Vento

O vento estivera esquisito durante todo o verão, os sons haviam mudado, algo não estava nos lugares de antes, todos sentiam que alguma coisa poderia acontecer, não sabíamos o que.

Os incêndios vêm se multiplicando, a terra mais seca e o vento forte faz o fogo avançar sem obstáculos. Há fome, sede e desespero, levas de “refugiados do clima”, assim são chamados.

De longe às vezes passam viajantes, também fugitivos, transmitindo alarmes sobre as coisas mundo afora. A vida pacata aqui nas terras altas vive mudanças que jamais imaginávamos. Com esforço nossos estoques de comida estão equilibrados, o plantio deste ano será um pouco maior, depois que as ferramentas criadas no último inverno deitarem no chão.

Em meio a mudanças que nem entendemos direito, mesmo sabendo que nosso "refúgio" não é inatacável, sentimos que tem sido nossa ajuda mútua,o respeito e os afetos construídos nesses anos os responsáveis pelo nosso bem-estar.

Não sabemos de tudo, sobre o que poderá acontecer, mas temos certeza que estaremos melhor aqui, junto da terra, dos brotos, ramas e raízes, de tudo que encontramos aqui e respeitamos,cada árvore amiga que plantamos ou simplesmente deixamos em paz. Existe vida cá aonde estamos, sobreviveremos.

A tarde já está caindo, o vento sopra de todas as direções, meio bravo e misterioso, ventania diferente. Vou pela estrada que dá em casa tocando as cabras que pastaram mais acima, elas saltam e dão carreiras, e alheias a tudo parecem expressar contentamento por estarem vivas.