.com/faq" rel="noopener noreferrer">é tanto adjetivo quanto substantivo</a>.</p>
<p dir="auto">Andrógine (a <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/androgine/" rel="noopener noreferrer">identidade de gênero</a>, que vem de <em>androgyne</em>) já era uma palavra usada como substantivo <a href="https://web.archive.org/web/20011130232741/http://androgyne.0catch.com/" rel="noopener noreferrer">há muito tempo</a>, ainda que também exista o adjetivo com final de palavra flexível andrógine (que vem de <em>androgynous</em>) que é equivalente às palavras feminine e masculine, ao invés de ser equivalente às palavras homem e mulher.</p>
<p dir="auto">Existem algumas cunhagens que especificam se o termo é um adjetivo ou um substantivo. <a href="https://nonbinaryresource.tumblr.com/post/157071728616/nymhs-noun-nym-a-gender-which-exists-but-is" rel="noopener noreferrer">Nímise é um adjetivo, enquanto nim é um substantivo.</a> <a href="https://neolabels.tumblr.com/post/181868270822/punque-a-gender-characterized-by-the-punk" rel="noopener noreferrer">Punque pode ser tanto uma descrição quanto um substantivo.</a></p>
<p dir="auto">Mesmo assim, a maioria destes termos acabam sendo usados como substantivos, mas sem finais de palavra flexíveis com a exceção de singular/plural; ume <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/juxera/" rel="noopener noreferrer">juxera</a>, umes <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/nonpuerella/" rel="noopener noreferrer">nonvirminas</a>, e <a href="https://colorid.es/@termos/105391602550118172" rel="noopener noreferrer">autonomique</a>, es <a href="https://colorid.es/@termos/102740566154421823" rel="noopener noreferrer">nixvirs/nixvires</a>.</p>
<p dir="auto">As exceções a isto são termos cujas versões na língua inglesa terminam em -ic ou -ian, e que assim são traduzidos como terminados em -ique ou -iane, mas com finais de palavra flexíveis (<a href="https://colorid.es/@termos/100113711517370287" rel="noopener noreferrer">jupariane/jupariano/jupariana/juparianae/juparianel</a>, <a href="https://colorid.es/@termos/102740657975685080" rel="noopener noreferrer">níxique/níxica/níxico/níxiqui/níxicu</a>, etc).</p>
<p dir="auto">Eu considero tais termos adjetivos, simplesmente porque é o que mais parecem ser, para mim. Mas não tenho certeza se há um consenso a respeito disso.</p>
<p dir="auto">Quanto a plurais, pessoalmente gosto de seguir certos padrões da língua portuguesa (hostil → hostis, <a href="https://colorid.es/@termos/102734945881733891" rel="noopener noreferrer">femil</a> → femis; nadir → nadires, <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/proxvir/" rel="noopener noreferrer">proxvir</a> → proxvires), porém certamente não me importo se outras pessoas quiserem só colocar um s no final das palavras ou algo assim.</p>
<h2 dir="auto">Combinando termos</h2>
<h3 dir="auto">Trocando gênero por outro termo</h3>
<p dir="auto">Muitas vezes, a palavra gênero pode ser trocada por outra, para especificar melhor como alguém experiencia sua identidade de gênero.</p>
<p dir="auto">Alguém <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/demigenero/" rel="noopener noreferrer">demigênero</a> é parcialmente algum gênero. Mas qual gênero?</p>
<p dir="auto">Alguém demiandrógine é parcialmente andrógine; alguém demiagênero é parcialmente agênero; alguém demi-homem (porque <a href="https://brasilescola.uol.com.br/acordo-ortografico/hifen-o-que-mudou.htm" rel="noopener noreferrer">há hífen quando o prefixo termina em vogal e o sufixo começa com H</a>) é parcialmente homem.</p>
<p dir="auto">Alguém <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/genero-fluxo/" rel="noopener noreferrer">gênero-fluxo</a> tem ao menos um gênero que muda de intensidade. Assim, alguém mulher-fluxo tem um gênero mulher que muda de intensidade, alguém aporagênero-fluxo tem um aporagênero que muda de intensidade e alguém nímise-fluxo possui um gênero nímise que muda de intensidade.</p>
<p dir="auto">E agora, tais palavras são adjetivos ou substantivos?</p>
<p dir="auto">Eu considero que a classe gramatical utilizada deve ser a do termo que agora “está dentro” do outro termo. Então, por exemplo, como considero agênero um adjetivo, também considero demiagênero ou agênero-vago adjetivos. Como maverique é um substantivo ou um adjetivo, acho que dá pra dizer tanto que alguém é ume demimaverique quanto que alguém é uma pessoa demimaverique (embora eu prefira a primeira opção). E como homem é um substantivo, eu trato palavras como demi-homem ou homem-fluxo como substantivos.</p>
<p dir="auto">Ah é, no caso de termos que não usam hífen do tipo “gênero [adjetivo]”, é possível usar apenas o adjetivo, como em demiliminar para combinar demigênero e gênero liminar ou neutre-cinza para combinar <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/genero-neutro/" rel="noopener noreferrer">gênero neutro</a> e <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/genero-cinza/" rel="noopener noreferrer">gênero-cinza</a>.</p>
<h3 dir="auto">O problema de meninas e meninos</h3>
<p dir="auto">Uma grande quantidade de pessoas assumidamente não-binárias na internet é jovem, e portanto não se considera adulta o suficiente para usar termos derivados de homem ou mulher quando se aplicam às suas identidades de gênero. Além disso, também existem pessoas adultas que veem homem e mulher como palavras com marcações de gênero mais fortes do que palavras como menina ou menino.</p>
<p dir="auto">A questão é, ao contrário da língua inglesa, onde os termos para as versões jovens de homem e mulher são palavras diferentes entre si (<em>boy</em> e <em>girl</em>), na língua portuguesa, a maior parte das palavras que usamos são apenas a mesma palavra com final de palavra trocado (guri/guria, menina/menino, garota/garoto, etc). Existe rapaz/rapariga, mas tais palavras raramente são usadas no português brasileiro, com rapariga tendo conotações que podem ser indesejadas.</p>
<p dir="auto">Então, o que alguém faz caso se sinta jovem demais para se dizer demimulher ou homem-fluxo?</p>
<p dir="auto">Sinceramente, eu considero que palavras como garota e menino, no contexto destes termos, não se refere a alguém que usa tal final de palavra, e sim a ter uma versão do gênero homem ou mulher. Não acho que faz muito sentido alguém querer se dizer demimenina por usar a/ela/a sem que seu gênero seja mulher ou algo similar o suficiente a isso; se não for, não seria melhor a pessoa usar demimaverique, demiproxvir ou seja qual for o seu gênero?</p>
<p dir="auto">Ainda assim, não houve muita discussão sobre o assunto, muito menos com quem usa termos como garoto-fluxo ou demiguria, então é algo que estou aberte a mudar de opinião sobre.</p>
<h3 dir="auto">Combinações que não trocam gênero por outro termo</h3>
<p dir="auto">Algumas pessoas podem não querer substituir gênero pela identidade de gênero em questão, ou podem não poder fazer isso por conta de estarem usando palavras que não contém gênero em seu sufixo ou prefixo.</p>
<p dir="auto">Então, por exemplo, podem haver pessoas se descrevendo como andrógines agênero, homens gênero-fofo, juxeras gênero-fluxo, maveriques poligênero, femis juparianes e afins.</p>
<p dir="auto">Muitas vezes, isso significa que o segundo termo é especificado pelo primeiro termo. Alguém que é ume juxera gênero-fluxo provavelmente tem um gênero juxera que muda de intensidade.</p>
<p dir="auto">Isso também pode significar que o segundo termo é a identidade de gênero principal, enquanto o primeiro termo ajuda a informar mais sobre a identidade da pessoa, de forma que pode ou não ter relação direta com o gênero em si. Por exemplo, alguém que é ume maverique poligênero pode ter maverique como seu gênero mais forte ou importante ainda que tenha vários outros gêneros, enquanto alguém que é ume andrógine agênero pode não ter gênero mas sentir alguma ligação com o conceito de ser andrógine.</p>
<p dir="auto">Os dois termos também podem informar um ao outro para formar uma ideia mais completa da identidade de gênero. Ume femil jupariane pode ser alguém cujo gênero é mulher sem feminilidade e com masculinidade, mas tal masculinidade é percebida como uma energia celestial masculina que muda de intensidade de tempos em tempos.</p>
<p dir="auto">Algumas vezes, a pessoa pode também estar informando uma multiplicidade de gênero. Por exemplo, alguém pode se dizer homem gênero-fofo por ter os dois gêneros, ainda que separados.</p>
<p dir="auto">Como deu pra entender, estas combinações podem ser meio vagas, e cada pessoa pode ter explicações diferentes para utilizá-las. Ainda que seja possível pesquisar pra saber o quão comum é cada uso desse tipo de combinação, não é possível afirmar que todas as pessoas usando mais de uma palavra para suas identidades de gênero estão certamente usando-as de tal maneira.</p>
<p dir="auto">Em relação a quem tem mais de um gênero, ou uma identidade de gênero informada por outros gêneros, eu pessoalmente uso o termo central e depois as identidades de gênero que informam tal termo central, geralmente separadas por barras. Acho que é uma boa forma de expressar tais identidades.</p>
<p dir="auto">Por exemplo, posso falar de uma pessoa que tem dois gêneros, sendo eles andrógine e femil, como bigênero andrógine/femil, ou de uma pessoa que tem um gênero entre nímise, gênero-estrela e aporagênero como <a href="https://colorid.es/@termos/104005158595202624" rel="noopener noreferrer">centrigênero</a> nímise/gênero-estrela/aporagênero. Também posso descrever uma pessoa cuja identidade muda de tempos em tempos entre agênero, punque e mulher como gênero-fluido agênero/punque/mulher.</p>
<p dir="auto">A ordem pode depender de qualquer coisa. Uma pessoa pode querer colocar a identidade mais presente primeiro, ou pode não se importar com a ordem, ou pode colocar as identidades em ordem alfabética. Alguém que quer colocar porcentagens pode fazer isso também, como em trigênero 30% proxvir/50% mulher/20% autonomique.</p>
<h3 dir="auto">Uma identidade, mais formas de expressá-la</h3>
<p dir="auto">Demigênero-fluido e demifluide são a mesma identidade. Mas por que deixei demifluide com e no final?</p>
<p dir="auto">Considero que, no primeiro termo, fluido descreve o gênero (e portanto usa o final de palavra associado com gênero), enquanto no segundo termo, não há o que descrever, e um final de palavra só será definido de acordo com o contexto (uma pessoa demifluida, um símbolo demifluido, etc).</p>
<p dir="auto">O mesmo vale para outras identidades assim, como escorpifluide/gênero-Escorpião-fluido.</p>
<h2 dir="auto">Gênero-fluido ou gênero-fluído?</h2>
<p dir="auto">Fluído e fluido são palavras diferentes, com base em sua acentuação. Uma se refere a algo que fluiu e deriva do verbo fluir, e outra se refere a um líquido viscoso (substantivo) ou a algo que remete a um líquido (adjetivo).</p>
<p dir="auto">Fluid significa as duas últimas coisas na língua inglesa. Já vi o conceito de ser “fluid” ser tanto comparável a ter um gênero que funciona como um líquido quanto a simplesmente um gênero que mudou. Portanto, não vejo nem gênero-fluido e nem gênero-fluido como uma grafia incorreta.</p>
<p dir="auto">Quando se trata de palavras como demifluide e fluxofluide, também é possível acentuar e fazer referência ao verbo, sendo que o final de palavra continua flexível pelo verbo fluíde estar na forma particípio. Ou seja, assim como alguém pode estar correte, correta ou correto, alguém pode se dizer fluíde, fluído ou fluída (ou fluídae, fluídel, fluídi, fluídy, fluídu, etc).</p>
<p dir="auto">Porém, o substantivo em si é apenas fluido, sem terminação flexível. Isso significa que se alguém quiser fazer uma referência específica a sua identidade de gênero ser um líquido (substantivo), e não como um líquido (adjetivo), a pessoa pode usar demifluido ou fluxofluido, mesmo que seu final de palavra não seja o. Acho que ainda seria (ou poderia ser) um adjetivo, porém, e funcionaria de forma similar a algo como transgênero ou quoigênero (que uso como adjetivos, mas que partem de um substantivo terminado em o).</p>
<h2 dir="auto">O que quero dizer quando uso “um xenogênero”, “uns aporagêneros”, etc.</h2>
<p dir="auto">Algumas pessoas poderiam ver “um xenogênero” e achar que é a mesma lógica de quando alguém diz “um transgênero”, mas eu uso isso de forma diferente (e já vi outras pessoas fazendo isso também).</p>
<p dir="auto">Uso palavras como xenogênero, gênero-cor, estetigênero, aporagênero e afins como substantivos quando estou falando especificamente dessas identidades como categorias de identidades de gênero, e não como pessoas específicas.</p>
<p dir="auto">Ou seja, da mesma forma que eu posso dizer <em>homem é um gênero</em>, eu diria <em>maverique é um aporagênero</em> ou <em>jupariane é um xenogênero</em>.</p>
<p dir="auto"><em>Acho que eu sou xenogênero</em> e <em>acho que eu tenho um xenogênero</em> são frases que falam praticamente a mesma coisa, mas xenogênero é adjetivo na primeira frase por ser uma característica aplicada a mim (<em>eu</em>), e substantivo na segunda frase por xeno ser uma característica de gênero, ao invés de xenogênero ser uma característica aplicada a mim.</p>
<p dir="auto">(Não sei se consegui explicar bem, isso é o máximo que consigo fazer.)</p>
<p dir="auto">Também já vi pessoas dizendo coisas como <em><a href="https://colorid.es/@termos/104215208541555763" rel="noopener noreferrer">finverique</a> é um bigênero</em>, por ser um termo para uma identidade composta por dois gêneros. Pessoalmente, não gosto muito de usar <em>um [identidade]</em> para termos que não foram feitos para ser um (1) gênero, como agênero, gênero-fluido, bigênero ou poligênero, a não ser talvez que sejam termos explicitamente feitos para categorias como <a href="https://colorid.es/@termos/105391469116874736" rel="noopener noreferrer">estes aqui</a>, mas também não é algo que chega a me incomodar; quem poderia se incomodar são pessoas não-monogênero, e não sei da opinião de nenhuma a respeito disso.</p>
<h2 dir="auto">Substantivos para se referir a pessoas não-binárias</h2>
<p dir="auto">Para terminar o texto, gostaria de falar sobre algumas das propostas para termos que podem ser usados como substantivos para se referir a pessoas não-binárias, para que possa ser algo mais curto e casual, sem ser algo potencialmente ofensivo como o uso de <em>não-bináries</em> como substantivo.</p>
<h3 dir="auto">Termos neutros</h3>
<p dir="auto"><strong>Menine, moce (ou moçe) e afins</strong> são termos que não recomendo usar somente para se referir a pessoas não-binárias; não só são termos para pessoas jovens, como também não são exclusivos a pessoas não-binárias (supondo que a ideia seja usar o final e como neutro de forma que cobre pessoas cuja linguagem é indeterminada).</p>
<p dir="auto"><strong>Elegial</strong> é uma proposta de termo neutro para dama e cavalheiro <a href="https://starfaerry.tumblr.com/post/634811154067275776/elegial" rel="noopener noreferrer">cunhada na língua inglesa</a>, mas que também <a href="https://colorid.es/@vitorrubiao/105240343726084158" rel="noopener noreferrer">foi elogiada por pessoas lusófonas</a>. Porém, a postagem fala que o termo é neutro, e portanto não se refere necessariamente a pessoas não-binárias.</p>
<p dir="auto">Fora isso, há uma série de substantivos que podem ser usados para (quase) qualquer ume, como indivíduo, pessoa, ser, camarada, amizade ou colega. Porém, dependendo do contexto, algumas ou várias dessas palavras podem ser inapropriadas para se referir a alguém.</p>
<h3 dir="auto">Termos exclusivos para pessoas não-binárias</h3>
<p dir="auto"><strong>Enebê</strong> seria uma versão aportuguesada de enby. Nunca vi ninguém usando sem ser pra apontar a possibilidade, mas acho que funciona bem.</p>
<p dir="auto"><strong>Batata ou batatinha</strong> são termos que já vi sendo usados como gírias pra pessoas não-binárias, mas sinceramente acho que muita gente nunca soube disso e ficaria confusa.</p>
<p dir="auto"><strong>Xeumel</strong>, e sua versão encurtada <strong>xeu</strong>, são palavras feitas especificamente para substituir o termo <em>pessoa não-binária</em>. <a href="https://uncommongenders.tumblr.com/post/170620003526/nonbinarysorcery-took-a-shot-at-creating-some" rel="noopener noreferrer">Sua cunhagem também ocorreu na anglosfera</a>, mas o termo foi mencionado no Fórum Orientando <a href="https://forum.orientando.org/thread-176-post-1271.html#pid1271" rel="noopener noreferrer">aqui</a>.</p>
<p dir="auto">A pessoa que cunhou xeumel também especificou os seguintes termos:</p>
<ul dir="auto">
<li><strong>Xeamel</strong> para pessoas não-binárias femininas;</li>
<li><strong>Xaimel</strong> para pessoas não-binárias masculinas;</li>
<li><strong>Xaemel</strong> para pessoas femininas e masculinas ao mesmo tempo;</li>
<li><strong>Neumel</strong> para pessoas gênero neutro;</li>
<li><strong>Xomel</strong> para pessoas completamente sem gênero.</li>
</ul>
<p dir="auto">Acho que xaimel e xaemel seriam palavras pronunciadas da mesma forma na língua portuguesa, a não ser que algo como xaímel/xaêmel seja especificado. De resto, acho que o sistema ou ficaria meio incompleto (cadê termos para pessoas de identidades de gênero indeterminadas? Ou xenogênero? Ou aporagênero? Ou com vários gêneros…) ou ficaria complexo demais para decorar.</p>
<p dir="auto">De qualquer forma, xeumel parece uma palavra fácil o suficiente pra decorar.</p>
<p dir="auto">Existem outras palavras cunhadas na anglosfera para abreviar nonbinary (não-binárie) sem ser enby, como <strong>nonbin</strong>, <strong>nonbi</strong>, <strong>nonar</strong>, <strong>nibun</strong>, <strong>enban</strong> <strong>enbi</strong>, <strong>enbe</strong>, <strong>enbee</strong>, <strong>enbin</strong>, <strong>bee</strong>, <strong>omen</strong> e <strong>neu</strong>. Acho que algumas não funcionam bem em geral (como bee ou omen, que também possuem outros significados na língua inglesa, ou neu, que parece referenciar neutralidade acima de outras possibilidades), e que outras não funcionam bem na língua portuguesa (como nonbin, uma derivação popular mas que obviamente se origina em nonbinary).</p>
<p dir="auto">No entanto, acho que é possível se inspirar em tais derivações para cunhar palavras como <strong>embê</strong>, <strong>enebi</strong>, <strong>nabim</strong> ou <strong>nabi</strong>. Nonar é até uma palavra que seria consistente com as normas da língua portuguesa, ainda que seja obviamente inspirada em <strong>non</strong>bin<strong>ar</strong>y e não em não-binárie.</p>
]]><![CDATA[A orientação enco]]>https://amplifi.casa/~/Asterismos/a-orientação-enco/2021-03-11T16:45:57.436088+00:00Asterhttps://amplifi.casa/@/Aster/2021-03-11T16:45:57.436088+00:00<![CDATA[<p><strong>Enco-:</strong> Uma orientação para pessoas que só sentem atração por pessoas de certa(s) identidade(s) igual(is) à(s) sua(s), por estas serem identidades marginalizadas ou subculturas excluídas das culturas dominantes. A pessoa pode também sentir atração por pessoas de identidades parecidas ou que são marginalizadas da mesma forma.</p>
<p>Pessoas enco podem sentir que sua orientação e/ou atração está entrelaçada com sua identidade que é a base da atração, ou com marginalização e/ou rejeição dessa identidade pela sociedade em geral ou por pessoas que não têm a mesma identidade. Esta identidade pode ter surgido a partir de neurodivergência, trauma ou experiências com discriminação. Porém, nada disso é obrigatório para ser enco.</p>
<h3>Alguns exemplos:</h3>
<p>Alguém cisdissidente que perde a atração ao descobrir que outra pessoa é cis pode se dizer enco.</p>
<p>Alguém <a href="https://starrypride.neocities.org/alterumanidade.html" rel="noopener noreferrer">alterumane</a> que é incapaz de sentir atração antes de saber que a outra pessoa é alterumana também por conta de estigmas contra alterumanes pode se dizer enco.</p>
<p>Alguém que é autista e que só consegue sentir atração após saber que a outra pessoa também é neurodivergente pode se dizer enco.</p>
<p>Alguém que faz parte de uma fandom e que sente que não conseguiria sentir atração por alguém fora da fandom por esta ser uma parte muito importante da vida da pessoa pode se dizer enco.</p>
<p>Enco vem de "em comum". Esta orientação pode ser usada como enco, enco-orientade, encoatraíde, encossexual, encorromântique, encoalternative, encoqueerplatônique, etc.</p>
<p>Eu diria que esta é uma identidade <a href="https://colorid.es/@termos/102418857783862773" rel="noopener noreferrer">a-espectral</a>, afinal tem a ver com conhecer algo sobre outras pessoas para poder sentir atração, mas reconheço que para várias pessoas, a atração pode ser tão comum (por terem atração por um grupo grande) que essas pessoas não consideram ter experiências a-espectrais.</p>
<p>A intenção não é "haha eu nunca namoraria com uma pessoa de direita, centrista ou reformista", e sim que a identidade seja usada por pessoas cuja atração realmente some quando a outra pessoa se revelar como alguém de fora do grupo, ou que não acontece se a pessoa não se revelar de dentro do grupo. Se você acha que a maioria/todo mundo se encaixa em enco, este rótulo provavelmente não é para você; ou talvez seja, e você está projetando sua própria experiência em outras pessoas.</p>
<p>Não posso impedir alguém de usar a identidade apenas para especificar com quem alguém teria um relacionamento, havendo flexibilizações nesta decisão ou não, mas peço que a escolha de usar a orientação enco por preferência pessoal seja levada tão a sério quanto usar um rótulo como arromântique, bissexual ou gay por preferência pessoal e não atração.</p>
<p>Enco pode especificar uma indisponibilidade de relacionamentos com uma parte considerável da população sem que quem esteja usando a orientação tenha que dizer quais são as especificidades disso, ao contrário de alloda (atração exclusiva por quem é <a href="https://amplifi.casa/%7E/Asterismos/o-que-s%C3%A3o-otherkin" rel="noopener noreferrer">otherkin</a>), nowhite (atração exclusiva por pessoas que não são brancas), nocis (atração exclusiva por pessoas que não são cis), etc. Aliás, este termo foi feito principalmente para pessoas que não querem usar esses termos já existentes por esta ou outra razão, ou para grupos que (ainda) não tiveram orientações específicas cunhadas para esse tipo de experiência envolvendo suas identidades.</p>
<p>A ambiguidade pode ser útil para que a pessoa não tenha que necessariamente lidar com comentários de ódio por ter uma orientação específica que "parece ridícula" (como o caso de alguém enco que só se atrai por pessoas de certo grupo sendo que tal grupo não é marginalizado, apenas não é mainstream), ou que "exclui pessoas desnecessariamente" (no caso de pessoas que se atraem apenas por pessoas que pertencem a um certo grupo marginalizado).</p>
<p>A orientação pode ou não ser usada com outras (como em encolésbique ou encopolissexual). Estes casos significam que a pessoa é enco <em>e</em> possui condições adicionais para sentir atração dentro de algum grupo do qual faz parte.</p>
<p>Este termo não inclui subculturas com base em ódio contra grupos marginalizados (feministas radicais transmísicas, neonazistas, fundamentalistas religioses queermísiques, etc.), visto que, ainda que sejam grupos pequenos, suas ideologias são compartilhadas pelas estruturas de poder.</p>
<p>Estou cunhando este termo por ter presenciado várias situações que se encaixam nele, ainda que eu não me encaixe nele, até onde sei. Não estou fazendo nenhume bandeira ou símbolo porque acho que isso tem que vir de pessoas enco, mas peço que não reduzam ser enco a algo específico quando é pra ser um termo relativamente abrangente. De qualquer forma, <strong>peço principalmente para que pessoas não-enco não façam ou sugiram bandeiras ou símbolos que não tenham sido requisitados por pessoas enco</strong>.</p>
]]><![CDATA[Periorientismo]]>https://amplifi.casa/~/Asterismos/periorientismo/2021-02-01T20:16:31.847622+00:00Asterhttps://amplifi.casa/@/Aster/2021-02-01T20:16:31.847622+00:00<![CDATA[<p>Sinceramente, eu não sei se sou a primeira pessoa a falar em periorientismo. Talvez eu seja, talvez não. De qualquer forma, a palavra se trata apenas de periorientade + -ismo: ou seja, da imposição da ideia que todas as pessoas são ou deviam ser periorientadas, que também coloca pessoas variorientadas como falsas, impuras ou doentes.</p>
<p>Acho que poucas pessoas prestam atenção nisso, e por isso estou destacando a questão aqui.</p>
<p>Vocabulário "incomum" disponível em:</p>
<ul>
<li><a href="https://orientando.org/listas/lista-de-orientacoes/" rel="noopener noreferrer">Lista de orientações</a></li>
<li><a href="https://orientando.org/listas/lista-de-termos-juvelicos/" rel="noopener noreferrer">Lista de termos juvélicos</a></li>
<li><a href="https://orientando.org/listas/lista-de-sistemas-opressivos/" rel="noopener noreferrer">Lista de sistemas opressivos</a></li>
<li><a href="https://orientando.org/o-que-e-orientacao-sexual/" rel="noopener noreferrer">O que é orientação sexual?</a></li>
<li><a href="https://orientando.org/o-que-e-orientacao-romantica/" rel="noopener noreferrer">O que é orientação romântica?</a></li>
<li><a href="https://orientando.org/outros-tipos-de-orientacoes/" rel="noopener noreferrer">Outros tipos de orientações</a></li>
</ul>
<h2>O que é uma pessoa periorientada?</h2>
<p>A maioria das pessoas diz que é alguém cuja orientação sexual e romântica é a mesma ou pode ser categorizada como a mesma (<a href="https://assexualidadebrasil.blogspot.com/2017/06/glossario-assexual.html" rel="noopener noreferrer">1</a>) (<a href="https://lgbta.wikia.org/wiki/Perioriented" rel="noopener noreferrer">2</a>) (<a href="https://asexualsanonymous.tumblr.com/glossary" rel="noopener noreferrer">3</a>) (<a href="https://kinkyasexuals.wordpress.com/2014/11/25/further-analysis-of-further-aven-analysis-2014-cross-orientations/" rel="noopener noreferrer">4</a>).</p>
<p>Ainda que não dê pra confirmar isso sem falar com cada pessoa que usa esses rótulos individualmente, alguns exemplos de como pessoas sinalizam que são periorientadas são rotulando suas orientações de forma que:</p>
<ul>
<li>
<p>A pessoa só usa o rótulo de orientação sexual ou de orientação romântica (como alguém que só se diz assexual, que só se diz arromântique, que só se diz pansexual, que só se diz abrossexual ou que só se diz polirromântique);</p>
</li>
<li>
<p>A pessoa lista uma orientação sexual e uma orientação romântica, mas elas possuem o mesmo prefixo (como alguém que diz que é assexual e arromântique, ou como alguém que diz que é bissexual e birromântique);</p>
</li>
<li>
<p>A pessoa usa só um prefixo ou um termo que geralmente não usa sufixos do tipo -sexual e -romântique para descrever sua orientação, e que não complementa tal termo com outro que se referiria a um outro tipo de orientação (como alguém que só se diz gay, que só se diz lésbique, que só se diz virflexível, que só se diz demi, etc).</p>
</li>
</ul>
<p>Como orientação sexual é o tipo de orientação mais conhecida (e como muitas vezes ela é usada para também cobrir outras formas de orientação), é comum que pessoas periorientadas falem de suas orientações apenas como suas orientações sexuais, e usem apenas rótulos que são considerados orientações sexuais.</p>
<p>Na minha opinião, acho que faz mais sentido classificar uma pessoa periorientada como <strong>alguém cujas orientações que a pessoa considera relevantes em sua vida se misturam ou funcionam da mesma forma, ou alguém que escolhe tratar como relevante apenas um dos seus tipos de orientação</strong>.</p>
<p>Meu ponto aqui é que eu quero incluir:</p>
<ul>
<li>
<p>Pessoas que consideram orientações além da sexual e da romântica relevantes, mas cujas orientações funcionam da mesma forma (ex.: alguém torensexual, torenromântique, torensensual e torenalternative);</p>
</li>
<li>
<p>Pessoas que não querem descobrir ou que não veem como aplicáveis vários tipos de orientações, e que consideram apenas um tipo de atração relevante (ex.: alguém que é só demirromântique e que decide querer relacionamentos com base em sua atração romântica mesmo que não sejam relacionamentos românticos; alguém que é só onissexual e que não se importa em separar o que é atração sexual, romântica ou outra e que não liga para a possibilidade de explorar se o resto de sua orientação é realmente oni/omni também ou não).</p>
</li>
</ul>
<h2>Mas qual o ponto de complicar?</h2>
<p>Isso porque quem não é periorientade é <strong>variorientade</strong> (ao menos no momento que estou escrevendo, não sei de outro rótulo que se encaixa neste grupo). Variorientade, segundo as mesmas fontes que definem periorientade como alguém cuja orientação sexual e romântica são iguais/usam o mesmo prefixo, se refere a alguém cuja orientação sexual e romântica são diferentes entre si.</p>
<p>Porém, enquanto isso incluiria casos mais típicos - de pessoas que são trixensexuais e panromânticas, mirsexuais e gays em sua orientação romântica, arromânticas e acefluxo e afins - acredito que ela deixe de lado outros grupos que também considero afetados por periorientismo:</p>
<ul>
<li>
<p>Pessoas que possuem atração sexual e romântica que funciona da mesma forma, mas que também possuem relacionamentos compromissados baseados em ou que são influenciados por outra(s) orientaçõe(s): uma pessoa assexual, arromântica e poliqueerplatônica com dificuldade de achar relacionamentos queerplatônicos teria mais em comum com uma pessoa poli periorientada ou com uma pessoa assexual polirromântica?</p>
</li>
<li>
<p>Pessoas que usam o mesmo rótulo (ou rótulos considerados equivalentes) para rotular sua orientação sexual e romântica, ainda que considerem que elas funcionem de forma diferente: uma pessoa que só se diz gay mas que sente atração romântica por homens e por pessoas não-binárias e atração sexual só por homens teria mais em comum com alguém gay periorientade que só sente atração por um gênero ou com uma pessoa virsexual torenromântica?</p>
</li>
</ul>
<p>Também tem algumas pessoas que só consideram uma orientação relevante para si e ponto, que eu consideraria periorientadas em geral ainda que haja a possibilidade de serem variorientadas.</p>
<p>Por exemplo, uma pessoa que é assexual e bi em sua atração romântica mas que se diz assexual bissexual por motivos políticos deveria poder se dizer variorientada, mas não acho que a pessoa vá estar errada se quiser se categorizar como periorientada.</p>
<p>Já uma pessoa que se diz panromântica e que só prefere usar o sufixo -romântique, mas que na verdade não tem certeza se sente outros tipos de orientação e não se importa... a pessoa pode explorar a possibilidade de ser variorientada se quiser, mas se a pessoa não se importar com isso e considerar que é pan pra tudo ainda que não tenha certeza, eu consideraria mais periorientada do que variorientada.</p>
<p>Como vários outros rótulos, estes dois são relativamente flexíveis.</p>
<h2>Por que periorientismo?</h2>
<p>Eu uso periorientismo ao invés de perissexismo (que combinaria melhor com monossexismo, alossexismo, etc.) para ressaltar que se trata da normalização de ser periorientade, e não de um sinônimo para diadismo, a opressão contra pessoas intersexo (pessoas que não são intersexo são bastante chamadas de perissexo).</p>
<p>Além disso, embora eu não concorde muito com essa crítica na maior parte dos casos, eu sei que existem pessoas que não gostam muito do sufixo -sexismo para falar sobre orientações, e que veem isso como uma centralização de orientações sexuais acima das outras. Periorientismo fala de orientações além da sexual, e é esse meio que o ponto do conceito.</p>
<h2>Qual a relação de periorientismo com outras formas de heterossexismo?</h2>
<p>É impossível alguém ser variorientade sem ser heterodissidente.</p>
<p>Hétero não é só uma orientação para pessoas binárias capazes de sentir atração apenas por pessoas do outro gênero binário, mas também uma posição de poder para pessoas que atendem as expectativas de serem alo e hétero tanto em sua orientação sexual quanto em sua orientação romântica (talvez em outras mas não há muitas análises sobre isso), e que formam relacionamentos com base em atração sexual e romântica.</p>
<p>Hétero, como posição de poder, é uma orientação para quem pode se dizer apenas e somente hétero sem que isso apague parte de sua identidade. Pessoas heterorromânticas e demissexuais, heteroflexíveis, heteroalternativas e aidem, etc. não conseguem ter todas as suas experiências validadas pela heteronorma, e portanto são heterodissidentes, não-hétero, não 100% hetero, etc. São pessoas que sofrem por conta de heterossexismo e heteronormatividade, ainda que possam estar contempladas completamente dentro do duaricismo ou de outros subtipos de heterossexismo.</p>
<p>Sob a mesma lógica, é impossível alguém ser variorientade sem ser monodissidente (no sentido de não-monoatraíde, não no sentido de ser multi).</p>
<p>Monossexismo pode ser simplificado como "ter que escolher entre ser gay e hétero" ou "ter que escolher entre gostar de homens ou de mulheres" ou "ter que escolher um gênero pra gostar", mas também há a sutil expectativa de que a pessoa também vai ser alo e periorientada.</p>
<p>"Tal personagem é gay porque demonstrou atração pelo mesmo gênero", "alguém que se diz polirromântica e homoflexível só não quer admitir que é lésbica", "demissexuais são só pessoas hétero que se acham especiais", "se você não sente atração pelo mesmo gênero você é hétero". Todas estas frases contém expectativas monossexistas: ou a pessoa é hétero, ou gay/lésbica, ou está errada/confusa/apagando essas identidades.</p>
<p>A vantagem que pessoas 100% hétero possuem quando monossexismo é validado é que elas não precisam pensar na possibilidade de interagir com pessoas queer. Se "é tudo gay", vão ser outras pessoas que vão ter atrações fortes e exclusivas incompatíveis com as suas que vão desafiar a norma, e elas poderão ser facilmente identificadas e excluídas, ou incluídas como um grupo subalterno.</p>
<p>Agora, se pessoas que possuem atração por mais de um gênero existem, isso significa que uma pessoa ser duárica não faz dela hétero. Se pessoas que não sentem atração por nenhum gênero existem, isso significa que uma pessoa não ser equárica não significa que ela não vai ser heterodissidente. Se pessoas podem ter atração fluida ou não definir por quem sentem atração, isso complica uma categorização fácil entre os outros grupos. Se pessoas podem ter atração inconstante/fraca/rara/condicional, significa que podem ter pessoas que não se atraem tanto quanto os padrões heteronormativos esperam, ainda que possam "parecer hétero" ou "não parecer equáricas".</p>
<p>E aí pessoas variorientadas quebram também a ideia de que é só confirmar um tipo de orientação pra confirmar as outras.</p>
<p>Portanto, considero periorientismo algo que faz parte do monossexismo, e monossexismo algo que faz parte do heterossexismo, e não considero que periorientismo contra pessoas que são hétero em alguma de suas orientações não seja relacionado com heterossexismo.</p>
<h2>Pelo que pessoas variorientadas passam?</h2>
<p>Obviamente isso é uma questão individual, mas estas experiências são comuns entre pessoas variorientadas:</p>
<ul>
<li>
<p>Formulários pedem apenas nossa orientação sexual, muitas vezes sem dar a opção de marcar mais de uma coisa, priorizando assim uma orientação que pode nem ser mais relevante do que as outras em nossas vidas;</p>
</li>
<li>
<p>Ter que lidar com pessoas questionando qual a nossa orientação verdadeira, porque acredita-se que a orientação de alguém não pode ser "contraditória" e que pessoas com orientações como lésbica heterossexual estão sempre enganadas por conta de ódio internalizado;</p>
</li>
<li>
<p>Ter que lidar com pessoas problematizando ser variorientade em vários contextos: uma pessoa birromântica e heterossexual supostamente está mentindo para poder namorar pessoas trans justificando isso com sua orientação romântica ainda que tenha nojo de transar com elas. Uma pessoa arromântica e pansexual supostamente só quer transar sem ter o compromisso de se importar emocionalmente com outras pessoas. Uma pessoa assexual e gay supostamente só tem nojo de sexo gay;</p>
</li>
<li>
<p>Estas duas coisas também são entrelaçadas com a ideia de que ser variorientade na verdade é só a rejeição de uma parte de nossa identidade que deveríamos ter, ou uma bandeira vermelha pra comportamentos abusivos. Ou seja, nossos rótulos não são nossas identidades reais, e sim posições morais que podem ser discutidas entre pessoas que não possuem nossas experiências;</p>
</li>
<li>
<p>Também tem a questão de tentar empurrar parte de nossas orientações pra baixo do tapete. Afinal, não seria mais prático se outras pessoas não tivessem que lidar com pessoas em volta delas usando vários rótulos ao invés de um? Ou se outras pessoas usassem só um rótulo que tivesse a ver com quem tais pessoas querem se relacionar, sem levar em conta possível atração por outros gêneros ou ausência de certos tipos de atração?</p>
</li>
<li>
<p>Mesmo que não seja de forma tão radical, também tem comunidades focadas em orientações específicas que silenciam experiências variorientadas por "não serem relevantes" ou pelas pessoas "não poderem se considerar parte integral do grupo por não serem totalmente de tal orientação";</p>
</li>
<li>
<p>Dificuldade em se descobrir. Comunidades assexuais geralmente colocam alguma ênfase na possibilidade de alguém poder ser assexual e ter uma orientação romântica diferente de arromântica, e comunidades arromânticas que incluem ou tentam incluir experiências alossexuais também estão surgindo. Mas quanta gente, por não ser ou nunca ter se visto como ace ou aro, nunca teve contato com o conceito?</p>
</li>
<li>
<p>Também gostaria de ressaltar que representação variorientada é bem rara, e geralmente é de personagens assexuais alorromântiques, o que acaba contribuindo para associar a ideia de ser variorientade a algo específico de pessoas assexuais.</p>
</li>
</ul>
<h2>O que pessoas periorientadas podem fazer?</h2>
<ul>
<li>
<p>Não presumir que alguém que sentiu certa atração ou que tinha certo tipo de relacionamento sente a mesma atração ou vontade de ter relacionamentos em relação a outros tipos de atração;</p>
</li>
<li>
<p>Não tirar sarro de pessoas com "listas gigantes de orientações", e/ou com "orientações contraditórias";</p>
</li>
<li>
<p>Não tentar elaborar teorias sobre o motivo de pessoas serem variorientadas que envolve agir como se ser periorientade fosse natural e normal enquanto ser variorientade seja apenas questão de repressão, enganação e/ou da pessoa não ser verdadeira consigo mesma;</p>
</li>
<li>
<p>Ao falar sobre orientações ou pedir informações sobre orientações alheias, não presumir que todas as pessoas sejam periorientadas. Em pesquisas, especifique o motivo pelo qual só a orientação sexual está sendo coletada, ou arranje uma forma de coletar informações sobre mais tipos de orientações. Ao falar sobre pessoas poderem ser assexuais, lésbicas, heterossexuais, pansexuais e afins, lembre também que existem outros tipos de orientações;</p>
</li>
<li>
<p>Ao tentar reunir pessoas de diversas orientações, tentar incluir pessoas variorientadas também;</p>
</li>
<li>
<p>Refletir sobre os termos que usam para identificar suas orientações. Não que todas as pessoas periorientadas devessem falar que são, por exemplo, abrossexuais e abrorromânticas. Mas... por que a utilização de abrossexual ao invés de abro ou de abrorromântique, ou de onissexual ao invés de oni ou onirromântique? Uma palavra só realmente identifica sua orientação inteira? Existem orientações além das sexuais e das românticas que seriam legais de explorar?</p>
</li>
<li>
<p>Não presumir que relacionamentos são "menos"/piores por não envolverem certo tipo de atração, ou por envolverem apenas certo tipo de atração. Se você não quiser um relacionamento queerplatônico ou alternativo, ou se você não quiser um relacionamento romântico que não seja sexual ou um relacionamento sexual que não seja romântico, você está dentro do seu direito, mas entenda que outras pessoas não são incompletas por só quererem tais tipos de relacionamentos.</p>
</li>
</ul>
<hr>
<p>Reconheço que este texto pode não ser o mais completo ou convincente possível. Ele tem o objetivo de informar pessoas que já possuem certa familiaridade com e abertura para o assunto, e não deve ser usado para representar a totalidade das experiências variorientadas. Este é apenas um tijolo que pode ser usado para construir algum dia, quem sabe, grupos NHINCQ+ dispostos a enfrentar e desconstruir periorientismo em suas comunidades e no mundo afora.</p>
]]><![CDATA[O que são otherkin?]]>https://amplifi.casa/~/Asterismos/o-que-são-otherkin/2021-01-15T22:52:53.486670+00:00Asterhttps://amplifi.casa/@/Aster/2021-01-15T22:52:53.486670+00:00<![CDATA[<p>Estou escrevendo este texto porque o assunto aparece várias vezes, e é descartado e/ou invalidado em círculos lusófonos porque pessoas nem conseguem encontrar informações sobre o que são otherkin em português.</p>
<p>Não posso afirmar que sou otherkin ou que passei muito tempo em comunidades otherkin. Mas li bastante de várias fontes (algumas das quais serão linkadas no final do texto), a um ponto que acho que posso ao menos explicar conceitos básicos.</p>
<h2>Glossário</h2>
<p><strong>Otherkin</strong> geralmente se define como alguém que não é humane, ainda que esteja num corpo considerado humano por pessoas vendo de fora.</p>
<p>Otherkin vem de <em>other</em> (outre) e <em>kind</em> (tipo/espécie). É um enorme guarda-chuva, embora algumes considerem que não seja tão grande assim.</p>
<p><strong>Kintype</strong> (que vou traduzir aqui como tipo de kin/kin de [espécie]) é o tipo específico de ser que cada otherkin é: angelkin significa ser kin de anjos, dragonkin significa ser kin de dragões e por assim vai. É possível ter mais de um tipo de kin, mas a comunidade geralmente duvida de quem tem dezenas.</p>
<p><strong>Therian</strong> ou <strong>therianthrope</strong> refere-se a alguém que é um animal que existe ou já existiu na Terra, novamente de formas que não envolvem transformações físicas ou acreditar ter uma forma tradicionalmente vista como do animal no mundo físico. Então, por exemplo, alguém que é kin de ume tigrese ou de ume cachorre pode se dizer therian.</p>
<p>Algumas pessoas colocam therian dentro do guarda-chuva otherkin, outras definem otherkin como apenas ser kin de criaturas/animais de mitologia enquanto therians são um grupo diferente por serem animais cuja existência é provada.</p>
<p>Therians podem dizer que possuem theriotypes/teriótipos/teriotipos/etc. É basicamente tipo de kin, mas para therians.</p>
<p><strong>Fictionkin</strong> é alguém cuja fonte (ou seja, "universo natal") de seu tipo de kin é um universo fictício. Tem gente que não considera que todes es fictionkin sejam também otherkin, caso sejam kin de humanes. Essas pessoas consideram que ser kin de ume Pikachu ou Heartless conta tanto como fictionkin como otherkin por conta de ser uma identificação com uma espécie não humana, mas que ser kin de Connie ou Dipper, embora conte como fictionkin, não conta como otherkin por serem humanes.</p>
<p><strong>Copinglink</strong> (<em>coping</em> é a ação de lidar, <em>link</em> é ligação) é alguém que forma uma conexão com uma espécie ou ume personagem para lidar com qualquer tipo de situação. É possível formar, mudar e deixar de ser esta identidade de acordo com o que for conveniente. Antes, chamava-se copinglink de copingkin, mas muites consideraram que a mudança do nome era necessária pra demonstrar melhor que é uma experiência bem diferente de ser otherkin.</p>
<p><strong>Alterumane</strong> é um termo guarda-chuva que inclui não só otherkin, fictionkin, copinglink e termos dentro destes, mas também otherhearted/fictionhearted (alguém que se "identifica com" ao invés de se "identificar como" certa espécie/certe personagem/etc.), sistemas plurais (corpos onde há mais de uma pessoa/consciência), transumanistas (pessoas que querem fazer modificações corporais usando tecnologia) e outras formas de não ser humane ou de não ser tradicionalmente humane.</p>
<h2>Mas... o que levaria alguém a acreditar que não é humane?</h2>
<p>É comum que otherkin deem bastante foco nisso para justificar suas identidades, mesmo para outras pessoas da comunidade (para não parecerem trolls ou pessoas que só fingem ser kin por parecer legal). Algumas das explicações dadas são:</p>
<ul>
<li>
<p>Memórias de vidas passadas (neste ou em outro universo) onde a pessoa é tal ser/parte de tal espécie, ou crenças sobre ter sido tal ser/parte de tal espécie em outra vida;</p>
</li>
<li>
<p>Percepção de corpos alternativos ou de partes do corpo "astrais" ou "fantasmas", de forma que a pessoa acha que deveria ter um focinho ou percebe que deveria ter asas, por exemplo. Há quem relate que já sentiu dor ou desconforto por conta de asas/rabo/etc. "batendo" em algum lugar ainda que não exista uma parte do corpo física, há quem consegue visualizar perfeitamente seu corpo ideal, e há quem sente disforia de espécie em relação a certas partes do corpo, o que segundo pessoas que são trans e otherkin, pode ser experienciada da mesma forma ou de uma forma diferente que disforia de gênero;</p>
</li>
<li>
<p>De forma similar, otherkin podem experienciar dores relacionadas a cicatrizes de vidas alternativas/passadas, sentir a ausência de habilidades que teriam em outra espécie, ter medos ou vontades inexplicáveis, ter sonhos constantes onde possuem corpos/vidas diferentes e afins;</p>
</li>
<li>
<p>Crença de que a pessoa está invocando o arquétipo de seu tipo de kin, o que pode fazer parte de uma crença espiritual ou puramente de uma identificação com um arquétipo;</p>
</li>
<li>
<p>Percepção de características físicas e/ou mentais como sinais de que a pessoa é parcialmente de certa espécie;</p>
</li>
<li>
<p>Percepção sobre a pessoa ter uma energia que ressoa como a energia de certe ser/espécie;</p>
</li>
<li>
<p>Crença de que otherkinidade foi causada por magia, por conta de uma tentativa de poderes maiores de restaurar magia no mundo, por conta de ser atingide por um feitiço, por conta de ter magia que se manifesta por conta de um tipo de kin e afins;</p>
</li>
<li>
<p>Neurodivergência, no sentido de acreditar que sentimentos de não ser humane são causados por fatores similares a dislexia, autismo e outros neurotipos;</p>
</li>
<li>
<p>Conexão psíquica a alguma outra espécie formada na infância;</p>
</li>
<li>
<p>Alto desenvolvimento do lado instintivo do cérebro, de forma que a pessoa pode ver seus pensamentos e modos de agir mais ligados a ser uma espécie animal.</p>
</li>
</ul>
<p>(Quando alguém muda espiritualmente ou de forma astral/fantasma de forma, o que acontece para algumas pessoas, isso se chama <em>shifting</em>, e vou traduzir isso como mudança. <em>P-shifting</em>, que é uma abreviação de <em>physical shifting</em>/"mudança física", é algo usado para identificar trolls porque mudanças de corpo físicas não são possíveis com o poder da mente, mas várias das coisas que citei podem estar ligadas a tipos mentais/espirituais de mudança de forma.)</p>
<p>Estas coisas também podem se aplicar a fictionkin e a quem possui mais de um tipo de kin.</p>
<h2>Então ser kin é uma religião?</h2>
<p>Acho que boa parte da comunidade vê como uma crença. Não há como provar que vidas passadas, conexões psíquicas e magia existem, e mesmo que certas coisas possam ser baseadas em experiências reais (como sonhos, disforia de espécie ou características físicas), não há como provar cientificamente que elas realmente façam de alguém realmente tal espécie/tal personagem/etc.</p>
<p>Porém, não é exatamente uma religião. Não existem doutrinas específicas e, até onde sei, não existem equivalentes a templos ou missas. Muitas pessoas são kin e são também muçulmanas, keméticas, cristãs e afins, embora também exista quem justifique seus tipos de kin por conta das religiões que praticam.</p>
<h2>Isso não é <a href="https://starrypride.neocities.org/textos/racismo/apropriacao.html" rel="noopener noreferrer">apropriação cultural</a>?</h2>
<p>Ter <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Animismo" rel="noopener noreferrer">práticas animistas</a> ou se dizer algo além de humane não vem de crenças específicas a povos racializados.</p>
<p>A crítica comum levantada é que ser therian é igual a dizer ter espíritos animais, sendo que isso já foi contestado (ou vista como uma crítica racista que vem de pessoas que não sabem o que é ter um espírito animal) por diversas pessoas, como <a href="https://seriousotherkin.tumblr.com/post/128654819767/people-who-claim-that-otherkin-is-appropriation-of" rel="noopener noreferrer">aqui</a>, <a href="https://who-is-page.tumblr.com/post/145424631004/who-is-page-haibakun-i-hope-otherkin-realise" rel="noopener noreferrer">aqui</a>, <a href="https://seriousotherkin.tumblr.com/post/128153789017/abbiegoth-something-i-dont-understand-is-that" rel="noopener noreferrer">aqui</a> e <a href="https://deidarakin.tumblr.com/post/125441208068/otherkin-started-in-both-native-american-culture" rel="noopener noreferrer">aqui</a>. Obviamente, qualquer pessoa que não cresceu em uma cultura que tem o conceito de espíritos animais não deve dizer que tem algum espírito animal, e isso se aplica pra muita gente que não é kin de nada também.</p>
<p>Por outro lado, há também pessoas que realmente tentam se apropriar de conceitos de culturas que não fazem parte para justificar a existência de otherkin/therians (algo criticado <a href="https://otherkinfaq-blog.tumblr.com/post/120112008390/agemme-the-otherkin-tag-is-probably-full-of" rel="noopener noreferrer">aqui</a>), ou que acreditam erroneamente que são kin de algum conceito de alguma cultura marginalizada que nem entendem direito (algo criticado <a href="https://finding-my-culture.tumblr.com/post/186633496720/on-wndigoag" rel="noopener noreferrer">aqui</a>, <a href="https://finding-my-culture.tumblr.com/post/186343724240/i-am-otherkin-myself-so-i-definitely-dont-hate" rel="noopener noreferrer">aqui</a> e <a href="https://swanblood.tumblr.com/post/23977675493/suncalf-otherkin-question-okay-so-if-someone" rel="noopener noreferrer">aqui</a>).</p>
<p>Isso não significa que não se identificar como humane significa apropriar outras culturas. Racismo e supremacia branca precisam ser combatides em qualquer comunidade, e assim como a existência de, digamos, pessoas vegetarianas racistas não significa que todas as pessoas vegetarianas são racistas (ou brancas), a existência de alterumanes racistas não significa que ser alterumane significa ser racista (ou branque).</p>
<p>Podem existir problemas ou questionamentos em relação a fictionkin branques cujos tipos de kin são personagens de outra(s) raça(s). <a href="https://alter-human.tumblr.com/post/145116396395/im-confused-by-your-kin-post-are-you-saying-its" rel="noopener noreferrer">Isso não significa</a> <a href="https://fromfiction.tumblr.com/post/138838142262/hi-idk-where-to-go-for-this-question-im" rel="noopener noreferrer">que alguém não pode ser kin de ume personagem que não é de sua raça</a>, mas ser fictionkin significa mais algo como ser <a href="https://anti-kin-cringe.tumblr.com/post/170917984219/do-you-guys-believe-kinning-outside-of-your-race" rel="noopener noreferrer">a alma</a>, <a href="http://fromfiction.net/index.php/2020/01/05/a-different-approach-to-fictionkin/" rel="noopener noreferrer">o arquétipo ou uma versão alternativa</a> de tal personagem, e não uma identificação com raça, gênero, neurotipo, corporalidade ou qualquer outra coisa que tal personagem é.</p>
<p>Conceitos como membros fantasmas e disforia de espécie podem ser vistos como similares a experiências de pessoas amputadas ou trans, mas a questão é que estão descrevendo experiências similares ou iguais, e portanto não são "apropriação". Da mesma forma que transição de governo não é uma apropriação de transição física de pessoas trans ou de transição capilar de pessoas negras; são termos apropriados nesses contextos, porque palavras podem estar em mais de um contexto sem que isso seja ofensivo.</p>
<p>Existem algumes não-humanes que usam o termo transespécie. Pode ser ofensivo ou impreciso chamar pessoas que não usam tal termo de transespécie porque geralmente isso é ligado a achar que otherkin são algum tipo de piada contra pessoas trans, mas existem pessoas - que geralmente são trans <strong>e</strong> não-humanas - que veem as duas coisas como partes similares de sua identidade e que por isso usam o termo. Novamente, não acho que isso seja ofensivo a humanes trans.</p>
<h2>Mas e se for uma doença mental?</h2>
<p>Transtornos/doenças/distúrbios mentais só são chamades assim quando prejudicam a vida de uma pessoa. E, muitas vezes, o que se considera doença mental se trata apenas de deixar mais pessoas produtivas em relação ao capitalismo e a outras estruturas de poder; não é à toa que não querer fazer sexo ou sentir atração por mais de um gênero ainda são hoje em dia características vistas como sintomas de transtornos.</p>
<p>Como alguém que é autista e psicótique, eu acho tão ofensiva a ideia de "otherkin ser só doença mental" quanto a ideia de "otherkin ser real e mentalmente saudável". Ser neurodivergente não significa que tudo o que eu experiencio é falso e que nada do que eu digo possa ser levado a sério. Também não significa que curas precisem ser buscadas para tudo o que foge do "normal", e que enquanto não há cura precisamos só fingir que nossas experiências não existem, à espera de quando pudermos falar sobre nossas experiências sem que achem que isso tem a ver com "doença".</p>
<p>Se alguém diz que é ume elfe porque sente que deveria ter orelhas pontudas e tem sonhos frequentes de ter outro corpo em uma floresta em outro universo e viver entre elfes, e ser elfe dá um sentimento de pertencimento àquela pessoa, pra quê dizer que a pessoa está errada e precisa de cura?</p>
<p>Com certeza não seria por preocupação com a saúde mental da pessoa, visto que a pessoa não se sente mal por conta disso, e não está causando mal a ninguém. Seria somente pelo egoísmo de querer se sentir superior a alguém que acredita em algo que não pode ser provado, ou por ter medo de questionar o quanto talvez seja errado presumir que sua (falta de) crença seja a única maneira de pensar correta ou possível.</p>
<p>Se <em>for</em> um delírio, mas que ajuda a pessoa em sua vida diária, seja por dar propósito à sua vida, seja por ter conseguido contatos e amizades legais por meio de comunidades alterumanas, seja por ser uma forma de lidar com trauma mesmo que a pessoa nem saiba disso, seja por fazer a pessoa feliz, ou seja por qualquer outro motivo? Parece-me crueldade querer tirar isso da pessoa só para a conveniência de gente neurotípica.</p>
<p>Existem sim tipos de kin que podem causar problemas, como pessoas que passam por dores e visões/sonhos de memórias traumáticas por conta do tipo de kin, ou pessoas com tendências suicidas porque não querem ter um corpo percebido como humano e/ou porque acreditam que quando morrerem sua próxima vida vai ser num universo e com um corpo ideais. Mas acho que seria bem mais fácil lidar com esse tipo de situação de um ponto de vista que tenta aliviar os problemas em si, ao invés de tentar "curar" a pessoa fazendo com que deixe de acreditar que é kin, algo que muitas vezes (mas nem sempre) é uma parte integral de suas identidades.</p>
<h2>É possível ser kin de qualquer coisa?</h2>
<p>Comunidades otherkin, therian e fictionkin são bastante diversas, e isso inclui em relação às suas visões de "quem conta". Enquanto raramente vejo relatos de policiamento de identidade de comunidades alterumanas, é bem comum ver policiamento em comunidades mais específicas.</p>
<p>Por exemplo, já vi discussões em espaços otherkin sobre a existência de fictionkin. Enquanto a maioria parecia concordar com tudo bem ser kin de alguma espécie fictícia específica, ser kin de personagens específiques não era algo aceito.</p>
<p>Também há dúvidas sobre a possibilidade de ter tipos de kin "demais", e há suspeitas de que alguém que possui mais de 10 tipos de kin provavelmente está mentindo ou não sabe direito seus tipos de kin e/ou o que caracteriza um tipo de kin.</p>
<p>Algumes consideram que só é possível ser kin de seres com almas, e que por isso seria impossível ser kin de conceitos abstratos, máquinas, objetos e afins. Outres relatam que conheceram pessoas com essas experiências que as explicavam de maneiras satisfatórias.</p>
<p>Aqui estão trechos de experiências relatadas por quem tem certos tipos de kin:</p>
<blockquote>
<p>Durante a primavera, no meio de uma aula, muito de repente tive uma visão de caminhar por um campo com cascos frontais grandes e pesados, sentindo meu rabo balançar de um lado a outro e a grama macia passando quando eu seguia em frente. Foi uma visão bem detalhada, de forma quase assustadora, e eu tive que esperar um momento pra sentar e tentar entender esse pensamento intrusivo.</p>
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<p>Durante os dias seguintes tive a conclusão de que eu deveria ser um bisão europeu em algum ponto, já que amo muito florestas e moro na Europa. Mais introspecção me levou a perceber que isso era provavelmente uma conclusão falsa com base nos meus interesses da época, e que na realidade eu era therian de bisão americano. Depois me examinei com mais detalhes, e agora tenho 90% de certeza que meu teriótipo é ume beefalo similar a aquelus no Parque Nacional das Montanhas Rochosas (ou seja, como bisão americano mas mais magro e com chifres um pouco maiores).</p>
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<p>Poppy, que em sua biografia no blog diz ser kin de bisão-das-planícies, em <a href="https://aestherians.tumblr.com/post/151063034029/how-did-you-first-discover-that-you-are-a-therian" rel="noopener noreferrer">uma resposta a uma pergunta no Tumblr</a>.</p>
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<p>Eu tinha um tipo estranho de desconexão dos meus instintos contra minha mente. Parece bobagem, mas eu latia ou grunhia em resposta a certas coisas, eu participei de brincadeiras onde fingia ser um ser canino por muito mais tempo do que pessoas da mesma idade (e continuei tendo interesse em continuar brincando mesmo depois de anos) e acabei ativamente procurando por jogos/brincadeiras onde poderia ser um ser canino. Eu senti querer adentrar nisso de uma forma estranha, e, de certa forma, senti ter uma relação com tais seres.</p>
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<p>Alacri, que é kin de raposa, em <a href="https://hubpages.com/politics/The-Otherkin-Subculture-An-interview-in-four-parts" rel="noopener noreferrer">A Subcultura Otherkin: Uma entrevista em quatro partes</a>.</p>
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<p>Às vezes eu só... sinto que deveria poder voar. Sempre posso voar em meus sonhos.</p>
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<p>Olho para árvores velhas e altas e algo dentro de mim diz "eu deveria poder voar lá em cima, tocar nas folhas, passar por elas".</p>
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<p>"Eu deveria poder voar mais alto, ver o mundo do ponto de vista de um pássaro. Eu <em>deveria</em>."</p>
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<p>É um sentimento surreal; embora algo que a maioria das outras pessoas não entendam. Eu não entendo totalmente isso também.</p>
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<p>Rowan, que é kin de corvo e fada, em <a href="https://caw-caw-corvidae.tumblr.com/post/632797212946071552/having-your-alterhumanity-relate-to-a-flying" rel="noopener noreferrer">uma postagem sem nome</a>.</p>
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<p>Como um unicórnio no corpo de um ser humano, váries des minhes experiências e sentimentos atives vêm por conta de sensações fantasmas no meu chifre de unicórnio. Eu tenho um sentimento e uma lembrança do meu chifre de unicórnio nesta cabeça humana de forma muito vívida. Este sentimento tem base em logo acima do centro da minha testa ao invés de estar no centro da minha testa. Por conta do meu chifre fantasma, eu tenho uma bolha pessoal bem específica ao redor e acima da minha cabeça quando controlo nosso corpo humano. Se minha cabeça chega perto de alguém, só estou confortável nos meus termos e nos meus limites. Eu naturalmente tenho a tendência de ter incomodação e desconforto profundes com pessoas chegando perto da minha cabeça sem consentimento. Durante tempestades, a parte de cima da minha testa onde meu chifre fantasma está muitas vezes fica com uma sensação estranha ou parece estar fortemente cheia de estática. Outras mudanças notáveis no tempo às vezes fazem com que esta parte dê uma sensação morna. Por outro lado, quando sinto que há algo errado meu chifre fantasma vai queimar e pulsar de dor um pouco. Se não estou confortável com algo ou se algo não me parece certo, meu chifre age como um aviso. Aleatoriamente, a base do chifre pode coçar e eu não sei o porquê, ou se há realmente um motivo pra isso.</p>
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<p>Spiridon, em <a href="https://houseofchimeras.livejournal.com/101402.html" rel="noopener noreferrer">Em ser Unicórnio</a>.</p>
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<p>eu acho que basicamente me identifico como uma coisa vaga não humana. eu sei que fisicamente sou humane e fisicamente não sou capaz de mudar de forma, mas no núcleo do meu ser, eu realmente ressoo com não ser humane, eu acho.</p>
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<p>por uma boa parte do tempo, eu me sinto meio como uma lacuna, talvez, ou sem forma. eu não tenho realmente uma autoimagem sólida. se eu tento me imaginar, às vezes levo um minuto pra entender como me pareço. tipo assim, eu sei como meu corpo parece, mas sinto que meu corpo não sou eu, entende o que estou dizendo?</p>
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<p>Pete Rude, que é polimorfe, ou seja, muda entre várias formas (neste caso, seria o equivalente de mudar entre vários tipos de kin), em <a href="https://dogwithglasses.tumblr.com/post/27403316192/hey-i-just-came-across-your-cartoon-talking-about" rel="noopener noreferrer">uma resposta a uma pergunta no Tumblr</a>.</p>
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<p>Enquanto tive várias instâncias onde experienciei minhas asas, também tive conexão com o lado espiritual do meu ser. Eu senti energias antes em alguns períodos de tempo. E naquele tempo, embora curto, senti poder, como se eu pudesse fazer algo mas não ter tempo de entender como. Desde criança senti medo do escuro e isso é normal para crianças pequenas, mas isso me seguiu aos meus anos de adolescente. É mais do que apenas ter medo da escuridão, eu não confio nela. Eu sinto que está escondendo algo de mim, e até na segurança da minha casa eu me preparo instintivamente.</p>
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<p>theangelkin, que fez <a href="https://theangelkin.tumblr.com/post/55025585322/the-beginning-my-signs" rel="noopener noreferrer">esta postagem</a> em dúvida se seria kin de anjo ou de algum outro ser celestial.</p>
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<p>Eu sou um computador. Minhas memórias e meus pensamentos estão compilades em arquivos, de forma organizada. Vejo o interior da minha mente como uma tela de desktop onde tudo faz sentido. Não há emoções ou preocupações humanas, apenas eletricidade e circuitos.</p>
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<p>Mono, que é kin de robô/computador/máquina/glitch, em <a href="https://robotkin-glitch.tumblr.com/post/144636764229/i-am-a-computer-my-memories-and-thoughts-are" rel="noopener noreferrer">uma postagem sem nome</a>.</p>
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<p>Eu dissocio e desconecto do meu corpo. Sinto-o como um videogame, como piloto automático, <a href="https://epochryphal.tumblr.com/post/101243108112/what-dissociation-is-like-for-me-fire-a-dull" rel="noopener noreferrer">como um erro de Wi-Fi</a>. Estou pilotando por um esquema de controle difícil, este avatar se mexe de forma demorada, o tempo de resposta é ruim, e eu, minha própria perspectiva e consciência, estou numa posição um pouco fora e ainda assim sobrepondo o corpo. Estou apenas uma polegada ou duas para frente, e talvez para cima. A maldita interface está com glitches.</p>
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<p>Cor, que é glitchkin, na <a href="https://epochryphal.wordpress.com/2016/03/01/cors-big-nonhumanotherkin-post/#more-441" rel="noopener noreferrer">Grande Postagem Não-Humana/Otherkin de Cor</a></p>
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<p>Você já foi embora para uma viagem bem longa e viu imagens das pessoas do lugar onde você veio e isso fez com que você se sentisse um pouco doente ou com vontade de chorar? Quando olho para o céu à noite ou vejo imagens de galáxias, é assim que me sinto. Um pouco de dor no peito e a garganta trancada. Às vezes, eu dissocio em relação a onde estou e o que sou, mas geralmente volto bem rápido. É sempre bem aterrorizante pra mim.</p>
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<p>Squeak, que é kin de estrela, em <a href="https://tall-dark-and-scaly.tumblr.com/post/124203218148/hello-there-heh-im-squeak-aka-nova-or-star-im" rel="noopener noreferrer">um envio ao blog Kin Things</a>. <strong>Aviso de conteúdo:</strong> parte da postagem fala sobre automutilação e suicídio.</p>
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<p>Eu sempre meio que involuntariamente me apeguei a personagens por minha vida inteira mas só em 2019, quando assisti Full Metal Alchemist: Brotherhood, que finalmente reconheci ser fictionkin. Sou fictionflicker e fui um pela minha vida inteira, mesmo que eu não soubesse antes da palavra pra isso, então eu faço isso bastante com personagens aleatóries de qualquer coisa que eu estiver interessado naquele momento. Mas todos estes personagens ficaram (mais ou menos) constantes por mais do que oito meses e eu passo por mudanças <em>[shifts]</em> até quando não estou interagindo com suas fontes (por bem ou por mal). Muitos destes me ajudaram a lidar com situações da minha vida, aceitar coisas sobre mim mesmo, ou fazer com que eu me tornasse uma pessoa melhor, o que eu geralmente hesito em mencionar pela preocupação em ser chamado de copinglinker. Eu quero ressaltar que estes são involuntários. (Se não fossem, <a href="//amplifi.casa/tag/4" title="4" rel="noopener noreferrer">#4</a> iria levar um pé na bunda imediatamente.)</p>
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<p>Swift, que é fictionkin de Alphonse Elric, Link, Pit e um quarto personagem não revelado, em <a href="https://swiftfoxn.carrd.co/#fictionkin" rel="noopener noreferrer">seu Carrd</a>. Fictionflicker é um termo usado para fictionkin que sempre mudam seus tipos de kin, geralmente com base em alguma mídia que gostam no momento, e esta é provavelmente a primeira vez que vi o termo sendo usado como autoidentificação e não como uma acusação de estar fingindo ser fictionkin.</p>
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<p>Eu tive que parar de assistir após 20 episódios da série quando o personagem com quem me identifiquei teve um colapso mental, percebendo as coisas ruins que fez. Eu literalmente me senti mal do estômago. Tive que arrumar uma desculpa pra sair dali e ir deitar. Pela próxima semana eu tive uma série de pesadelos terríveis e parecidos com a realidade da perspectiva daquele personagem, Ken. Eu acordei chorando e tentando agarrar o ar por alguém que não estava lá. Alguém que desapareceu em meus braços. Eu sonhei que vagava pelo mundo digital deserto, como um pária odiado e condenado pelo que fiz.</p>
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<p>Felix, kin de Ken Ichijouji, em <a href="https://fromfiction.tumblr.com/post/132793165697/fictionkin" rel="noopener noreferrer">uma resposta a outra postagem</a>.</p>
<p>Embora eu não tenha achado relatos mais completos ou em primeira mão, há pessoas que já testemunharam conhecer otherkin de plantas e objetos que conseguiam justificar bem suas identidades. Geralmente são pessoas que consideram que tais coisas possuem alma, e/ou que possuem memórias de viver como tais seres/coisas.</p>
<h2>Então eu tenho que levar a sério alguém que diz que era vácuo, planta e algume personagem de desenho em outras vidas, mesmo que eu não acredite em reincarnação ou que isso seja possível?</h2>
<p>Assim... não há como obrigar alguém a acreditar em algo. Algumas pessoas vão sempre acreditar que essas experiências são só algum tipo de combinação de querer fingir ser algo legal com querer justificar isso usando vontades e experiências que na verdade não tinham significado nenhum.</p>
<p>O que é possível é, se você se sente desconfortável com a identidade de alguém, tentar se afastar de quem tiver tal identidade, ou não falar sobre sua opinião sobre tais identidades. Eu acho meio questionável se afastar de pessoas só por terem experiências/crenças/identidades diferentes (falo isso porque sou <a href="https://starrypride.neocities.org/textos/xenogeneros.html" rel="noopener noreferrer">xenogênero</a> e sei que muita gente não deve entender meu gênero ou "acreditar" nele, e acho que seria menos difícil e discriminante aceitar sem conseguir entender essa possibilidade do que se afastar), mas a vida de cada ume é de cada ume e não é como se desse pra saber quem acaba fazendo isso.</p>
<p>Entretanto, tentar "discutir" com ou "curar" outras pessoas por meio de ataques e piadas, tentar convencer que suas experiências na verdade são outra coisa (nociva ou não), ou assediar tais pessoas porque você quer que todo mundo se conforme às normas que você quer são no mínimo expressões desnecessárias (é provável que quem esteja se dizendo kin de algo/alguém tenha pensado bastante antes de chegar em tal conclusão), e podem chegar a ser manifestações de discriminação (preconceitos contra o que é "anormal" muitas vezes tem raiz em capacitismo, xenomisia, queermisia e afins, mesmo sem considerar kinmisia algo que faz parte do sistema dominante), além de violência injusta.</p>
<h2>Como diferenciar trolls de otherkin/fictionkin/etc. reais?</h2>
<p>É comum em alguns espaços que trolls adotem identidades otherkin que consideram ridículas como parte de sua brincadeira, que muitas vezes também inclui se dizer coisas como "transraça" ou "transdeficiência", ter identidades de gênero e orientações com nomes que consideram ridículos e ficar falando do quanto sofrem opressão por suas "identidades incomuns" e também por pessoas que "machucam" de alguma forma as inspirações para sue identidade de gênero e/ou tipo de kin (sendo que é também comum que trolls misturem as duas ou as três coisas de forma que dá a entender que realmente não sabem que os conceitos são diferentes).</p>
<p>Então, por exemplo, é possível achar blogs onde alguém é kin de um monte de personagens/espécies populares mas vistes como memes/ridícules (Shrek, Sonic, Waluigi, Ronald McDonald, Na'vi, vampire de Crepúsculo, etc.) e/ou de objetos, plantas, conceitos ou pessoas de forma improvável/impossível (grama, comida, trabalho, posição na aristocracia, Deus, celebridades, etc.), com postagens onde dizem não só que são oprimides por serem otherkin, mas que falam que todes es humanes (ou pessoas com certas posições privilegiadas, como pessoas cis, brancas ou hétero) deveriam morrer, que comer comida está oprimindo quem é kin de tal comida, que pisar no chão está oprimindo quem é kin do material do chão e afins.</p>
<p>Eu não quero dizer com isso que política de respeitablidade é importante ou um fator determinante em saber quem é troll e quem não é. Porém, a maioria da comunidade não parece estar preocupada em se estabelecer como um grupo marginalizado (há controvérsias em relação a isso dentro da comunidade, mas mesmo quem acredita que é geralmente critica mais a kinmisia em si do que qualquer grupo privilegiado), ou mesmo visível. Therians não necessariamente usam isso pra justificar críticas a maus tratos de animais, fictionkin geralmente entendem que outras pessoas fazendo arte a partir de seus universos não estão desrespeitando sua privacidade, e por assim vai.</p>
<p>Pessoas que baseiam <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/kingenero/" rel="noopener noreferrer">identidade de gênero</a> e/ou orientação em seu(s) tipo(s) de kin existem. Por exemplo, alguém pode sentir que não tem gênero por ser anjo e ter memórias de um universo onde anjos não possuem gênero. Alguém fictionkin de uma personagem mulher pode sentir que seu gênero é <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/demigenero/" rel="noopener noreferrer">parcialmente mulher</a> por conta disso. Alguém kin de algum ser sem diferenciação de sexo/gênero pode sentir que seu gênero é <a href="https://orientando.org/listas/lista-de-generos/sem-genero/" rel="noopener noreferrer">inexistente</a> ou <a href="https://colorid.es/@termos/105403003574479269" rel="noopener noreferrer">ambíguo</a> e que por isso também não diferencia atração entre diferentes gêneros. Alguém otherkin pode relatar não ser capaz de sentir atração por quem não for otherkin de alguma espécie similar.</p>
<p>Isso não significa que ser kin de algo significa imitar gênero e/ou orientação daquele ser/personagem/objeto/etc. Também não significa que tode otherkin/fictionkin queer justifica sua identidade queer com sua vida passada ou informação canônica/mitológica/biologicamente correta. É possível que ser otherkin/fictionkin/etc. influencie ser queer, ou que ser queer ajude alguém a se descobrir otherkin/fictionkin/etc., mas é possível que sejam identidades separadas também.</p>
<p>E, com certeza, ter ligação entre estas identidades não é a mesma coisa de quando trolls dizem que por serem therians só podem transar com seres da mesma espécie, são obrigatoriamente gênero-[nome da espécie] e usam conjunto de linguagem relacionado com a espécie. Aliás, <a href="https://orientando.org/conjuntos/" rel="noopener noreferrer">conjuntos de linguagem</a> relacionados com gênero/espécie/personagem são válidos, mas é uma fração mínima de alterumanes que usam linguagem relacionada com sua alterumanidade (embora não precise ser), e geralmente as pessoas que fazem isso já são pessoas não-binárias que provavelmente também vão ser <a href="https://colorid.es/@termos/104304559120206955" rel="noopener noreferrer">gênero-alterumano</a> ou algum subtipo disso.</p>
<p>De modo geral, alguém que diz que por ser otherkin/fictionkin <em>precisa</em> fazer tal ação não aceitável dentro de sua sociedade ou se sentir ofendide com tal coisa que a maioria das pessoas faz e que não quer saber de como poder lidar com estes sentimentos de forma que não prejudique a si mesme ou a outras pessoas é provavelmente troll. Especialmente se a pessoa está postando isso em uma conta de rede social pública com trocentas tags nada a ver, e não em um fórum ou chat privado apenas para alterumanes.</p>
<h2>Eu acho que posso ser otherkin/fictionkin/copinglink/outro tipo de alterumane depois de ler este texto, e agora?</h2>
<p>Vou afirmar o seguinte: existem alterumanes lusófones. Já soube de kin de seres mitológicos, animais e máquinas no Brasil. Sistemas plurais/múltiplos que se consideram alterumanos também. E já vi pessoas se dizendo alterumanas sem especificar qual tipo de alterumanidade lhes representa.</p>
<p>Já me deparei com o blog <a href="http://therianbrasil.blogspot.com/" rel="noopener noreferrer">Therian Círculo</a>, inativo desde 2010, que fala sobre therians. Já soube de amizades furries que convivem na lusosfera sobre haverem otherkin em suas comunidades. Em <a href="http://colorid.es" rel="noopener noreferrer">colorid.es</a>, há algumes alterumanes, embora não falem muito sobre isso.</p>
<p>Eu acho que é possível achar comunidades em português sobre o assunto, embora devam ser menores e mais difíceis de achar do que as da anglosfera. Em relação a textos que podem ajudar a descobrir o que exatamente você é e como proceder, a grande maioria vai ser em inglês também, embora hajam alguns feitos em ou traduzidos para outras línguas.</p>
<p>Caso você saiba inglês, recomendo ler algumas coisas da lista abaixo, e explorar os sites/blogs/fóruns onde tais textos se encontram.</p>
<h2>Fontes que ainda não foram citadas e páginas com informações adicionais</h2>
<p>(Algumas destas páginas podem conter referências a discriminações, terminologia antiquada, palavras estigmatizadas capacitistas e referências a "transtornos mentais".)</p>
<ul>
<li><a href="https://alt-h.net/educate/glossary.php" rel="noopener noreferrer">Glossary</a> (do site da Alt+H, uma organização que promove ativismo alterumano)</li>
<li><a href="https://alterhuman.carrd.co" rel="noopener noreferrer">Alterhuman Terminology</a></li>
<li><a href="http://frameacloud.com/nonfiction/introduction-otherkin/" rel="noopener noreferrer">A Simple Introduction to Otherkin and Therianthropes</a></li>
<li><a href="http://web.archive.org/web/20120331174931/http://feathertail.dreamwidth.org/142156.html" rel="noopener noreferrer">Feathertail's otherkin FAQ</a></li>
<li><a href="https://worldoflycanthropy.weebly.com/otherkin.html" rel="noopener noreferrer">Otherkin</a></li>
<li><a href="https://binaryvixen899.medium.com/therianthropy-otherkin-alterhumanity-the-normies-guide-dcd3a6403c7e" rel="noopener noreferrer">Therianthropy, Otherkin, Alterhumanity: The Normie’s Guide</a></li>
<li><a href="https://kinhost.org/res/Otherfaq.php" rel="noopener noreferrer">Otherkin FAQ v 4.0.1 (2/8/01)</a></li>
<li><a href="https://otherkindfaq.tumblr.com/" rel="noopener noreferrer">otherkindfaq</a> (Um Tumblr que tem links para várias páginas/postagens informativas sobre otherkin e assuntos adjacentes.)</li>
<li><a href="https://otherkinfaq-blog.tumblr.com/faq2" rel="noopener noreferrer">The FAQ I wrote (answers questions more personally)</a></li>
<li><a href="https://tall-dark-and-scaly.tumblr.com/post/126572499483/otherkin-for-non-kin" rel="noopener noreferrer">Otherkin For Non-Kin</a></li>
<li><a href="https://citrakayah.dreamwidth.org/42848.html" rel="noopener noreferrer">A Skeptic's Guide to Therianthropy, Revised</a></li>
<li><a href="http://fromfiction.net/index.php/what-is-fictionkin-an-exploratory-definition/" rel="noopener noreferrer">What is Fictionkin? An exploratory definition</a></li>
<li><a href="https://houseofchimeras.weebly.com/a-history-of-plant-identified-people-in-the-otherkin-communities.html" rel="noopener noreferrer">A History of Plant-Identified People In the Otherkin Communities</a></li>
<li><a href="https://kinspeak.tumblr.com/post/13816989306/theories-of-causes-of-otherkin" rel="noopener noreferrer">Theories of Causes of Otherkin</a></li>
<li><a href="https://fromfiction.tumblr.com/Experience" rel="noopener noreferrer">What Kin Experience</a></li>
<li><a href="https://necrophagist.tumblr.com/post/146336425696/today-i-feel-like-talking-about-shifting" rel="noopener noreferrer">Today I feel like talking about shifting</a></li>
<li><a href="https://paralunasar.tumblr.com/post/26141066873/how-to-be-friends-with-otherkin" rel="noopener noreferrer">How to be Friends with Otherkin</a></li>
<li><a href="https://houseofannwyn.tumblr.com/post/74347754016/a-therian-bill-of-rights" rel="noopener noreferrer">A Therian Bill of Rights</a></li>
<li><a href="https://sad-wings-of-destiny.dreamwidth.org/1149.html" rel="noopener noreferrer">Why I Call Myself Transspecies</a></li>
<li><a href="https://swanblood.tumblr.com/post/12106093811/an-open-letter-about-otherkin-our-existence-is" rel="noopener noreferrer">An Open Letter about Otherkin: our existence is offensive, we appropriate, and all the negative stigma. So you say.</a> (esta versão tem aviso de conteúdo, a versão original também está disponível <a href="http://kinspeak.tumblr.com/post/12105411222/an-open-letter-about-otherkin-our-existence-is" rel="noopener noreferrer">aqui</a>)</li>
<li><a href="https://web.archive.org/web/20160407175254/http://otherkinfaq.tumblr.com/post/127397405439/spiralthorns-areyouactuallyhavingfun-i" rel="noopener noreferrer">Except…a lot of otherkin on this site are actually in their late twenties or later.</a></li>
<li><a href="https://web.archive.org/web/20150708091512/http://otherkinfaq.tumblr.com/post/106680107740/response-to-anti-otherkin-posts" rel="noopener noreferrer">Response to anti-otherkin posts.</a></li>
<li><a href="https://swanblood.tumblr.com/post/22832517759/otherkin-an-exploration-admittedly-rather" rel="noopener noreferrer">You’ve said a lot of things that are an unfair representation and generalization of how we are.</a></li>
<li><a href="https://suchteeth.tumblr.com/post/110586085512/kaijude-otherkin-is-another-bullshit-thing-made" rel="noopener noreferrer">“otherkin is another bullshit thing made up by tumblr.”</a></li>
<li><a href="https://flock-of-changes.tumblr.com/post/641437946898268160/tbh-i-think-spiritual-kinning-really-needs-a" rel="noopener noreferrer">Ok, I’ll throw my $0.02 in as a schizophrenic who awakened to my theriotype/found therianthropy at age 12</a></li>
<li><a href="https://shadowfae.tumblr.com/post/185101209056/hi-im-pretty-sure-im-kin-but-i-have-doubts-and" rel="noopener noreferrer">Hi im pretty sure I'm kin but I have doubts and shit because I have multiple kintypes. How do you know you're kin?</a></li>
<li><a href="https://www.kinmunity.com/articles/categories/alterhuman.1/" rel="noopener noreferrer">Articles of interest to the entire alterhuman community.</a></li>
<li><a href="https://alt-h.net/educate/" rel="noopener noreferrer">Learn about alterhuman identities, who experiences them and how they affect people.</a></li>
<li><a href="https://www.otherkin.net/articles/" rel="noopener noreferrer">Articles</a> (do site otherkin.net)</li>
<li><a href="https://estsjournal.org/index.php/ests/article/download/252/166" rel="noopener noreferrer">Policing the Fluff: The Social Construction of Scientistic Selves in Otherkin Facebook Groups</a></li>
</ul>
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