A primeira coisa que muita gente pensa quando ouve a palavra "paganismo" é "Wicca". Enquanto por um lado essa associação está certa porque Wicca é uma religião pagã, ela também é equivocada porque nem toda religião pagã é Wicca.
O paganismo é, na verdade, um contínuo. Dentro dele estão todas as religiões que não são abraâmicas, isto é, que não são as religiões monoteístas que derivam de Abraão, o personagem bíblico do Gênesis. As religiões abraâmicas são o judaísmo, cristianismo e islamismo. A palavra "pagão" é, na verdade uma adaptação da judaica "gentio", que significa "não-judeu". Sendo assim, "pagão" significa "não-cristão". Mais recentemente, a palavra serve para conotar religiões que acreditam na sacralidade da natureza também.
Dentro do paganismo temos outras divisões de religião, como as Dármicas (hinduísmo, budismo, etc); as Irânias (do Irã, como o Zoroastrismo); as Taoicas (Zen, Taoismo, etc), além de outras que têm suas próprias categorias, como as africanas – que são muitas para nomear. O paganismo do qual eu vou falar aqui é denominado "neopaganismo".
O neopaganismo surgiu como uma espécie de "estética" junto do Romantismo no século XVIII, na Europa, com a descoberta de textos de sociedades antigas que habitavam o norte do continente na era pré-cristã. Já no século XX, ele veio como um movimento religioso, não só pelo declínio do cristianismo, mas também como uma espécie de contracultura. Com a ascensão do neodrudismo nos anos de 1970 e 1980, as religiões pagãs se popularizaram, dando origem à diversos caminhos novos.
A Wicca nasceu na década de 1950, influenciada pelo feminismo. A razão pela qual todo mundo pensa em Wicca quando se diz "paganismo" é porque ela foi uma das primeiras religiões neopagãs que surgiram. A Wicca acredita na sacralidade da mulher e da natureza, além de seus adeptos serem praticantes de bruxaria e magia. Mas, como nem toda religião pagã é Wicca, nem toda religião pagã envolve bruxaria.
Existem duas formas de expressão do neopaganismo: a eclética e a reconstrucionista. A eclética é a mais “geral”, digamos, porque ela envolve diversas crenças diferentes, e muitos de seus praticantes são bruxos. O neo-paganismo eclético é o que chamamos de "sincrético" pela união de deuses de panteões diferentes a um único e pessoal, que varia de pessoa a pessoa. Este "caminho" – termo que seria um sinônimo brando de "seita" – é o mais comum, uma vez que é o que se pode seguir sozinho, e nenhum "caminho" é igual a outro.
O reconstrucionismo, por outro lado, é um caminho mais "conservador". Seu objetivo é reconstruir as tradições antigas no mundo moderno: tanto o credo quanto os rituais. Reconstrucionistas, aliás, não gostam que apliquem o termo "pagão" ou "neopagão" a eles, porque o uso dessas palavras é um anacronismo, uma vez que elas surgiram depois do advento das religiões pré-cristãs; reconstrucionistas geralmente também não encorajam a prática de bruxaria. Um exemplo de reconstrucionismo é o Dodecadeísmo, também conhecido por "Helenismo". Existem maneiras de ser reconstrucionista e ser sincrético também: o neo-alexandrismo é um exemplo disso, tendo como base tanto o dodecadeísmo quanto a religião egípcia antiga.
Não existe maneira certa de ser pagão – como eu disse, cada caminho é único, e os praticantes (geralmente) respeitam uns aos outros.
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