Comendo mato

Por que comemos comida do outro continente e não o mato que brota atrás de casa?

Pare e olhe para seu café da manhã, almoço, jantar. De onde vem a comida que você come? Muitas viajaram centenas ou até milhares de quilômetros até chegar à sua mesa. Enquanto isso, deixamos de comer preciosidades nativas ou mesmo exóticas, mas que nascem em volta de onde moramos e tornam quase espontâneas... Por que comer trigo diariamente se a mandioca e a batata doce crescem facilmente por aqui, sem nem precisar de adubo nem nada? Desde que comecei a enterrar o "lixo" orgânico no quintal de casa, muitas comidas que como começaram a nascer, assim, que nem mato. Mamão, tomate, batata doce, inhame, abóbora, melão, abacaxi, abacate, manga etc. Simplesmente nasce, sem pedir licença. É o "mato" que nasce aqui em casa. Faça o teste: enterre cascas, sementes e restos de comida no seu quintal (de origem vegetal). Prepare-se para começar a comer coisas brotadas no quintal, com pouco esforço.

Isso sem falar nas chamadas PANCs, as Plantas Alimentícias Não Convencionais. Segundo o Valdyr Knupp, que fez um livro sobre as PANCs e cunhou o termo, a humanidade concentra sua alimentação em não mais que de 100 espécies, quando mais de 10.000 são potencialmente comestíveis. Disso deriva uma monotonia alimentar, que se traduz em corpos mais débeis, com baixa resistência a doenças e viciado em medicinas industrializadas... sem falar na tristeza de uma mente menos saudável.

Morando no cerrado há poucos anos, conheço muita gente daqui que nunca comeu um jatobá - mas adora hamburguer com pão. Nunca provaram pupunha ou gueroba, tampouco tomaram um suco de mangaba. Qual a lógica? Claro, a lógica é a do capital. Interessa se for mercadoria.

Mas pare para pensar: se eu plantar meu mamão, não preciso comprar de alguém, não preciso tragar litros de agrotóxicos, não preciso de adubos químicos feitos em usinas poluidoras... e não preciso trabalhar para conseguir o dinheiro daquele mamão. Quando conseguirmos plantar a maior parte do que comemos, faremos o "mercado" numa troca nossos vizinhos. Comeremos manga no tempo da manga - ou então comendo manga desidratada. Comeremos mangarito, inhame e chuchu nascidos como mato. Viveremos novamente como índios =).